Capítulo 13: A não ser que mortos saibam flertar.

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Steven ficou me abraçando apertado, acariciando meus cabelos enquanto eu chorava no seu colo. Não disse absolutamente nada por longos minutos, parecendo estar perdido nos próprios pensamentos. A chuva ainda estava caindo do lado de fora, batendo contra as janelas do carro.

—Me desculpa por estragar a sua noite. —Falei, com a voz saindo abafada por conta do meu rosto estar escondido no peito dele.

—Você não estragou nada. Eu estava saindo do estúdio quando me ligou. —Ele tirou os cabelos molhados do meu rosto quando eu me afastei pra olhar pra ele. —Fico feliz que tenha me ligado. Mas também estou preocupado com você, Lina.

—Eu estou bem. Foi só o susto. —Balancei a cabeça negativamente, me mexendo para voltar para o meu banco, já que agora o fato de estar no colo dele me deixou sem graça pela primeira vez. Mas Steven me segurou, me puxando para outro abraço.

—Não foi só o susto. Você está vindo todo dia aqui, Lina. Você dormiu no cemitério. Isso não é normal. —Meu rosto esquentou quando ele deixou um beijo na minha testa, ficando com os lábios colados ali. Voltei a chorar, porque sabia que eu precisava parar com aquilo, por mais que não conseguisse. —Ei, está tudo bem. Não fica assim. Você não está mais presa lá dentro e também não está sozinha.

—Obrigada por ter vindo. —Afirmei, passando os braços ao redor dos ombros dele para abraçá-lo de verdade, sentindo o perfume dele acalmar meu coração que ainda estava doendo de tão acelerado.

—Tudo bem, Cat. Está tudo bem. —Ele me apertou contra si, me deixando chorar o quanto eu quisesse. —Vamos pra casa. Você está toda molhada e tremendo. Quando chegarmos vamos conversar e você vai me contar tudo, pode ser?

—Pode ser. —Murmurei, saindo do colo dele e indo para o banco do passageiro. Coloquei o cinto sobre o olhar atento e preocupado dele, vendo-o ligar o ar quente e então por o próprio cinto para que fôssemos pra casa.

[...]

Encarei meu reflexo no espelho do banheiro enquanto secava meus cabelos com a toalha. Estava com os olhos vermelhos e o rosto um pouco inchado do tempo que fiquei chorando. Já havia me acalmado do susto, mas estava envergonhada por ter conseguido ficar presa lá e Steven ter presenciado todo meu momento de vulnerabilidade. Era exatamente por isso que eu estava evitando todos eles. Mas pelo menos, não havia ninguém em casa quando chegamos.

—Lina, quando estiver pronta vai pro meu quarto. —Steven bateu na porta do banheiro, me fazendo engolir em seco.

—Eu já vou. —Terminei de secar meus cabelos, percebendo o quão desanimada eu estava naquele momento. Talvez a conversa com Ava mais cedo fosse o sinal de que hoje ia dar tudo errado. Eu deveria dar mais ouvidos pra ela.

Sai do quarto, sentindo o cheiro de comida impregnado no corredor. A porta do quarto de Steven estava aberta, mas ele não estava ali. Cruel estava dormindo no meio da cama, parecendo uma bolinha cinza peluda. Me sentei na ponta da cama, olhando para as paredes cheia de desenhos, percebendo que Steven tinha muito talento.

—Já pensou em fazer alguma tatuagem? —Levei um susto quando vi que Steven estava na porta do quarto me observando com as sobrancelhas erguidas, enquanto segurava um prato fumegante nas mãos.

—Nunca. Não tive muito contato com tatuagens até conhecer você. —Dei de ombros, vendo ele fechar a porta com o pé e caminhar até onde eu estava, me entregando um dos pratos. —Você cozinha também?

—Claro. Um pacote de sopa, água quente e uma panela. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada, enquanto cutucava o macarrão da sopa com a colher. —Então, como você está?

—Mais calma. Obrigada por aquilo. —Falei, umedecendo os lábios com a língua, me sentindo tímida ao sentir os olhos dele sobre mim quando se sentou na sua escrivaninha. —Estou um pouco constrangida agora.

—É, não é todo dia que me ligam me pedindo pra tirar alguém do cemitério. —Ele balançou a cabeça negativamente, me observando começar a comer a sopa. —Achei que alguém tinha trancado você lá dentro.

—Por que alguém me trancaria lá dentro? —Fiz uma careta, erguendo os olhos pra ele. Steven apenas me encarou em silêncio, me deixando mais envergonhada ainda.

—Tem que concordar comigo que faz muito mais sentido alguém ter trancado você lá do que você ter dormido no cemitério e pedido a hora. —Ele tombou a cabeça de lado, fazendo meu coração dar uma cambalhota no peito com o sorriso de canto que surgiu nos lábios dele.

—Você ficou assustado quando contei. —Comentei, lembrando da expressão dele dentro do carro.

—Sim, assustado e surpreso. —Ele riu, parecendo estar fazendo uma piada consigo mesmo. —Eu achava que você ia se encontrar com algum cara toda noite. Juro que pensei que ia ter que matar o cara em questão por te deixar no cemitério.

—O que? —Parei de comer, ficando imóvel quando nós dois nós encaramos. —Você achava que eu tinha encontros?

—Achava. —Ele continuou a olhar pra mim, enquanto meu cérebro processava aquela informação, junto com a conversa que eu havia escutado e participado mais cedo.

Senti o sangue se esvaindo do meu corpo quando percebi que era de mim que eles estavam falando mais cedo e que era eu a garota que Steven ia chamar pra sair e não chamou porque achava que ela tinha namorado. Meu rosto ficou quente quando lembrei de Nicholas falando de como eu ficava olhando para Steven, diretamente para o próprio.

—Ah... —Soltei, vendo as sobrancelhas de Steven se erguerem e o sorriso dele aumentar quando ele entendeu que o que eu estava pensando naquele momento. —Bom, então, zero encontros pra mim. A não ser que mortos saibam flertar.

Ele soltou uma gargalhada, balançando a cabeça em pura descrença quando eu apenas sorri e dei de ombros. Ainda estava um pouco perdida na parte que Steven queria me chamar pra sair. Estava tão focada em evitar todos eles, que não percebi o óbvio quando estávamos conversando aquele momento no quarto.

Voltei a comer, parando na mesma hora para olhar para Steven de novo, com o rosto curvado em uma careta.

—Você ia mesmo matar um cara se ele tivesse me prendido no cemitério? —Indaguei, mesmo sabendo que ele não estava falando sério. Steven enfiou a mão no bolso da calça de moletom que usava, puxando aquele canivete preto que eu havia o visto segurar quando o conheci.

—Talvez. —Ele abriu o canivete e girou aquilo entre os dedos com uma destreza impressionante. Tinha certeza que se eu tentasse, cortaria um dedo fora. —Você ia me ajudar a esconder o corpo?

Encarei os olhos dele, impressionada com o quanto meu coração estava acelerado naquele instante.

—Talvez. —Falei, com meu sorriso encontrando o dele.



Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora