Lina estava encarando seu prato de comida a longos minutos, apenas cutucando as batatas ali sem qualquer interesse. Não sabia ao certo porque ela estava tão quieta, já que quando fui busca-la ela parecia animada.
—O que foi? —Indaguei, chamando a atenção dela. —Você tá cutucando essas batatas a um bom tempo. Até parece que mudou de ideia sobre almoçar comigo.
—Eu não mudei de ideia, só estou pensativa. —Deu de ombros, comprimindo os lábios. —Será que... —Ela engoliu em seco, umedecendo os lábios com a língua. —Será que hoje eu posso ir no cemitério?
Fiquei mudo por alguns segundos, porque isso explicava seu silencio.
—Ah, não, hoje ainda não. —Afirmei, vendo-a se encolher na cadeira. Isso me fez contrair os lábios e me sentir mal, mas sabia que ela ir lá era pior. —Podemos fazer um acordo, o que acha?
—Que tipo de acordo? —Indagou, parecendo um pouco tímida já que desviou os olhos de mim.
—O Nic costumava ir no túmulo dos pais toda sexta-feira. Podemos fazer assim também. Nas sexta você vai levar flores pro seu pai e o restante da semana as noites são comigo ou no casarão. —Falei, percebendo que ela estava me encarando de um jeito estranho, como se nunca tivesse me visto.
—Tudo bem, acho que estou um pouco perdida aqui. —Ela soltou os talheres. —Um: a Karen e o Luc não são os pais do Nic? Dois: você não tem que trabalhar? Três: por que está fazendo tudo isso?
Soltei uma risada, fazendo-a dar de ombros e sorrir de leve, o que me deixou mais animado do que antes.
—Bom, eu sou o chefe, já disse. Posso faltar o quanto eu quiser. —Pisquei pra ela, que mordeu o lábios e negou com a cabeça. —Estou fazendo isso porque, como você já sabe, pretendia te chamar pra sair, mas não fiz isso porque achava que você tinha namorado. De qualquer forma, vou passar mais tempo com você, o que eu considero melhor que um encontro de duas horas.
—Você podia ser um pouco mais sutil. —Murmurou, com os olhos ficando um pouco mais iluminados do que antes, enquanto os lábios tremiam como se ela estivesse nervosa. Isso fez meu coração disparar, porque gostaria de saber se ela tinha mesmo algum interesse por mim.
—Você já tinha ligado os pontos sozinha, não deveria ficar surpresa me vendo falar sobre isso abertamente. —Afirmei, dando de ombros. —Sobre o Nic, não, Karen e o Luc não são pais dele de verdade.
Passei o restante do almoço explicando tudo que havia acontecido com Nicholas. Sobre seus pais, seu padrasto, sua vida com Brendan e Bryan até Luc aparecer e o tirar do meio desse furacão. Eles realmente não eram pais dele, mas Nic os determinava assim como uma forma carinhosa e de agradecimento, assim como considerava Bryan e Elisa irmãos dele, mesmo não sendo de fato.
—Isso explica muita coisa. —Lina balançou a cabeça, parecendo surpresa. —Nic ganhou na loteria, não é?
—Ganhou sim. —Concordei, percebendo que ela havia voltado a cutucar a comida no seu prato sem muito interesse. —Elisa também.
—O que quer dizer?
—Karen tinha problemas pra engravidar. Ela achou que nunca ia conseguir, na verdade. Depois que se casou com o Luc, começou a fazer vários tratamentos e tudo que estava ao alcance pra tentar engravidar. —Ela olhou pra mim, parecendo ainda mais supresa. —Ela engravidou três vezes antes da Elisa. Em todas as três ela acabou perdendo o bebê. Elisa era a última tentativa. Ela foi meio que um milagre para os dois.
—Ah, meu Deus. —Ela soltou uma respiração pesada. —Eu nem consigo imaginar como os dois se sentiram. Que bom que no final tudo deu certo. Pra todos eles.
—Vai dar tudo certo pra você também, Cat. —Estendi a mão e segurei a dela que estava sobre a mesa, fazendo círculos com o polegar na sua pele.
Lina abriu um sorriso tímido, enquanto encarava nossas mãos juntas. O contraste entre minha pele branca e sua pele negra me fazia perceber o quanto ela era ainda mais bonita. E vê-la desanimada me fazia querer fazer qualquer coisa pra vê-la sorrindo de novo.
[...]
Parei no estacionamento da universidade, observando o prédio imenso que estava do outro lado do gramado. Lina pegou sua mochila, tirando o cinto e olhando pra mim meio sem jeito.
—Obrigada pelo almoço e por me trazer. —Afirmou, abrindo um sorriso pequeno. —Foi gentil da sua parte.
—Não precisa agradecer. Gosto de passar meu tempo com você. —Abri um sorriso, piscando pra ela, sabendo que aquilo a deixava ainda mais tímida, o que era uma graça. —Você não disse se aceitava minha ideia.
—Ah... bem, pode ser. Uma vez por semana parece melhor do que todos os dias. Eu estava um pouco deprimida. —Ela soltou uma risada nervosa e olhou para frente.
—Deprimida é pouco, Cat. —Balancei a cabeça negativamente, porque ainda não acreditava que ela havia conseguido ficar presa dentro do cemitério. —Mas vamos mudar isso. Tenho umas ideias.
—Que ideias? —Ela virou o rosto pra me encarar na mesma hora, arregalando um pouco os olhos. —Cara, nada de invadir casas de novo.
Algo se acendeu no meu estômago ao vê-la me chamar de "cara", com uma expressão séria como quem está passando uma sermão.
—Eu não vou invadir nada. —Falei, vendo-a erguer as sobrancelhas. —Talvez eu vá, mas isso não vem ao caso.
—Sherlock Holmes ataca novamente. —Ela bufou, abrindo a porta do carro e me fazendo soltar uma gargalhada. —Eu não tenho dinheiro pra pagar sua fiança, seu maluco. Vê se aquieta a bunda.
—Eu tenho, não se preocupe com isso, Cat. —Ela ficou parada do lado de fora do carro, segurando a porta aberta enquanto olhava pra mim. Percebi que ela estava tentando saber o que dizer. —Posso falar com o Luc?
Ela hesitou, engolindo em seco, enquanto desviava os olhos para os próprios pés. Seus dedos apertaram a alça da mochila, antes de ela finalmente erguer os olhos pra encarar os meus.
—Quer mesmo pagar um advogado pra mim?
—Quero. —Não hesitei, porque sabia que qualquer oscilação da minha parte faria ela dar para trás. —Quero te ajudar, já disse isso.
—Tudo bem. Pode falar com o Luc então. —Ela soltou uma respiração pesada, olhando pro celular quando ele apitou. —Eu tenho que ir. Obrigada por isso.
—De nada. —Sorri pra ela, observando-a fechar a porta do carro e atravessar o gramado até o prédio.
Puxei meu celular na mesma hora, encontrando o número do escritório de Luc e ligando pra lá. Não daria a oportunidade de Lina mudar de ideia.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2
RomanceCatalina Scott não é a branca de neve, que come maçãs envenenadas e precisa que um príncipe encantado a salve. Mas quando sua madrasta a expulsa de casa logo após a morte do seu pai, alegando ter herdado tudo do marido, Catalina se vê obrigada a ir...