Ninguém está pronto para: Pressentimentos

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— O meu coração se aperta em meu peito. Que saudades que tenho de ti. A fruta mais frondosa do meu pomar...

A voz, e a lira de Apolo, eram as únicas coisas que se ouvia pelos corredores vazios da mansão no Mundo Inferior. Tanto é que, a canção do deus conseguia abafar lamúrias vindas do Campo de Asfódelos.

Nico di Ângelo também não conseguia ouvir o som da televisão. E não sabia como mandar o deus embora, sendo que ele foi tão solícito em ficar mais tempo ali, para ver no que ia dar naquele plano maluco de mandar Luke de volta à vida.

Quando Apolo deu uma pausa na cantoria, Nico aumentava o volume da televisão para ouvir o noticiário. Só que acabou aumentando demais.

A TV Hefesto informa uma notícia extraordinária. — O homem de barba longa e um tufo de cabelo na testa, falava seriamente diante das câmeras. — O mais novo empreendimento de Las Vegas foi arrasado por um bando de delinquentes juvenis. Nossa repórter, Katrina, está no local com mais informações. Katrina, é com você.

Houve uma pausa, até que a imagem da câmera que focava Katrina estivesse estabilizada. Então, quando houve um sinal positivo, a repórter começou a falar. Nico estava em sua poltrona, com os olhos fisgados na televisão.

Boa noite, Romero. A situação aqui no Olympus Hotel e Cassino, não é das melhores. Um grupo de jovens semideuses destruiu toda a ala leste.

Mas esses jovens foram capturados?

Sim, sim os jovens já foram capturados e receberam uma severa punição. Estão banidos de Las Vegas e do Acampamento Meio Sangue. Vejam a seguir as imagens de câmeras de vigilância, onde mostram como tudo aconteceu. Tudo indica que a briga se iniciou por gangues rivais. Entre Romanos e Gregos. E nós pensando que estávamos em paz. Tentamos entrar em contato com Júpiter, para que ele pudesse falar um pouco sobre seu filho, que aparece nas imagens. Mas o deus não foi encontrado até o presente momento.

Nico abriu a boca, não acreditando nas imagens seguintes. Apolo aproximou-se, com uma tigela de frutas secas, sentando-se no sofá.

— O que houve?

— Eu não sei ao certo. Eles acham que Jason está atacando Leo Valdez. Mas isso não faz nenhum sentido.

— Porque você não pergunta para você sabe... o rapaz que ressuscitamos.

Hmm. É uma boa ideia. Mas eu não sei o que está acontecendo, não estou sentindo mais a presença dele 100%. Você acha que isso é normal?

— Sim. — Apolo colocou algumas frutas na boca, lambendo os dedos — Nosso menino acabou de nascer, por assim dizer. Conforme o tempo for passando, eles vai crescendo. Só que não demora tanto quanto um bebê de verdade. Sabe.

— Não. Mas isso não importa. Eu preciso confiar em Percy, ele vai conseguir o livro das Harpias de volta. E Luke vai ajudá-lo.

— Se é o que você quer pensar. Ok. — Apolo pegou o controle remoto. — Posso colocar no Responda ou vá para o Tártaro? Adoro esse programa.

***

Quando acordou, Percy sentiu a boca toda molhada, estava babando. Ele passou a mão na boca, limpando a sujeira.

Eww

Após piscar repetidas vezes, até se acostumar com a claridade do dia, ele olhou pela janela. A ideia de pegar um avião não deu muito certo. Ao chegarem ao McCarran International Airport, uma incontável horda de jornalistas aguardavam o grupo para fazer entrevistas. Outros tantos estavam ali com cartazes apoiando dois lados. Gregos e Romanos. Ninguém estava entendendo nada, até que Leo Valdez resolveu o problema com uma tv de bolsa (presente do papai).

É claro que a história foi totalmente distorcida pela imprensa. E ninguém achou que D. fosse contar a versão dos fatos. Não a verdadeira.

Eles decidiram seguir viagem de ônibus até Utah. A viagem foi mais silenciosa do que poderia imaginar.

Percy ergueu o pescoço, tentando encontrar a poltrona em que Rachel dormia. Não viu nada parecido com uma cabeleira vermelha, então deduziu que ela poderia estar esparramada em duas poltronas. Nas duas poltronas atrás dele estava Luke, dormindo sentado. Ele parecia não ter sido abalado pelo desgaste da viagem, pois sequer um fio de cabelo estava fora do lugar.

Percy decidiu então se levantar.

Ajeitou a camisa que vestia, toda amassada, então não tinha muito o que arrumar. Mas passou as mãos nos cabelos para não parecer tão desleixado. E então Percy parou de pé no corredor do ônibus, pensando no porquê daquela frescura toda.

— Chegamos? — a voz de Andrômeda tirou Percy de seus pensamentos.

— Ainda não. — ele respondeu, e Andrômeda voltou a cabeça para o ombro de Travis.

— Hey. Já de pé? — dessa vez foi Luke. — Nós ainda não chegamos. — Ele olhava para fora da janela.

— Eu só estou procurando Rachel. Não consigo mais dormir, estou tentando pensar num meio de chegar o quanto antes em Nova Iorque, e... você sabe. Conseguir de volta aquele livro.

— Acordar a Rachel não vai fazer a gente chegar mais cedo em Nova Iorque. — Luke moveu a cabeça e pontou para Percy sentar.

Ele fez um pouco de suspense, até que se sentou.

— Não consigo pensar em uma maneira boa para tudo isso acabar. Odeio me sentir assim.

— Você não está sozinho. Não exija muito de si mesmo. Estamos todos aqui para dividir o mesmo peso.

As palavras de Luke causaram um certo alívio para Percy. Eles conversaram sobre a última vez em que o livro foi visto, e levado do acampamento por Charlote. Além dela, ainda tinham os colegas de acampamento de Jason que foram encontrados nos esgotos, junto com as Harpias. A profecia e o ataque a Jason.

— Por que será que eu acho que está tudo ligado? Sinto que estamos seguindo um caminho, onde não tem como ter volta. Sabe? — Percy olhou para Luke.

— Às vezes, nós temos como criar um atalho quando não existe nenhum caminho aberto.

— Mas, dessa vez, é como se estivéssemos que estar aqui. Isso me incomoda, pois eu não planejei estar aqui.

— E se não foi você...

— Alguém planejou.

Ninguém está pronto para a vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora