Ninguém está pronto para: Recomeçar

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Era possível sentir o cheiro de bolo recém-saído do forno logo na escadaria do prédio.

Percy apertou os dedos em volta do corrimão e subiu os últimos degraus que o separava da porta do apartamento de sua família. Antes de bater na porta, ele fechou os olhos, pensando na melhor maneira de aparecer diante de sua mãe, sem que ela desmaiasse ou tivesse qualquer problema cardíaco.

Agora ele possuía a certeza de que não sabia o que estava fazendo. Naquele momento, ele desejou não ter dispensado a ajuda de seus amigos, quando dispensou um por um, dizendo que poderia fazer aquilo sozinho. Decidiu deixar o prédio e pedir para que alguém viesse antes e conversasse com seus pais, assim evitaria danos graves. Mas ele não agiu tão rápido como imaginava, a porta se abriu e Paul saiu no corredor com um saco de lixo preto na mão.

Ele ficou estupefato ao ver Percy próximo a escada, e como não dava mais para fugir, a única coisa que Percy pensou em fazer foi levantar a mão e acenar para o padrasto.

Com certeza foi uma péssima ideia. Pior seria se ele pedisse para Paul manter a calma.

— Calma, não chama a minha mãe agora. — Percy falou baixinho, tentando tranquilizar o padrasto. O que fez parte das péssimas ideias de sua lista de péssimas ideias.

— Sa-sa-sally! — Paul berrou.

— Ótimo, eu acabei de falar para não chamar minha mãe. — Ele levou a mão até a cintura.

— Quem é você? Por que está fazendo isso com a gente? — Paul arremessou o saco de lixo em Percy.

— Sério mesmo? — Ele girou os olhos.

— Me falaram que alguém poderia se aproveitar desse momento, mas não achei que seriam tão desgraçados em imitar meu enteado. Eu vou chamar a polícia. — Paul ameaçou, entrando no apartamento.

— Ah tá! Você vai chamar a polícia, claro, faz isso. — Percy escorou-se na parede. — Não poderia ser uma recepção melhor, passar a noite na prisão depois de ser ressuscitado, eles iriam adorar ouvir a minha história, quem sabe eu consiga uma gaita também.

— Percy...

A voz de Sally fez Percy abrir os olhos e endireitar o corpo, como quando ele era pequeno e fugia da escola, retornava para casa e esperava a mãe ir trabalhar para se esconder no quarto. Mas Sally sempre o pegava no corredor.

— Oi, mãe. — Ele falou, logo em seguida sentiu Sally pular em cima dele, num abraço apertado.

Percy precisou responder muitas perguntas, e não imaginava que conseguiria respondê-las tão rápido e em tão pouco tempo. Mas tudo ainda estava muito confuso. Desde a sua morte, ou melhor, o coma, até a visita ao mundo inferior, encontro com juízes, Nico príncipe dos mortos, mais gótico que isso ele duvidava que poderia acontecer. E, por fim, a luta dos amigos para abrir um portal e trazê-lo de volta.

Paul ainda o olhava boquiaberto, enquanto Sally não parava de beijar o rosto do filho, até que eles ouviram um choro de bebê.

— Sua irmã deve estar com fome. — Sally limpou as lágrimas.

— Minha irmã? — Agora foi Percy que abriu a boca. — É verdade, você estava grávida, o que aconteceu?

— Depois do seu enterro... — Sally parou de falar, sentindo um peso no coração com aquelas palavras. — Depois de acontecer tantas coisas, eu acabei indo para o hospital e foi preciso fazer uma cesariana.

— Mas não se preocupe, Sarah é muito forte, ela é bem grande para um bebê que nasceu de sete meses. — Paul afirmou, segurando a mão de Sally. — Elas duas são muito fortes. Sua mãe não desistiu de você, Percy. Todos os dias ela dizia que você voltaria.

Ninguém está pronto para a vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora