Capítulo 22 - O Retorno das Alfas

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Pov:: Heli

   Visto de costas, as sereias empilhadas parecem como lantejoulas coloridas num fundo azul-negro. Meus olhos são bons demais ignorando a escuridão, usando a parca luz da lua para iluminar todo o evento que decidirá minha vida… Ah, eu sinto tanto medo. Eu quero fazer o caminho oposto, quero nadar pra bem longe, perseguir as águas-viva que se iluminam a noite e pela centésima vez, olho pro céu dentro do mar e me pergunto porque fui eu ser a Prometida.

   Agora, é tarde demais pra hesitar, tarde demais pra fugir e eu faço a única coisa que posso fazer. Sigo em frente.

   Não demora muito, nada na verdade, pra que me notem. Sereias não são muito expressivas, mas acredito que o choque ao ver a Prometida seja o suficiente pra abrir algumas bocas… Uma a uma elas me encaram e uma a uma, abrem caminho para mim.

   Não demonstre medo, Talana me disse centenas e centenas de vezes e isso é mais fácil que imaginei. Não quero passar vergonha, não quero que Anis pense que sou um alvo fácil e mais que isso, quero muito irritá-la. Visto meu rosto confiante, uso meus novos dons de nado e…

   As maestrias de Anis me destroem.

   Elas me avisaram, não foi culpa delas, elas me contaram que Anis tinha muitas e quer dizer, Anis mesmo tinha me contado mas não me mostrado. As cores cintilantes em seu traje negro, os desenhos em seu rosto mostrando o nível de seu poder, quem eu quero enganar? Quem elas querem enganar? Eu sou uma Alfa, uma sereia que entrou no mar a menos de um mês e nem toda a cara fechada do mundo vai mudar isso… Não… Se Anis mentiu como elas dizem que mentiram, não quero que achem que sou feita da mesma coisa que ela. Elas, essas sereias que me olham admiradas, que acreditam em mim, precisam da verdade e não de olhares vazios e decididos, elas precisam ver como sou pra quem sabe entendam que não posso salvá-las.

   Lembro da sensação exata de quando entrei e não abri as escamas para repetir o mesmo processo. Contraio meus músculos, aqueles que respiram pra mim, para que elas vejam quem eu sou de verdade, não uma sereia que sabe tudo mas sim uma que não tem ideia de nada. Dói. Dói muito. É como cerrar os punhos com toda a força, como quando um tendão distende e isso por toda a perna, pela barriga e nas escamas em meus seios mas, tremendo de dor, consigo e pela inércia, caminho pela fina areia e sobre as conchas quebradas que compõem o chão do mar. De punhos e coxas cerradas, caminho o tanto que consigo até a minha rival a altura.

   E toda a dor do mundo some ao ver a irritação em seus olhos. Será que ela sabe que foi um erro se abrindo pra mim em meus sonhos? Por que a antiga Heli não saberia ler quando alguém tão duro se irrita pelos olhos cor de mar.

   —Desculpa pelo atraso, perdi alguma coisa?

   Atrás de Anis, Maressa pisca um de seus olhos pra mim. Senti saudades suas também, idiota. Olha em que furada você me colocou…

   —Me disseram que você se atrasou porque não sabia se controlar, agora vejo que mentiram.

   —Descobriu agora que sua esposa mente pra você?

   —Elas já sabem disso, peixinho — Anis murmura, como se alguém ao nosso redor não pudesse ouvir.

   Prometi me contou que Kadita e Anis usariam suas Pérolas de controle sonoro para que cada Okira ao nosso redor nos ouvissem. Como um amplificador à base de magia.

   —Desculpa, Talana quis me mostrar águas-vivas que brilham no escuro — Minto. A verdade é que chegar atrasada, dá uma falsa impressão sobre quem está no controle — Como sabe, entrei no mar a pouco tempo.

   Precisam saber em quem depositam sua fé.

   —Nisso, eu posso acreditar. Oki sabe sobre a cabeça vazia de Talana — Anis ri de si mesma — Não perdeu muita coisa, dizemos a elas sobre minha relação com Maressa, jurei uma promessa e outra e minha esposa contou a elas que toda a guerra foi fundada em mentiras.

O Retorno das AlfasOnde histórias criam vida. Descubra agora