Capítulo 20 - Passando o tempo

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Pov: Monara

   No começo do terceiro dia sem Heli, encaro as copas verde floresta que circundam a casa de Maressa, sentindo o longo fio que me conecta a ela. É estranho a sensação de se estar acorrentada a alguém, sinto como se faltasse parte de mim, é quase irritante mas assim sei que Heli está viva, imortal e me odiando do outro lado do mar. Sorrio.

   Já me arrependi mil vezes de não ter contado a ela o que eu contei a Anis, já me arrependi de não ter perguntado a ela se o que Anis disse era verdade, já me arrependi de não tê-la seguido. Sempre me arrependo do último até ver Rodolfo e me sentir culpada, ele precisa muito mais de mim do que ela.

   Será que ela se apaixonou pelo mar? Será que já se sente sozinha, isolada? Será que xingou as Ômegas ou Maressa? Eu adoro quando ela faz isso, tão inocente, não percebe o crime que comete, tão poderosa que nada elas podem fazer a não ser engolir. Por favor, Heli, não me odeie.

   No primeiro dia, Rodolfo dormiu a maior parte do tempo de tão cansado que ficou depois da festa. Descongelei alguma comida pra ele, comi uma ou outra carne enquanto ele voltou a dormir. No segundo dia foi mãos difícil, Rodolfo ficou acordado mas não quis conversar comigo, afastou todas as minhas tentativas de puxar assunto. Ele estava deprimido, se sentia sozinho e sentia uma pontada de raiva toda vez que me olhava, deixei ele quieto em sua tristeza. E agora faltam dez dias.

   Agora posso pensar a respeito do que vai acontecer sem medo, sem Heli e seus olhos acusadores pra me distrair. Eu vou participar do maior evento em meu mundo subaquático desde que Nirvana convocou todas as sereias, e não vou mentir, estou ansiosa, animada, curiosa. Quero ver todas as sereias que ainda existem, somos tão poucas mas imagino que irá ficar tão cheio como nunca o mar ficou. Ver Dorothy, minhas irmãs, saber como Maré está, dizer um oi a Phine. Sinto falta de todas elas.

   Maressa me explicou que Anis perderia muito mais atacando sereias no encontro do que apenas conversando de modo que não tenho medo. Maressa pode ser uma cobra duas caras mas sei que ela conhece Anis bem a esse ponto, elas viveram juntas cinco vezes mais do que a minha vida inteira. Estaremos seguras.

   E eu finalmente, finalmente vou saber como foi que essa guerra foi formada, vou descobrir todos os porquês além de sereias e civilizações. Eu particularmente nunca liguei pra isso mas só uma idiota não tem curiosidade sobre o porquê de seu povo ser dizimado. Quero ouvir Anis, quero ouvir porque Nirvana morreu e quero mais que tudo, escutar a resposta de Heli.

   Imagino quantas sereias não querem ouvir o mesmo que eu.

   Rodolfo acorda horas depois, lento e com uma angústia familiar no peito. Escuto seu bocejar, escuto ele escovando os dentes e a água pingando na torneira. Ele toma um banho, procura alguma roupa e quando se aproxima da porta, corro para o corredor, curiosa como vamos existir hoje.

   Fico feliz quando sinto uma espécie de alegria quando ele me vê.

   —Que tal irmos pra praia hoje?

   Não sei o que responder, balanço a cabeça de qualquer jeito.

   Faço o melhor que posso no café da manhã, fritando bacon sob a chefia de Rodolfo já que Maressa não gostava que ele comesse nada gorduroso na manhã. Faço ovos, coloco pão pra esquentar, passo um café e quando tudo está pronto pra comer vou atrás do meu. Ou iria se ele não tivesse a delicadeza de pegar carne crua pra mim. Sorrio.

   Comemos sentados na ilha da cozinha.

   —Praia? — Pergunto.

   —Tem outra coisa pra fazer além disso?

O Retorno das AlfasOnde histórias criam vida. Descubra agora