Capítulo 14 - Acabou

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Pov: Monara

   Mesmo às nove da manhã, o sol não perdoava os moradores da ilha de Oki. Estávamos na praia mansa ainda, mas por insistência de Heli, bem afastadas da loja de ferramentas. Era o dia de folga de Heli, um sábado, e ela morria de medo de Cláudia aparecer na areia gritando com ela. Eu sugeri outra praia, mas Heli tinha a ideia romântica de curtir ao menos um dia de sol na praia onde nós conhecemos.

Rodolfo, depois de passar meia hora tentando me convencer a passar protetor solar, estava na água, no raso, brincando com Jack e outras mil crianças ao seu redor. Eu estava deitada, de barriga pra baixo, sentindo o calor se espalhar nas minhas costas. Quis deitar na areia quente, Heli impediu, ela estava sentada na cadeira, com vergonha demais pra tirar o short e emitindo poderosos raios de raiva na direção de todo humano do sexo masculino que passava por mim.

Virei meu rosto pra ela e baixei os óculos. Os usava por estilo apenas.

—Algum problema, querida?

—Você não tem vergonha não?

—Heli, eu literalmente nadava nua por aí. Queria que estivessemos em Ibiza, eles deixam topless por lá.

—Você não faria isso! — Ela pisou na areia, espalhando um monte dela por mim.

—É mesmo? — Apoiei meu corpo nos cotovelos pra olhá-la melhor — Você é um pouco tóxica, sabia?

—Tóxica? Eu sou tóxica, Monara! — Ela dizia irritada que só — Não vê como eles te olham? É nojento!

E de fato era, mas eu não me importava. Puxei a mochila surrada que ela vivia carregando e encontrei o protetor solar.

—Pode passar?

—Você não precisa. Ficou brigando com meu pai...

—Você disse que eu precisava disfarçar melhor — Insisti e diante a esse argumento, ela cedeu. Heli se abaixou ao meu lado, jogou um monte de creme gelado nas minhas costas e passou em minha pele febril. Aos poucos, aquele ciúme bobo passou, ela percebeu. Não adiantava nenhum deles olharem, podiam sentir o que quisessem, podia cochichar com seus amigos, eles não podiam tocar no meu corpo sem que eu permitisse.

Meu corpo pertencia a ela e a mim e vice-versa. E aí de quem se metesse no meio.

Essa memória, esse carinho, esses ciúmes me doem mais que tudo enquanto nado pra longe da casa de Maressa e eu devo ser muito masoquista por ficar me lembrando tão perfeitamente desses momentos, os momentos perfeitos. Sem destinos, sem sereias, sem brigas, nada a não ser ela, eu e o mar... E agora... Acabou. Fim de estrada. Eu achei o fim do arco íris, melhor, eu destruí o arco-íris. Heli já tinha percebido, Maressa também, eu fui a única a me apegar nesse sonho bobo do que éramos e ter tudo de volta.

Quando estou de volta ao mar, não sei pra onde ir.

Parte de mim quer ficar pra dizer o último adeus, parte de mim quer ir pra longe e não ver ela partir. Me sinto tão cansada dessa história, sinto que desde que fui pega, estou num acidente de trem que não para de piorar, eu queria dar uma pausa. Queria desligar minha cabeça, meus pensamentos, mas não dá, não dá... Começo a nadar em círculos.

Eu tinha uma estratégia bem boa quando cheguei naquela casa: eu ia apoiar Heli e falar de todas as coisas bonitas do mar pra que ela se apaixonasse ainda mais pela vida, mas Heli e seu cérebro de sereia, fez logo uma confusão. Eu não ia manipulá-la, eu ia ajudar... Eu queria que ela visse o mundo tão belo quanto eu via, mas ela achou que era apenas porque eu queria ela ao meu lado. Não era... Não era...

Eu sempre quis alguém pra mostrar minhas partes preferidas do mar. Ver a migração das tartarugas, corais imensos, tubarões gigantes, uma horda de arraias e um lugar onde o sol bate de tal maneira que parece ser iluminado por deusas. Era isso que eu queria mostrar e Heli só pensa em política.

O Retorno das AlfasOnde histórias criam vida. Descubra agora