Capítulo 34 - A volta e a ida

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Pov:: Monara

   Uma vez, enquanto Rodolfo e eu lixavamos a madeira na casa de Maressa, quando reformavamos a casa logo depois de Heli entrar no mar, ele ficou curioso. Eu estava sentada na escada retocando a madeira, ele, lixando o chão aranhado, sentado como uma criança, suando a toda.

   — Então, Monara, eu tenho uma pergunta.

   Lembro de morrer de medo dela.

   — Certo…

   Por dentre os tocos de madeira do corrimão, o observei, suado e vermelho, por conta do calor daquele dia.

   — Seus poderes servem pra que além de saber a emoção das pessoas?

   Eu ri, aliviada, desnorteada como eu era idiota. Rodolfo não era invasivo, só curioso a nosso respeito e mesmo isso o fazia corar como se tivesse quebrando alguma regra inexistente.

   — Bom, no começo – Voltei a lixar – Eu conseguia sentir somente as cinco principais emoções, raiva, alegria, medo, tristeza e nojo… Foi sua filha quem fez que elas se expandissem e agora eu sinto todo o tipo de coisa.

   — E como foi ela fez isso? – Ele parou de lixar. Se levantou, foi pegar uma água gelada. Quis saber como era a sensação de odiar o calor e senti… Era sufocante. Bem diferente de tremer de frio, ao menos não doía.

   — Aconteceu uma coisa, com as Ômegas, não quero te assustar mas Heli correu um monte de riscos comigo.

   — Ela literalmente morreu, Monara – Ele riu. Não sei como – Não posso mais tomar sustos.

   Lembrar disso agora soa como uma piada de mal gosto.

   — Naquele dia, me concentrei porque tudo o que sentia de Heli era a alegria de me ver e naquela noite, nem isso eu sentia. Não sentia seu medo ou sua raiva, eu estava no escuro.

   Ele sorriu quando entendeu.

   — Ela já me amava ali, mas não sabia.

   Dói tanto lembrar disso.

   — E na noite em que ela…

   — Morreu? – Respirei fundo, tomando coragem – É… Descobri outra coisa. Eu não sinto apenas emoções, sinto também as sensações. Tipo, agora, estou sentindo a água na sua garganta, o cansaço nas suas costas, o calor… É horrível. Com todo respeito.

   Senti também quando ele ficou admirado.

   — Também posso fazer as pessoas sentirem o que eu quero, é um pouco mais complicado.

   — Nossa, que legal – Ele se sentou um pouco – Não sabia que funcionava assim.

   — Dá pra fazer uma porção de coisas com suas Pérolas… Com nossos poderes. É só trabalhar, explorar e quando atingimos cem por cento, temos Maestria. É uma comprovação, geralmente alguma coisa na pele.

   — E você já tem?

   — Não – Menti na cara dura. Não queria que ela soubesse antes do tempo que tinha o traído – Mas quer saber a parte mais legal da minha Pérola? A que foi mais útil na verdade.

   Ele esperou ansioso.

   — Sei quando mentem pra mim.

   Aquela tarde, agora, parece um sonho, algo que eu imaginei. Passamos o resto dela conversando sobre poderes, comigo contando sobre o que Maressa pensava que Heli podia fazer, o que ela já fazia e não podíamos contar para não atrapalha-la e um código secreto que inventamos, uma coisa que eu podia fazer pra ele que, quando alguém por perto mentir, eu pudesse avisá-lo sem que a pessoa que mentiu percebesse.

O Retorno das AlfasOnde histórias criam vida. Descubra agora