Não encontrei Steven na manhã seguinte, porque sai cedo para o trabalho e ele ainda não havia levantado. Mas ele deixou claro que iríamos até a casa do meu pai em breve. Não estava tão segura quanto a isso, mas ele parecia mais do que decidido. Acho que se eu falasse não, ele iria sozinho da mesma forma.
Depois de uma longa manhã de trabalho, em que eu evitei ao máximo falar sobre o incidente do cemitério com Ava, porque já sabia o que ela diria, fui pra universidade e passei todas as aulas pensando em Steven e na forma como ele cuidou de mim depois do meu momento mais tenebroso da vida.
Quem é tão burro a ponto de dormir em um cemitério e ficar preso lá a noite? Eu mesma, Catalina Scott.
Tirei os fones de ouvido, abrindo a porta do casarão com vontade de me enfiar embaixo das cobertas e não sair mais de lá. Olhei para o quadro de avisos na parede, vendo o recado que eu mesma havia anotado ali na noite anterior antes de dormir.
"Cuidado com a porta aberta. Elvis estava no jardim da frente quando cheguei. C. S."
—Elvis, Elvis... —Soltei uma risada, porque acho que nunca me acostumaria com aquilo. —Ah, você está aqui também.
Me abaixei e peguei Madonna no colo quando ela apareceu saltitante no início das escadas. Fiz carinho na cabeça dela, sentindo o pelo macio e bem cuidado. O coelho em encarou enquanto seu nariz se movia de forma engraçada ao respirar. Ela estava sempre no jardim lá de trás, correndo pela grama. Tinha uma casinha roxa em um canto do jardim, junto com vários brinquedos. Era fofo e engraçado.
Soltei ela no chão e subi as escadas, já podendo ouvir as gargalhadas de Elisa, junto com a voz de Nicholas, Karen e outra masculina que eu não conhecia. Quando passei no corredor a porta do quarto dele estava aberta e eu os vi. Karen estava sentada na ponta da cama, enquanto Nicholas estava no meio dela com Elisa no colo. E havia um homem de pé na ponta da cama.
—Lina, oi! —Karen sorriu assim que me viu, me fazendo voltar até a porta.
—Oi, não queria atrapalhar. —Falei, abrindo um sorriso para Elisa quando ela gritou assim que me viu e se arreganhou toda.
—Você não atrapalha, que isso. —Karen balançou a cabeça negativamente e indicou o homem. —Esse é o Luc, meu marido. Querido, essa é a Catalina.
O advogado. O advogado que eu tanto precisava.
—É um prazer. Minha esposa contou que eles haviam alugado o quarto pra você. —Luc se virou pra mim e abriu um sorriso simpático.
—Foi indicação de uma das suas funcionárias. Devo um obrigado a ela. —Falei, porque certamente agradeceria a irmã de Jimmy se pudesse.
—Os dois vão sair pra jantar e todo casarão está convocado para ajudar a cuidar do bebê. —Nic se levantou com Elisa no colo, olhando pra mim. —Você também.
—Lina, confio em você pra me ligar caso o casarão pegue fogo. —Karen afirmou, ficando de pé enquanto eu soltava uma gargalhada.
—Ligarei primeiro pra você e depois pra polícia. —Prometi, vendo o sorriso que estava no rosto dela quando segurou a mão de Luc.
—Nós já vamos. Voltamos pra pegar ela mais tarde. —Luc murmurou, e eu sai da porta quando percebi que eles iriam sair. Observei ele é Karen darem um beijo em Elisa, que agora estava mordendo a camiseta de Nicholas e deixando uma mancha de baba pelo caminho.
—Bom jantar, pombinhos. —Nic gritou quando eles desceram as escadas depois de terem se despedido de nós. —Tudo bem, Lina?
—Tudo, só estou exausta. —Passei a mão no cabelinho de Elisa, enquanto ela ainda estava agarrada a Nicholas.
—Eu também. A universidade tá sugando minha alma. Vou ver se a Elisa dorme um pouco. —Ele se despediu de mim, entrando de volta no quarto com ela.
Entrei no meu próprio quarto, jogando a mochila no chão, seguindo com os olhos o mini porco que saiu de baixo da minha cama e passou correndo por mim antes de entrar no quarto de Yuri e Yasmin.
—Oi pra você também, Elvis. —Murmurei, puxando meu celular e vendo que Nic havia enviado uma mensagem no grupo pedindo silêncio por conta de Elisa. Olhei a hora, engolindo em seco quando senti vontade de fazer algo que não deveria. —Se eu for mais cedo, não corre risco de eu ficar presa lá de novo.
[...]
Enfiei meu celular e o livro dentro da mochila, antes de abrir a porta e sair para o jardim em frente a casa. Quase tive um infarto quando dei de cara com Steven todo vestido de preto, com uma touca na cabeça, me encarando com as sobrancelhas erguidas.
—Ta indo pro seu encontro romântico diário? —Indagou, enquanto colocava a mochila nas costas.
—Não. —Menti, comprimindo os lábios quando ele ergueu ainda mais as sobrancelhas e tombou a cabeça de lado. —Eu não vou ficar presa lá de novo.
—Essa não é a questão. —Ele balançou a cabeça negativamente. —Você não vai no cemitério hoje.
—Ah, não vou? —Soltei uma risada, cruzando os braços. —Você não deveria estar no estúdio?
—Eu sou o chefe, posso faltar quando eu quiser. —Afirmou, me fazendo rir, antes de apontar para o carro preto na entrada. —Você não vai no cemitério hoje, Cat. Vai sair comigo.
—O que? —Soltei o ar com força, sentindo meu coração disparar dentro do peito enquanto o observava atravessar o jardim até o carro.
—Você. Vai. Sair. Comigo. Hoje. —Falou pausadamente, abrindo a porta do passageiro e indicando com a mão que eu entrasse, já que eu ainda estava imóvel na frente da casa.
—Mas.... mas... Como assim? Por que isso? —Indaguei, caminhando até onde ele estava.
—Você precisa se distrair e fazer coisas diferentes. Vamos dar uma volta na cidade e fazer qualquer coisa aleatória que quisermos. —Afirmou, e eu parei na frente de, sem fazer menção de entrar no carro. —E depois eu e você temos uma investigação pra fazer.
—Ah, não. Você quer ir até a casa do meu pai hoje?
—Sim, depois que todos forem dormir. —Deu de ombros, como se fosse a coisa mais natural do mundo. —Entra no carro, Cat.
—Mas... —Hesitei, olhando para a porta aperta que ele ainda segurava e depois para os olhos dele, sentindo um frio enorme na barriga. —Preciso ir no cemitério, Steven. Preciso mesmo ir.
—Não, você não precisa. —Ele soltou a porta e se virou pra mim, encarando meus olhos. —Cat, desculpa falar isso pra você dessa forma, mas o seu pai morreu, está bem? Ele não vai voltar. Não importa quantas vezes você vá naquele cemitério, ele não vai voltar. —Meu peito doeu e minha garganta se fechou. Steven pareceu notar a mudança, já que segurou minha mão com carinho. —Me desculpa, Cat. Eu sei que está sentindo falta dele. Mas ele realmente se foi. Precisa seguir sua vida. Ficar indo até lá todos os dias não está fazendo bem a você. Não estou falando isso pra te machucar, por mais doloroso que seja ouvir. Eu só me preocupo com você,
—Eu sei. —Balancei a cabeça, porque sabia que ele estava sendo sincero. E por mais que as palavras dele cortassem minha alma, eu sabia que ele tinha razão. Meu pai não ia voltar, não importa quantas vezes eu fosse lá. —Mas...
—Entra no carro, Cat. Prometo distrair você a noite toda. —Steven pediu, apertando minha mão e me olhando com uma expressão adorável.
Soltei a mão de Steven e entrei no carro, observando o sorriso imenso que se abriu no rosto dele quando o mesmo fechou a porta. E por mais louco que parecesse, eu abri um sorriso imenso também.
Continua...
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Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2
RomanceCatalina Scott não é a branca de neve, que come maçãs envenenadas e precisa que um príncipe encantado a salve. Mas quando sua madrasta a expulsa de casa logo após a morte do seu pai, alegando ter herdado tudo do marido, Catalina se vê obrigada a ir...