Capítulo 2 - O lado deles

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Pov: Heli
Gatilho: pensamentos suicidas

Acordo num instante, como se fechasse os olhos e os abrisse no segundo seguinte. Algo está errado, eu estou errada... Não, eu estou sentada, amarrada de novo em uma cadeira só que em uma sala sem piscinas de mar. As paredes aqui são de madeira, enfeitadas com quadros e candelabros antigos nas paredes. Há um computador e livros em estantes, muitos livros... Não estou em casa, não, isso foi embora há muito tempo... É dia pela luz que entra pela janela atrás de mim, estou amarrada, doente, no escritório de Maressa. Porque?

Quando tento gritar seu nome, descubro que não tenho mais voz mas também não tenho dor, nem cansaço, ela me tirou tudo...

Começo a escutar.

Primeiro, copos batendo com outros ou então com bordas de alguma garrafa de vidro que faz mais sentido, escuto o mesmo som mais duas vezes e assim sei que são três pessoas na sala ao lado. Pessoas. Essa é a palavra. Sereias não bebem coisas de garrafas de vidro. E Maressa quer que eu as ouça? Nada faz sentido até que...

Pai! Tento gritar. Minha boca se mexe mas não sinto nada em minha garganta... Como isso...

-Meu nome é... - Uma voz masculina diz.

-Nolan Lewis - A voz de Maressa aparece - Entrei na sua cabeça alguns dias atrás. Tem três filhos homens que por alguma sorte estavam no continente no dia. Devo dizer que a antipatia é recíproca. Você torturou Monara que é como uma filha pra mim.

Lewis... Jonas! Só pode ser Jonas na sala ao lado. Mexo meus braços apenas pra descobrir que estão muito, muito mais apertados nas cordas que antes e minhas pernas também estão atadas, vermelhas pela pressão. Tento mexer de novo a garganta mas nada sai dela.

- Pode falar agora - Maressa diz. Imagino que rindo em segredo de mim.

- Os homens de Preto não sabem que estamos aqui - Jonas fala, meu coração quase explode no peito mas graças a deus está tão amarrado dentro de mim quanto meus braços nessa maldita cadeira - Eles não aceitariam conversar com sereias e de verdade, nós dois não sabemos se devemos ou não confiar em você.

Maressa ri, ri! O que essa mulher quer afinal? Por que me deixar ouvindo tudo sem me deixar fazer nada? Jonas... Ah, que saudade, ele deve estar devastado, como eu. Tento forçar meu pé no chão pra cair e fazer algum barulho mas estou alta demais na cadeira de modo que só meus dedos tocam no carpete. Tento gritar de puro ódio.

- E nem em mil anos pensei que conversaria com caçadores e aqui estamos nós. O que exatamente vocês querem aqui?

- A mesma coisa que você, informação sobre o outro lado - Jonas responde.

- Mas antes... Como podemos confiar em você? - O tio dele, Nolan, diz - Quer dizer, matamos milhares da sua espécie ao longo dos anos e você matou milhares da minha também. Por que essa trégua agora? Por que você quer nos dar respostas? Por que quer fazer perguntas?

É uma excelente pergunta, tão boa que desperta minha curiosidade e paro de lutar. Paro um segundo pra pensar, no que saber sobre os planos dos caçadores mudaria a vida de Maressa... A guerra ainda não começou e acho que Anis não fez nenhum movimento contra os humanos se não Maressa faria questão de jogar na minha cara. Ela não precisa deles e nem quando a guerra rolava precisava. O que Maressa quer?

- Vamos com calma - Ela diz retomando o controle - Não esperem que eu conte tudo em nossa primeira reunião. Vocês podem muito bem voltar pra casinha de vocês e contar tudo o que eu disse a eles. Não que eu me importe e não que minhas superiores ou Anis se importem... Precisam entender o lugar de vocês na nossa cadeia alimentar.

O Retorno das AlfasOnde histórias criam vida. Descubra agora