Benjamin Ferrera
É muita comida, tem todos os tipos de frutas, três grandes pratos com arroz, feijão, carne e salada.
- Pode comer - disse o homem que agora sabia que se chamava Bernardo.
Eu calmamente me sento e começo a comer. É muito gostoso, eu até esqueci das pessoas a minha volta, e começo a comer igual a um maluco achando que a comida estava.
Assim que acabo de comer, e já com muita coisa na barriga que eu percebo os dois ainda me olhando enquanto comem.
Na hora fico envergonhado, e abaixo novamente a cabeça.
- Você deve estar cansado Benjamin - diz o homem mais baixo, Pietro.
Ele aponta para uma cama de solteiro do lado da de casal, e eu me deito lá. É muito confortável, parece até que eu estou vendo em uma nuvem de algodão de tão macia.
- Senhores - os chamo antes de finalmente dormi – obrigado.
Dois Anos Depois
A única coisa que minha cabeça consegue pensar nesse momento é no quanto ela está morrendo de fome, nem mesmo sei quanto tempo eu estou sem comer.
Estou nesse momento deitado no chão onde geralmente fico, há uma caixa de papelão em cima de mim e ao meu lado para tentar me proteger do frio, o que não está adiantando muito na verdade.
Olho para o único lugar mais limpo que tem nesse lugar, do lado, bem escondido, onde aquele moletom pode ficar, pelo menos, um pouco limpo.
Suspiro pesadamente e engatinho até esse cantinho pegando a enorme blusa, com o passar do tempo parece que eu só fiquei mais magro, já que esse moletom está cada dia maior em meu corpo.
Meu estomago ronca na mesma hora pela movimentação, preciso comer alguma coisa, só que não tenho dinheiro, teria duas soluções para qualquer isso nesse momento, ou roubar ou fazer outras coisas para ganhar dinheiro, só que nenhuma dessas opções me parece nada atrativa para mim.
Me levanto calmamente e agarro uma pequena canequinha que tenho junto a mim e começo a caminhar em direção ao local mais movimentado do Rio de Janeiro, o aeroporto geral da cidade.
Me sento do lado de fora do aeroporto, coloco a canequinha em minha frente e fico apenas sentado o mais encolhido possível pelo frio que estava se tornando cada vez mais intenso.
Não sei quanto tempo eu fico ali parado, só sei que é um bom tempo, até que sinto um olhar sobre mim me olhando fixamente, levanto o olhar e vejo que não é nada além de uma criança.
O menino é pequeno, tenha cabelos ruivos e cacheados e olho azuis, um azul igual ao de uma pessoa que eu vi uma vez. O menino olhava para mim com curiosidade, ele vestia muito bem, as roupas dele são claramente de marcas caras, ele parecia completamente perdido.
- Está perdido menino? - perguntei torcendo para que ele soubesse falar e o mais importante, espero que ele não esteja com medo de mim.
- Non so dove mio padre (Não sei cadê meu papai) - disse baixinho me olhando timidamente.
Com a maior certeza ele não é brasileiro, um italiano com a maior certeza pela língua com a qual me respondeu, além de entender o português.
- Vieni ti aiuterò a trovare tuo padre (Vem que eu vou te ajudar a encontrar seu pai) - digo estendendo meu braço para ele.
- Papà ha detto che non dovrei parlare o avvicinarmi a estranei (Papai disse que eu não devo falar ou chegar perto de estranhos) - disse baixinho, o que me faz rir por poucos segundos.
- Tuo padre ha ragione (Seu pai tem razão) - digo sorrindo para ele - sono Benjamin, e se vuoi posso aiutarti a trovare tuo padre (eu sou Benjamin, e se quiser eu posso te ajudar a encontrar seu pai) - digo e vou me levantar, porém, me sinto um pouco zonzo e me sento novamente.
No mesmo momento eu vejo um homem passar por trás do menino e empurrando ele para frente, para que o menino saísse da sua frente. Me recupero da minha tontura rapidamente e pego ele antes que posso cair no chão.
- Va bene? (Está bem?) - perguntei olhando para ele que tinha os olhos cheios de lagrimas - non c'è bisogno di piangere, questo idiota non merita lacrime da un visino così carino (não precisa chorar, esse idiota não merece nenhuma lagrima de um rostinho tão fofo) - digo fazendo ele soltar um risinho alegre quando faço cosquinha nele.
Quando estava perto de me levantar escuto uma voz que chama a atenção do menino.
- Samuel – a voz chamou.
O menino que estava no meu colo se vira para o lugar de onde vem a voz e sorri de forma desengonçada e sai para correr na direção do homem.
Olho para o local aonde o menino estava indo e vejo uma pessoa que eu não esperava ver de novo.
Pietro e Bernardo, os dois anjos da guarda que me salvaram a quase três anos depois.
- Olá novamente Benjamin - disse ele me olhando calmamente.
Olho para cima com os olhos completamente arregalados, um por não querer que ele m reconhecesse e outro por não esperar que ele me reconhecesse.
- Senhor - digo com o menino, que agora sei que se chama Samuel, ainda perto de mim - senhor Pietro e senhor Bernardo eu...
Eu iria continuar falando, só que Samuel me interrompe assim que vê Bernardo entrando em seu pequeno campo de visão.
- Papai - ele pula no colo do senhor Bernardo.
Ambos me olham por alguns segundos com um sorriso no rosto no momento em que falei o nome deles, de uma maneira geral eu apenas fico olhando-os com os olhos arregalados de completa surpresa.
- Eu sinto muito, não sabia que era filho de vocês - digo depois de algum tempo completamente desesperado para que eles não pensem nem por um segundo que estava tentando roubar seu filho.
Eles apenas ficaram em silencio por alguns segundos, talvez esteja esperando que eles não achem uma coisa tão ruim assim de mim, ainda mais depois que eu fui embora tanto tempo antes.
- Acho que lhe devemos um almoço pelo menos por ficar de olho no nosso filho – o senhor Pietro disse me olhando com um pequeno sorriso no rosto, me fazendo corar internamente.
- Ele está certo - o senhor Bernardo concordou, olhando o marido? Talvez seja mesmo seu marido ou estou ficando louco, ou sei lá, só acho que preciso ir e não aceitar o convite deles, ainda mais com tudo o que está dentro de mim a todo o momento - além disso saiu sem se despedir da última vez.
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Te Encontramos Novamente Garoto (Trilogia Meu Criminoso - Livro 02)
Adventure"Te Encontramos Novamente Garoto" transporta os leitores para o mundo tumultuado de Pietro e Bernardo Santinelle, cuja vida foi abalada pelo desaparecimento de seu filho, Soren, há dois anos, durante o que deveria ter sido o ápice de sua felicidade:...