Toc. Toc. Toc.
O barulho me trás de volta à tona. Estou deitada na cama novamente e me lembro quando caminhei pra cá, o que me fez querer descansar e quando ergo o braço, ainda estou cansada. Pensei que tivesse me livrado do cansaço…
—Heli? — Peta chama.
Por um momento, fico feliz que seja ela na porta e por outro momento, mais curto ainda, fico preocupada que eu tenha ferido Monara.
Empurro meu corpo pra cima, me sentando com as costas na cama e creeec. Quebro a bela cabeceira em madeira de Maressa. Solto um gemido de frustração, se bem que ela bem que merece outro móvel quebrado… Só não aguento mais quebrar as coisas.
O cheiro de carne me distrai. Peta percebe, caminha ao meu encontro com seu tabuleiro prateado repleto de proteína e o coloca em meu colo. Penso em perguntar por talheres, então me lembro que provavelmente os quebraria com minhas mãos pesadas. Sem alternativa, pego o bife com a mão.
Quando penso que é a primeira vez que mastigo a carne, planejo mastigá-la lentamente e mais uma vez todos os meus planos vão pro ralo. O sabor da carne é… indescritível. Meus meses como vegana não me fizeram esquecer seu sabor único que só a proteína tem mas não é nem de longe a sensação em meus lábios. Todos os meus sentidos não são apagados, são ampliados. Eu escuto o mastigar de meus dentes, o cheiro de gordura e sal e na minha boca há uma explosão tão grande de sabor que não consigo, simplesmente não consigo mais fazer nada a não ser tentar manter a sensação o máximo de tempo possível em minha boca.
Quando acabo, cedo demais, ainda tenho fome. Tenho saudades do sabor de dois segundos atrás. E me sinto vazia e desesperada por mais.
Se essa é a sensação que tenho quando como carne bovina, o que, por Deus, elas sentem quando comem carne humana?
Perco um tempo lambendo o caldo sangrento que restou no tabuleiro, procurando no mundo coisa minimamente parecida com isso no meu paladar antigo…
—É por isso que você fuma? — Pergunto a Peta mas no instante que digo, tenho a resposta — Não, não é… Mesmo antes não é tão bom quanto… Isso. Então, porque você fuma e usa drogas?
—Porque eu sou uma pilha de nervos, Heli! — Ela diz, como se quisesse dizer isso a muito tempo — Passei todos esses anos esperando as Ômegas aparecerem e me matarem e depois Monara apareceu e agora eu tenho que ficar parada vendo minha irmã morrer. Vício… — Ela suspira, tão cansada como nunca vi — O que é vício perto de perder todas as pessoas que você ama?
Jogo o tabuleiro pro lado, esperando a história dela e da irmã aparecerem de novo.
—Nesse ponto, eu consigo entender o que Monara fez. Oki sabe sobre todas as que tentei salvar pelo mesmo motivo.
Como expulsar alguém do quarto depois que ela te trouxe comida?
—Nada de Maressa? — Pergunto.
—Não, nada… Mas pelo menos consegui convencer Monara de esperar por ela antes de sair por aí procurando morrer.
Ela vai se matar? Não, ela não pode… Peta parece ler meus pensamentos.
—Ela é namorada da mulher que vai brigar com Anis, esqueceu?
—Ai que saco! Nós não somos namoradas! Eu não tenho nada a ver com ela! Sereias são tão burras assim?
—Você odeia Anis, não faria de tudo pra ferir ela?
Tem tanta coisa errada nessa pergunta que nem consigo retrucar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Retorno das Alfas
FantasiHeli foi infectada, Anis foi liberta e o relacionamento entre Heli e Monara parece ter desmoranado enquanto o destino de Heli e Anis parece cada vez mais próximo. No último livro da trilogia, segredos serão revelados e a guerra que parecia ser apena...