063 - POV AIKA

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Alerta possíveis gatilhos: abstinência de droga, pensamentos suicidas e abandono parental. Caso você seja sensível, por favor preserve sua saúde mental e não leia. Aos demais, boa leitura.

Três meses.

Hoje faz três meses que estou internada, mas hoje finalmente ganho alta.

— Está se sentindo bem? - Sther minha nova enfermeira

— Na medida do possível. - digo dando um leve sorriso.

Ela concorda e sai do meu quarto me deixando sozinha. Esse último mês foi o mais difícil para mim, escolhi ficar mais um mês por conta própria porquê estava cansada de me entregar para as drogas toda vez que eu tinha um problema, estava cansada de ter que ouvir dos meus pais que eu era um erro na vida deles toda vez que precisavam chamar o médico para vir em casa quando estava praticamente entrando em overdose porque os queridinhos médicos da Inglaterra não poderiam sair na mídia com a notícia que a filha é uma drogada.

Vocês devem estar se perguntando, onde estão meus pais, bom, assim que a Rache decidiu mudar se país minha mãe veio me visitar. Minha mãe como sempre é um doce, me disse as seguintes palavras.

"Estamos cansados Aika. Estamos cansados de toda essa patifaria, não é a primeira vez que você decide se internar prometendo que vai parar de usar drogas, prometendo que não irá mais beber. Eu deveria ter te abortado quando soube que estava grávida, meu deus eu só tinha 16 anos. - ela diz passando as duas mãos entre os cabelos. — Eu tentei, mas seu pai disse que iríamos ser uma ótima família e eu acreditei nas palavras dele, mas aonde erramos com você Aika? Você sempre teve tudo que quis, desde pequena só usa roupa de grife, vai para todos os países que quer, nos bancamos todas suas viagens do dia pra noite. Para sermos retribuídos assim? Com uma filha viciada em cocaína com só 19 anos? - ela respira fundo. — Eu estou cansada, seu pai está tão decepcionado com você que nem conseguiu vir aqui hoje, então tomamos a pior decisão das nossas vidas. A partir de hoje, não queremos mais você em casa, a Sarah está arrumando todas suas coisas, seu pai por mais que esteja decepcionado comprou um apartamento para você na Alemanha, suas coisas serão mandadas para lá e sua passagem já está comprada para o dia da sua alta. Não queremos mais ter contato algum com você Aika, você nos deixou doente, você nos destruiu e eu não quero isso para minha família"

Na hora eu não disse nada, mascarei meu rosto com uma expressão de indiferente e apenas concordei com a cabeça. Mas a verdade é que eu possa ter tido todas as melhores roupas do mundo, posso ter viajado para todos os países que eu quis, na hora que eu quis, mas o fundamental nessa família eu nunca tive, o amor, o carinho de um pai e de uma mãe, fui criada pelas minhas babás, as apresentações na escolas? Elas que iam, meus aniversários? Elas lembravam e me acordavam com parabéns na cama. Eles tiveram filho e acharam que dinheiro pode ser substituído pelo amor, mas esse foi o maior problema da nossa relação.

Assim que ela foi embora pude desmascarar minhas verdadeiras emoções, foi como se alguém tivesse puxado um tapete embaixo dos meus pés e eu estivesse caindo em um buraco sem fim. Desabo assim que entro no meu quarto, choro como se tivesse sem ar, lembro de todas as vezes que busquei um carinho ou até mesmo um momento de mãe e filha e sempre fui ignorada porque eles sempre estavam ocupados com o maldito hospital deles.

A primeira vez que experimentei a cocaína foi no meu aniversário de 16 anos, nesse dia eu sai para comemorar com algumas amigas em um pub em Londres e uns caras nos ofereceram, naquele dia meus pais não haviam lembrado do meu aniversário e eu estava chateada, então quando cheirei a primeira vez foi como se algo dentro de mim tivesse se libertado, depois daquele dia, toda vez que eu estava mal, usava e depois que formei a banda, era praticamente a sobremesa das minhas refeições.

As lágrimas escorrem uma atrás da outra, sinto minha mão começar a tremer e a suar frio. Meu coração começa a acelerar e eu daria TUDO somente por uma carreira de cocaína agora só para poder esquecer todas as merdas que minha mãe me disse, me levanto do chão e começo a revirar todo meu quarto, não é possível não tenha um pino perdido no meio das minhas malas.

Jogo todas minhas coisas no chão, sinto que estou prestes a enlouquecer. Até que acho uma navalha de fazer a sobrancelha, pego ela e me sento na cama.

Seria muito fácil tirar minha vida aqui, aliás quem iria sentir minha falta? Não falo com o Bill desde quando vi ele no hospital no acidente do Tom, meus pais acham que foi um erro me colocar no mundo e a Rachel está a milhares de km daqui focada na universidade. Seria fácil demais fazer isso e não dar mais trabalho para ninguém, mas eu quero ter uma vida normal e se não for para dar orgulho á alguém, darei orgulho a mim mesma. Largo a navalha em cima da cama tremendo e me deito na cama, não demora muito para que eu pegue no sono enquanto as lágrimas correm pelo meu rosto.

— Está pronta? - Sther me tira dos meus pensamentos daquele dia entrando no meu quarto.

— Estou. - digo me levantando da cama e pegando minha mochila.

Sigo Sther até a porta e olho para o quarto uma última vez, esses três meses foram difíceis mas eu consegui vencer isso. Uma nova etapa da minha vida começa agora, não quero mais saber do contrato com a Sony e muito menos de voltar a cantar, quero ser uma menina normal de 19 anos e é por isso que irei tentar entrar na faculdade de moda em Berlim. Quero viver bem.

— Tem alguém te esperando lá fora. - Sther diz com um sorriso no rosto e franzo a testa, quem viria aqui? Meus pais não podem ser e Bill está em turnê.

— Olá Aika, hora de irmos para casa meu amor. - Ouço a voz do Bill e meu corpo congela, talvez, alguém ainda se importe comigo.

My boyfriend | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora