Capítulo 18 - Azul

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Pov: Heli

   O azul me abraça.

   Não é uma metáfora, não é uma poesia, é literal, eu sinto. Sinto seus braços ao meu redor, seus dedos escovando meus cabelos, sinto seu beijo salgado em minha pele. Ele me abraça e me cumprimenta, diz olá para mim e em minhas pernas, sussurra-me o quanto está feliz por me ver. Fecho os olhos pra lhe responder, pra lhe dizer que sinto o mesmo.

   —Lembra do que te falei, certo? — Maressa me diz.

   Passamos o restante da noite, quando Jonas foi embora, com lições de como é nadar sendo… Sendo o que sou agora. Uma sereia.

   Minhas pernas tremem desconfortáveis querendo uma única coisa, a coisa estranha que é abrir as escamas e eu desejo atender esse pedido mas Maressa diz que temos que ir mais fundo e assim o fazemos, caminhando contra a corrente que quer nos arrastar pra esquerda, indo cada vez mais fundo pra barriga faminta do mar.

   Quando chegamos, dou uma última longa tragada de ar seco antes de submergir e continuar caminhando. Abro os olhos quando a água cobre em um palmo minha cabeça.

   Tudo o que me impede de abrir as escamas é prender a respiração. Maressa deixou bem claro como é controlá-las, não é movendo a perna, é respirando, então prendo o ar em meus pulmões.

   A minha frente, agora, enxergo Maressa perfeitamente. Seus traços, seus cabelos que flutuam como se gravidade não funcionasse aqui, e atrás dela o mais magnífico azul que já vi e sobre nós, as ondas que se quebram em branco. Um suspiro me escapa dos lábios, levando embora o pouco ar que tenho. Maressa segura minha mão e continuamos a caminhar.

   Ela também me explicou sobre a comunicação, enquanto estivermos dentro da água, podemos falar em pensamentos. Não vamos ler os pensamentos uma das outras, só iremos escutar o que que a outra deseja que escutemos. Ela me falou que devia mexer a boca pra facilitar, depois ficaria mais fácil.

   —Aqui está bom — Sua voz ressoa na minha mente. — Pode respirar, Heli.

   Ela não precisa dizer duas vezes.

   Liberto todo o ar de meus pulmões que voam livres em direção ao céu, fecho meus olhos pra respirar o mar. Minhas pernas doem, imploram pra que sejam libertas, meu pulmão arde e quando finalmente não aguento mais a dor, meus músculos relaxam e eu sinto a água passando pelos músculos da minha perna.

   Maressa me segura pelas mãos pra que não suba à superfície como um foguete e eu voo sobre ela.

   Tem que controlar a respiração Heli, não sua força. Respirar, expirar. Expirar mais forte se deseja ir mais rápido, expirar lentamente se quer ir devagar. Inspire se quer diminuir a velocidade.

   Mesmo assim, é muito estranho respirar pelas pernas. Uma sensação engraçada. Não se sente tanto o ar, não se sente uma ligação com o oxigênio quando respiramos, não faz muito barulho, você não se sente conectada a algo. Agora, mais que tudo, sinto Oki, sinto o mar, sinto o sal e me sinto uma idiota por não ter entrado antes.

   —É estranho no começo, depois seu cérebro ignora — Ela me diz.

   Começamos a nadar pra frente, pra longe da costa.

   Primeiro, noto minhas escamas, olho pro meu corpo e por um segundo me assusto. Essa não sou eu, mas é, agora é. A parte debaixo do meu biquíni arrebentou-se quando me transformei e arranco a de cima num puxão. Em meus seios agora brilham escamas brancas, quase transparentes, mas ainda contrastam com a minha pele. A parte de baixo…

   Pensei que me sentiria desconfortável com minhas pernas coladas, isso simplesmente não acontece. Não sinto elas presas ou coisa do tipo, sinto o que elas são, um corpo completo, livre e flutuante, feito em losangos brancos e delicados, como leite bem ralo e milhares e milhares de pequenas escamas compondo os losangos. Eles se abrem quando puxo a água pra dentro de meus músculos…. Não, Maressa disse que não são músculos.

O Retorno das AlfasOnde histórias criam vida. Descubra agora