Pov. Heli
Nessa terra não havia dor, notei por sentir falta dela. Eu também não estava cansada, nem triste ou revoltada. Sentia medo.
Era uma praia à luz da lua como a última mas esse céu era cheio de estrelas como nenhum outro que já tinha visto, não havia um pedaço dele em azul, embora eu soubesse que se tratavam de estrelas. Na minha frente estava o mar escuro e profundo, com ondas brancas batendo na costa. Parecia a minha última praia, pensei, até notar do outro lado uma ilha que não jorrava em larva. Eu não estava em Oki.
O barco. Me sussurraram, mas não vi quem. No instante que o vi, entendi onde estava e o medo apertou de vez minha garganta. Não, ainda tem mais, pensei. Consegui ver a ilha do outro lado… Não era uma ilha e também não saberia dizer o que era, apenas posso dizer que tinha um jeito diferente e ao mesmo tempo, eu via lá todas as pessoas que amei.
Line foi quem distingui primeiro, ainda de biquíni e com uma canga de girassóis, acenando pra mim. As outras não ficaram óbvias pra mim de primeira, mas reconheci as bochechas cheias como as de meu pai, então deduzi que se tratassem de meus avós. A última que vi me fez correr para o barco, ainda de vestido amarelo, com um sorriso como o meu, repleto de ruguinhas. Mãe.
A saudade me tomou pelos braços e desceu pelas pernas, me fazendo correr pro barco a remo. A madeira ainda tinha o mesmo toque ali e o mar cheirava a sal e a recordações. Pus o remo na água negra e o movi como se tivesse feito a vida inteira, quando deu as primeiras remadas em direção a elas, dentro da água, algo me chamou a atenção.
Uma mulher vestia branco na frente de um homem mais magro e outra mulher apertava algo com flash. A mulher vestida de branco beijou o homem e sorriu pra mim, me chamando com a mão e então corri até ela.
Uma garotinha com o rosto oval olhava pra mim boquiaberta de baixo, minhas mãos roçavam algo áspero como a casca de uma árvore e meu rosto abriu num sorriso. Você não me pega, eu disse e então a pequena Jenna saiu correndo.
Chega de ursos de pelúcia, uma mulher gritou enquanto estava agarrada a um em formato de tubarão. Em seguida a porta abriu e meu pai mais novo entrou, dizendo pra que eu escondesse aquele. Mamãe gosta de tubarões, eu disse e ele riu.
Remei e remei no mar doce e fácil. Eu queria ver mais, eu queria ver mais, eu queria abraçá-la mas aí, nada mais me apareceu e o mar tão doce e fácil parou. Parou. Não havia ondas nem memórias sobre o espelho que o mar formava, nem mesmo estrelas no céu. A ilha estava à minha frente ainda e vi o rosto de minha mãe fazer que não com a cabeça, com um sorriso repleto de lágrimas no rosto.
Quando girei meu punho junto aos remos, eles se racharam sobre a água, se estilhaçaram em um milhão de lascas e afundaram sobre a água negra. Não consegui entender, eu estava bem, eu queria ir, o que fez o mar parar? O que tinha forças para pará-lo?
Quando ele voltou a se mover, não havia nada para que eu o dominasse. A água bateu contra meu casco de tal forma que cai de costas no chão do pequeno barco e com toda força que só o mar tinha, me arrastou pra longe deles, pra trás, pro medo.
Não! Eu quero ficar! Gritei.
Pulei do barco e não encontrei a água, me descobri pulando dentro de outro barco toda vez que pulava pra fora de um e todos eles iam em direção a praia.
Estiquei meu braço pra fora do barco tentando alcançá-los com os dedos, não havia como. A dor retornou, o céu começou a clarear e o mar a ficar azul como sempre foi.
Quando ele me chamou novamente, eu já estava do outro lado.
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O Retorno das Alfas
FantasyHeli foi infectada, Anis foi liberta e o relacionamento entre Heli e Monara parece ter desmoranado enquanto o destino de Heli e Anis parece cada vez mais próximo. No último livro da trilogia, segredos serão revelados e a guerra que parecia ser apena...