Capítulo 10 - O outro lado

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Pov: Monara 🏝️

Essa primeira parte acontece logo depois da briga do capítulo anterior, quando Heli machuca Monara antes que Maressa chegue. Depois dessa parte, segue normalmente aos acontecimentos do capítulo passado. Boa leitura!!!

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   Voltar pro mar é mais vazio do que eu pensei que seria.

   Meu corpo ansiava tanto por ele enquanto estava com Heli, pedia, implorava pra que eu voltasse e eu pensei que quando entrasse, sem dor e sem nada me prendendo, eu me sentiria melhor do que jamais me senti dentro dele mas não, é vazio, me falta alguma coisa.

   É ela, eu sei, é ela e tudo o mais. Falta a poltrona reclinável de Rodolfo, falta o Jack pedindo castanha, falta o olhar desconfiado de Kevin… Falta minhas pessoas, minha família.

   A palavra é quase estranha pra mim, eu tenho irmãs mas nunca tive um pai que se preocupava comigo. Nunca tive um irmão bisbilhoteiro e nunca tive uma cama em que me sentisse quente. É até injusto com o mar pra falar a verdade, ele me dá poder e morada mas nunca me deu metade do amor que senti na minha casa no subúrbio de Oki. E agora eu vou ter que viver assim.

   Não me animo muito ao sair de perto da casa de Maressa, sei que aqui tenho proteção, eu acho. Porque Rio me defenderia se Kadita aparecesse aqui agora pra me matar? Mesmo Rodolfo tem uma serventia, já eu… Heli me odeia. Pensando nisso, tomo coragem e me afasto pensando em ver alguma coisa bonita que a antiga Monara gostava.

   O coral que encontro é bem próximo, uma formação rochosa não tão profunda que a luz do sol consegue alcançá-lo. A antiga Monara passava horas observando o movimento dos peixes, contando as cores e vendo estrelas do mar se moverem a seu passo lento e agora… É tudo tão deprimente. As hordas de peixes que nadam sem rumo aparente, os caranguejos escondidos e o plástico… Ah, consigo tirar uma tampinha de garrafa dentro da boca de um peixe mas não sei o que fazer com ela. Se prestar atenção, posso notar mais e mais dele… A ilha não é tão imunda assim, há muitos e muitos programas de conservação mas as correntes trazem muito mais que peixe pra ilha…

   Não consigo prestar mais atenção no coral e nado com raiva pra longe dele.

   O que ela queria que eu dissesse… É sujo, imundo, cruel. Como ela quer que eu me desculpe por salvar a vida da mulher que eu amo? Como pode pensar que eu seria carente a esse ponto? Não! Não… eu sei que errei mas não me arrependo. Proteger a vida não é errado, será que ela diria que tirar a tampa de garrafa da boca daquele pobre peixe era errado então? Porque ele estava tão magro que tenho certeza que não se alimentava a dias… Onde isso pode ser errado? Onde proteger e querer que a pessoa que você mais ama no mundo viva e veja todas as coisas bonitas é errado?

   Será que ela queria que eu mentisse? Paro de nadar. Talvez, mas pra isso ela teria que me amar muito pra acreditar na mentira. Eu não o faria e não vou fazer e não é questão de orgulho, é questão que é uma mentira e desde que eu não contei pra ela sobre seu destino, nunca mais farei isso novamente. Não posso mentir pra ela e ela saberia…

   A minha frente, o mar se estende azul por onde minha vista não alcança. É pra onde ela quer que eu vá, onde seus olhos aprimorados não consigam me enxergar. E ela ainda pode me sentir.

   É um longo fio, uma Energia distante e vibrante, uma ligação. Quando me viro pra trás, sei onde ela está fisicamente, no meu peito ela nunca vai embora.

   Sei que não devo ir embora sem me despedir, então faço todo o caminho de volta mais calma. Elas me chamam de carente, de solitária, mas olha pra mim indo embora sem ela e sem cobrar amor e melhor, sem mentir pra ganhá-la. Se isso não for o auge do amor próprio, eu não sei o que é.

O Retorno das AlfasOnde histórias criam vida. Descubra agora