Ninguém está pronto para: Finais felizes

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Percy estava diante das obras pintadas por Rachel, que ainda secavam ao lado das imensas vidraças do apartamento em que ela morava. O silêncio dominava o ambiente, assim como o cheiro das tintas. O chão de cimento queimado, impregnado com grandes manchas de amarelo e azul, já o vermelho, escorria da última tela que a oráculo/artista, pendurou no cavalete ao lado dos demais quadros.

Com um suspiro pesaroso, Rachel caminhou até o frigobar para pegar duas latinhas e cerveja. Ela não costumava beber, mas não deixaria o amigo sem companhia. Entregou a garrafa para Percy e os dois, parados um ao lado do outro, viraram a garrafa e beberam, admirando depois as pinturas.

A cerveja desceu amarga pela garganta de Percy. Não, não era porque a bebida tinha gosto ruim, mas por ele próprio estar com o paladar alterado pela acidez provocada no estômago, enquanto as imagens das telas à sua frente contavam uma história ao qual não se sabia exatamente quando iria acontecer.

Ele então olhou para Rachel, que forçou um riso sem graça.

— Há quanto tempo você desenhou isso?

— Durante toda a semana. Os primeiros quadros já estão secos, mas aqueles ali não. — Ela apontou na direção de um quadro onde Nico segurava a mão de duas crianças.

— Você tem outros quadros de profecias que ainda não foram realizadas?

— Sim, mas eu não os deixo aqui. — Rachel cruzou os braços, usava uma camiseta preta com alguns furos e o símbolo de uma banda de metal. — Eu aluguei uma garagem para guardar os quadros. Na verdade, são dois pequenos depósitos em Nova Jersey. — Ela abaixou a cabeça, olhando para os tênis sujos de tinta, sem conseguir encarar Percy nos olhos. — Eu pretendo levar esses para lá assim que secarem.

— Não. — Percy disse, fazendo Rachel olhá-lo finalmente. — Pelo menos não todos eles. Se me permite uma sugestão, eu gostaria que aqueles dois ali fossem destruídos.

Ela olhou para as duas peças ao qual Percy apontava com o dedo.

— Eu não posso.

— Quem disse que não pode?

— Percy, eu sou...

— O oráculo, sim, eu já sei. Mas sou eu retratado naquele quadro, e não quero que ele caia em mãos erradas. — Ele caminhou até as obras, analisando-as de perto. — Me desculpe se preço grosseiro, fico feliz que tenha me chamado aqui, mas não posso permitir que Nico veja essas pinturas.

— Faz parte da vida dele também! — Ela ergueu a voz alterada, mesmo sabendo que era quase impossível uma discussão com Perseu Jackson devido ao grande grau de teimosia que regia sua cabeça.

— Rachel, entenda, os seres humanos e até mesmo você antes de tudo isso acontecer, não tem um oráculo para dizer o que está por vir. — Ele coçou a nunca, passando as mãos em seguida no cabelo recém aparado. — Nós sabemos que isso vai gerar confusão.

— Mas também pode ajudar a impedir que se realize. — A voz dela ficou miúda diante da gravidade do assunto.

— Quantas vezes conseguimos mudar o que foi escrito em suas telas? Quantas vezes as profecias foram transformadas?

Não houve resposta. Percy deu de ombros e pegou uma pequena faca em cima da mesa, que Rachel usava para aviar os lápis de desenho. Depois, parou em frente ao quadro onde mostrava Nico di Angelo e ao seu redor uma grande névoa negra, flutuando sobre a cidade em uma possível luta contra algum tipo de aura dourada que formava a silhueta de uma pessoa muito grande. Percy ergueu a faca e enfiou na lona coberta de gesso que formava a tela, destruindo-a. Depois, fez o mesmo com a tela em que o corpo de Percy jazia no chão sem vida e uma batalha e Nico deitado sobre ele.

Ninguém está pronto para a vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora