Capítulo 13 - Só de passagem

14 3 7
                                    

Pov: Heli

   Me assusto ao acordar na cama, minha última memória foi a grama, as estrelas. Devo ter entrado em algum devaneio e Maressa me trouxe pra dentro… Meu quarto está arrumado, a cortina no lugar, o chão varrido, Maressa só não consertou a porta do banheiro. Deve ter feito isso ontem.

   —Quero falar com ela.

   —Hff… Tá bom…

   —Tô falando sério, veja minhas memórias, eu não vou arrastá-la pro mar, eu só quero… conversar. Por favor, além disso, não tem como eu vencer de você. Pode me parar se eu fizer…

   —Ela não quer, Monara. Deixe-a em paz.

   Monara… Voltou. Daqui de cima, escuto perfeitamente a conversa das duas. O que ela quer? Ela não se cansa?

   —Se Heli quiser, Maressa, você não pode impedir — A voz sábia do meu pai aparece — Como está filha?

   —Bem, eu… E você?

   Quero conversar com Monara? Ah… Eu não sei. Tenho medo, da última vez ela quis me arrastar pro mar e da penúltima… A machuquei. Por que ela tem que complicar tudo?

   —Ela não vai fazer nada, Maressa, conversei com ela, eu garanto — A voz de Peta diz. — Como vai, seu Rodolfo?

   —Bem, como está Flora?

   —Na creche. Mas tenho que ir, avisa pra Heli que Minguante está viajando e quando ela voltar…

   —Eu converso com ela — Digo pro quarto, certa de que me escutam, mas é estranho — Monara?

   Demora um pouco pra ela responder.

   —Sim?

   —Pode trazer meu almoço?

   Mesmo distante, consigo ouvir seu sorriso. Escuto os sons de pratos, me levanto, decido trocar de roupa e acabo escolhendo outro vestido. Reclamava tanto de Monara usar vestidos, Deus agora entendo, mal gosto de usar calcinha imagina o estorvo de um short jeans… Minhas pernas são muito mais sensíveis que o resto do corpo, parecem detestar qualquer coisa que as separe. Tudo o que visto me aperta, me incomoda, meus dias de bermudas e blusas parecem ter acabado…

   Surpresa, acabo de me tocar que desde que acordei, nunca coloquei um sapato em meus pés. Eles são a parte menos bonita do meu corpo, grandes e largos, embora sem falhas. Sem minha cicatriz de Dorothy.

   Monara chega minutos depois, enquanto admito meus pés e a falta de pelos nas pernas. Com exceção do rosto, não sobrou nenhum deles para contar história.

   Ela segura uma tigela na mão e a outra está escondida nas costas, usa um roupão rosa… Seus cabelos todos estão pra trás, úmidos, com cheiro de mar. Meio sem jeito, coloca a tigela nas minhas mãos.

   —Te trouxe um presente.

   Não importa, não consigo me concentrar em mais nada até esvaziar toda a tigela de carne cozida com limão. O que dura dois minutos. Me levanto e coloco a tigela na mesa afastada da cama. De pé, Monara e eu temos a mesma altura agora, quase. Sou um tanto mais alta, dois centímetros apenas.

   É estranho.

   Da última vez que ela esteve aqui, brigamos e da outra também logo depois de um beijo. Eu a machuquei e ela caiu exatamente aos pés da cama nesse quarto, eu a odiei quase quanto a amei e eu tenho certeza de que ela não vai me pedir desculpas por me Evoluir, então, o que ela quer?

   —Vim pedir desculpas também, além do presente. — Não acredito nem um pouco — Eu queria me explicar, eu não fui atrás de Anis, eu queria ir na ilha pra me despedir dela… Rosemary adorava ficar por lá.

O Retorno das AlfasOnde histórias criam vida. Descubra agora