Capítulo 24: Eles não sabem.

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Descobri duas coisas enquanto estava na aula de dança. A primeira é que eu era pior do que imaginava com dança. Toda vez que eu tentava fazer um passo e um movimento da professora, meus pés se atrapalhavam e minha bunda ia de encontro ao chão, o que fazia as garotas explodirem em gargalhadas.

A segunda é que eu estava adorando cada segundo daquilo, porque Ella, Jane e Yasmin eram engraçadas e estavam fazendo eu me divertir, além de esquecer completamente do tempo. Não me senti triste em qualquer segundo daquela noite, assim como não pensei tanto no meu pai.

A música parou,  fazendo quase todas as garotas ali desabarem no chão, cansadas e doloridas. Ou pelo menos eu estava, como se um carro tivesse passado por cima das minhas pernas. Eu era uma pessoa super sedentária, porque não tinha tempo pra sequer pensar em qualquer tipo de exercícios.

—Muito bem, meninas! —Lindsay, a professora de dança, bateu palmas e abriu um sorriso animado. Ela estava usando uma legging rosa chamativa, que combinava com o top também rosa. Os cabelos negros estavam presos por diversas tranças pequenas até a raiz do cabelo, contrastando com a pele negra iluminada. —Vocês foram super bem nessa primeira aula. Apesar de algumas de vocês serem um pouco... atrapalhadas.

Todo mundo riu, enquanto eu me encolhia um pouco sem graça. Sabia que a atrapalhada em questão era eu, já que toda vez que elas iam começar a dançar, eu ia pro chão e Lindsay precisava começar tudo de novo. Jane não estava tão logo atrás de mim assim, já que ela parecia confundir a ordem dos passos as vezes.

—Mas não se preocupem, logo todas vocês vão estar perfeitas e então teremos nossa aula em casais! —Ela prosseguiu, toda animada, erguendo as sobrancelhas. —Espero que todas vocês já sabiam quem será seus pares.

—E se o par em questão for super tímido? —Ella indagou, fazendo a professora soltar uma risadinha.

—Os rapazes sempre são. Mas nada que uma boa rebolada no quadril não resolva! —Ela gesticulou com a mão, como se aquilo não tivesse importância, enquanto algumas de nós riamos. —Agora, se me derem licença. —Ela foi até o canto da sala, pegando sua bolsa e acenando com a mão pra nós. —Tenho aula de yoga!

Ela saiu da sala toda feliz, me fazendo rir baixinho de toda aquela animação. As vezes gostaria de ser um pouco mais animada. As garotas começaram a se levantar, juntando suas coisas e indo para o vestiário feminino.

—O que achou? —Jane caminhou ao meu lado, esfregando a testa um pouco vermelha.

—Foi legal. —Afirmei, porque de fato tinha sido, mesmo que eu fosse péssima dançando. —A professora é uma graça.

—Verdade. Ela deu altas gargalhardes dos seus tombos. —Jane falou, me fazendo soltar uma risada. —Mas você foi bem. Mal posso esperar para a aula de casais.

Nós entramos no vestiário, enquanto eu pensava naquela bendita aula em dupla, que provavelmente daria completamente errada.

—Ah... então, os rapazes sabem sobre essa aula em questão? —Indaguei, vendo Yasmin e Ella se virarem pra olhar pra mim também. —Assim, não consigo imaginar nenhum deles dançando.

—Eles não sabem. —Yasmin mordeu o lábio como se estivesse segurando uma risada. —E eles provavelmente não vão querer.

—O que não significa que eles não venham. —Ella riu, pegando suas coisas para tomar banho. —Vamos convencê-los a vir.

—Mas... mas... —Gaguejei, sentindo meu rosto esquentar, mesmo que elas não pudessem notar. —Talvez eu possa encontrar outro par. Sabe... sem precisar chamar o Steven. Quer dizer, é o Steven.

—É, com aquela cara que ele anda, cheio de tatuagens, não dá pra imaginar ele num lugar desses. —Jane gesticulou ao redor, rindo. —Mas, acredite, ele provavelmente vai ser o mais disposto a tentar.

—Por que acha isso? —Indaguei, observando as três girarem as cabeças e me encararem com as sobrancelhas erguidas. Fiquei sem graça e ergui as mãos em rendição, pegando minhas próprias coisas pra tomar banho, enquanto pensava naquele pequeno fato.

[...]

Passamos no mercado, enchendo o carrinho de porcarias enquanto conversamos. Percebi que era fácil demais virar amiga delas e me apegar. Mesmo quando você percebia que Ella e Yasmin eram muito mais amigas, as duas nunca agiam como se eu e Jane não fôssemos importantes também. E quando eu estava no ensino médio, ser excluída era algo constante pelas minhas "amigas". Talvez seja por isso que hoje eu sequer tenho contato com elas.

—Vamos pegar um táxi? —Indaguei, vendo que Ella já estava chamando um. —Pensei que Yuri iria nos buscar.

—Ah, ele ia. —Yasmin abriu um sorriso curto. —Mas ele saiu com os rapazes, então...

Mordi o lábio, encarando um ponto fixo no chão enquanto pensava o quanto elas estavam estranhas. Eu tinha certeza que elas estavam aprontando algo, só não sabia se ficava ansiosa, com medo ou nervosa. Eu realmente não gostava de surpresas, mas não conseguia pensar neles fazendo algo que eu fosse odiar.

Quando o táxi chegou, carregamos as compras e fomos pro casarão. Fiquei observando as ruas movimentadas de Nova Iorque, enquanto as garotas estavam ocupadas em uma conversa cheia de risadas. Quando chegamos no casarão, as luzes estavam todas acesas e os carros estacionados na garagem e na frente da mesma.

—Quarto ou sala? —Jane indagou, fazendo todas nós trocarmos olhares enquanto entrávamos na casa.

—Talvez o quarto da Lina? —Ella fez uma careta. —Ja que você não divide com ninguém.

—Claro, pode ser. —Falei, soltando uma risada. Não me incomodaria de bagunçar todo meu quarto pra assistir um filme e comer besteiras com elas.

Largamos as compras na ilha da cozinha, antes de subirmos as escadas para trocar de roupa e colocar um pijama. Parei na frente da minha porta, erguendo as sobrancelhas quando vi aquela plaquinha de madeira pendurada na mesma, com o meu nome. Nicholas havia dito que mandaria fazer uma, mas pensei que havia esquecido ou simplesmente deixado pra lá.

Abri um sorriso, sentindo meu coração acelerar e então entrei no quarto, acendendo a luz. Fiquei imóvel, enquanto minha mochila escorregava e caia no chão, quando encontrei o mesmo completamente decorado. Havia uma grade na parede, com todas as minhas fotos. Alguns objetos e livros. Pôsteres, porta-retratos, uma luminária em formato de nave espacial e até mesmo um urso de pelúcia. O único que eu havia guardado de quando era criança.

Todas essas coisas estavam na casa do meu pai, porque eu não pude sair com elas depois do que minha madrasta fez. Mas agora elas estavam ali. Todas no meu quarto novo, me fazendo sentir que estava em casa de verdade.


Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora