Um

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Era um dia ensolarado na Paraíba, eram poucos os dias frios por aqui, mas eu apreciava os dias quentes.

Fazia pouco mais de seis meses, que perdi minha mãe, ela precisava de uma cirurgia no coração, mas não consegui dinheiro suficiente para pagar, e mesmo fazendo um tratamento caro, enquanto aguardavam a cirurgia pelo sistema único de saúde, ela não resistiu, e veio a óbito.

Meu pai, havia abandonado a minha mãe ainda grávida, e fui registrada com pai desconhecido, e eu nunca soube quem ele era. Sem irmãos ou outros parentes, me vi sozinha.

Mainha me ensinou a cortar cabelo, desde que eu era criança. Ela conseguiu com muita dificuldade, montar um pequeno salão, e era ele a nossa fonte de renda. Foi com esse salão que ela me criou com muita dignidade, mesmo que sem luxos.

Desde que ela se foi, assumi a responsabilidade do salão, e trabalhava o máximo que conseguia, tudo isso na tentativa de conseguir pagar a dívida que adquiri com o tratamento caro de mainha.

Precisamos hipotecar nosso único bem, a nossa casa. E se eu não conseguisse pagar a dívida, eu logo estaria sem lugar para morar. O aluguel de onde o salão funcionava, era caro, e ultimamente, quase não conseguia cobrir as minhas despesas, quanto mais pagar minha dívida no banco.

Eu já estava começando a me sentir desesperada, tinha apenas 21 anos, não tinha mais família e não sabia mais o que fazer. Aprendi com mainha a ser direita, e pagar as minhas contas em dia, aprendi que pobre só nasce com nome, e que deveríamos honrá-lo.

Todos os meses, quando as contas chegavam, sentia vontade de chorar, pedia a Deus todos os dias, que me mandasse um sinal, uma ajuda para que eu conseguisse sair daquela situação.

Estava varrendo o chão do salão, quando vi Marie entrar esbaforida, segurando um panfleto em suas mãos.

- Olha Ju. – ela me estendeu um cartaz, era um anúncio de uma agência de modelos. – Porque você não tenta? – ela perguntou otimista.

Senti vontade de dar risada, e neguei com a cabeça. Marie era uma grande amiga, e sabia de toda a situação em que eu me encontrava, e tentava me ajudar, da maneira como conseguia, e eu sabia que isso, era mais uma solução mágica que ela achava ter encontrado.

- Marie, não diga bobeiras. – tentei tirar aquela ideia de sua cabeça. – Eu, como modelo? Eu sou pequena, e tenho curvas demais para ser modelo.

- Não existem só modelos de passarela, Ju. – ela rebateu. – Você é linda, poderia ser modelo fotográfica.

Suspirei, ainda achando a ideia louca, mas peguei o panfleto de suas mãos, analisando melhor o anúncio, mas quando vi o local da agência, desisti no mesmo instante.

- Marie, é em São Paulo. – apontei para o panfleto, onde dizia a localização da agência.

- Qual o problema Ju? Eles estão recrutando, e pelo anúncio parecem pagar bem, você é nova e bonita, não há nada que te prenda aqui, acho que deveria tentar.

Mordi a parte interna da minha bochecha, voltando a analisar o panfleto. Pedia a Deus todos os dias uma solução para os meus problemas, e talvez esse era um dos sinais que eu tanto pedia. E como a Marie ressaltou, realmente não havia nada que me prendesse ali.

- Eu nem sei quanto custa uma passagem para São Paulo, Marie.

- Vamos olhar isso mais tarde, eu tenho algumas economias, te ajudo, quando ganhar dinheiro você me devolve.

- Marie. – protestei, mas minha amiga logo segurou minhas mãos, me tranquilizando.

- Marie nada, Juliette, não aguento mais ver essa cidade te engolir, agarre essa oportunidade minha amiga.

Olhei para ela por um tempo, antes de assentir. Seria uma das maiores loucuras que faria na minha vida, mas estava pronta para encarar de frente.

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