O Retorno das Alfas

Capítulo 33 - Sobre

Pov: Heli

   De volta a sala onde conversamos da primeira vez, me sinto sozinha.

   Ben e Tom estão de volta e atrás de mim, pela janela, é tarde. Sinto um pouco de cansaço, sinto fome como sempre e sinto culpa claro, por estar longe dele também e por sentir que estou perdendo tempo aqui. Meu pai e eu temos poucos dias, quem sabe horas juntos, eu deveria estar lá, acordar ele, dar o abraço que eu quero dar desde que eu voltei.

     Emily, enquanto vinha até essa sala me explicou que Rodolfo sentia muita dor mesmo em coma, uma coisa que eu já sabia, o que ela me contou e eu não fazia ideia era que isso também encurtava a vida dele, fazia o corpo dele trabalhar mais e com Monara, do seu lado, teríamos mais tempo. Que o descanso era necessário, que eu não ajudaria nada observando ele…

     Ela, eu sei, disse isso pra me convencer de eu não sou um monstro por me afastar do meu pai, não preciso de Pérola nenhuma pra ver o que está nas bolsas de cansaço em seus olhos. E também, claro, não é difícil ver a diferença dela quanto aos homens a minha frente.

   Eles nem sequer me perguntaram ou disseram qualquer coisa que seja sobre meu pai. Eu posso entender o ódio pelas sereias, criaturas que eles não conhecem, mas eu sou a Heli Grayve, filha da Sabrina e do Rodolfo, uma pessoa que até semanas atrás ainda era uma pessoa. Não significa nada pra eles?

     Acho que estou carente ou coisa assim, é a única explicação que encontro pra me perguntar uma coisa dessas. Eles atiraram em mim no fim das contas.

   — Então, Heli, temos perguntas sobre seus poderes. – Tom fala. Veio munido de uma porção de papéis dessa vez. — Sabemos alguns dons de Anis, mas desconfiamos que eles não sejam os únicos.

    Isso é novo.

   — Desconfiam? Porque? – Cruzo os braços.

   Eles se olham. Estão escondendo alguma coisa de mim. Mais alguma coisa.

   — Olha, tudo o que vocês sabem, muito provavelmente, eu também sei, ok? Anis passou seis meses morando na minha cabeça, ela me contou algumas coisas que vocês faziam pra tentar me convencer de libertá-la mas…

   — Como assim? – Tom pergunta.

   Não é informação de muita coisa, não é nada na verdade. E mais importante, é sobre ela.

   — Uma vez, há um tempo atrás, Jonas me levou pro covil das sereias que ele tem… Tinha na casa dele e me mostrou Anis.

   — Ele… Ele te mostrou? – Ben parece surpreso.

   — Ah sim, me mostrou tudo. Os arpões, as fotos e claro, a atração principal, não importa – Dou de ombros – Quando ele ergueu a barreira de metal, Anis conversou comigo através do vidro e usando uma das pé… Um dos poderes, instalou um monte de pesadelos na minha cabeça e com o passar das noites, me contava um monte de coisas.

   É impagável ver a cara de confusão de gente que não está acostumada com essa maluquice. Ao menos, eles não desconfiam que seja mentira.

   — Tudo isso pra dizer…

   — Ela tem o poder de criar sonhos e claro, eu sei absolutamente tudo o que fizeram com ela no tempo em que a tinham.

   Anis não me mostrou, ela me contou. Eu sei que ela tentava me convencer do inferno que passou mas Anis não gostava de passar a imagem de fraqueza então, enquanto dizia o quanto era xingava, furada e cortada, torturada mesmo com gelo, ela o fazia séria, sem nenhuma emoção no rosto, como se lesse um manual. A falta de emoção dela só me dizia o quão ferida e humilhada ela se sentiu e isso por sua vez me fazia sentir raiva deles, não pena.