MAITÊ
– Cadê o Guilherme Douglas? Me responde!
– É... vo... você... precisa se acalmar.
Douglas gaguejou e isso só piorou minha situação, tinha algo errado.
– Vou me acalmar quando você me dizer o que está acontecendo.
– Princesa eu vou te contar mas se acalma. Pelo seu bem e do bebê.
Fechei meus olhos e respirei fundo, Dodô tinha razão, tenho um serzinho dentro de mim e preciso me acalmar. Concentrei na respiração, tentando acalmar meu coração.
– O que aconteceu com o Gui?
Questionei com a voz embargada, por mais que eu tentasse me acalmar, era impossível, a angústia em meu peito só piorava, já sei que o que vou ouvir a seguir não será nada bom.
– Eu liguei para ele para avisar, mas Guilherme desligou na minha cara e não me deixou terminar. - ele fez uma pausa, abri meus olhos e o encarei.
– Continua...
– Princesa eu não sei ao certo o que aconteceu.
– Só me fala logo Dodô, já sei que não vai vir coisa boa.
– Eu conheci o pai do Guilherme...
Dodô falava e as palavras ecoavam na minha cabeça, quando ouvi ele dizendo que Gui havia sofrido um acidente, meu mundo desabou, primeiro minha casa, agora o amor da minha vida? Não é possível!
As lágrimas invadiram meu rosto sem permissão, um filme passava pela minha cabeça dos momentos de nós dois, só queria que isso tudo fosse mentira, que eu estivesse em um pesadelo e ao acordar, não passou disso.
– Ei, ele está bem, vai ficar tudo bem! Não tenho nada mais de informações do que isso.
Senti seus braços me acolhendo, enquanto em mim, tudo desmoronava. Levei minha mão para minha barriga e apertei com força o tecido daquela camisola de hospital, Gui não pode nos deixar, não mesmo, como eu vou cuidar de um ser tão pequeno sozinha? Tá eu sei, não vou estar sozinha mas não terei forças sem ele, não posso viver sem o amor da minha vida.
Chorei, chorei e chorei, Douglas tentava me acalentar e me confortar dizendo que tudo iria ficar bem, que não estava sozinha. Meu corpo pedia por descanso, me sentia uma inútil nesse momento, sem poder fazer nada ou ter forças para saber como Gui estava. Meus olhos pesavam e deixei me levar pelo cansaço.~~
DOUGLASVer Maitê nesse estado cortava meu coração, não queria preocupa-lá mas sou um péssimo mentiroso, ela me conhece na palma da mão, mesmo que eu quisesse mentir, ela saberia. Assim que ela adormeceu, sai do quarto e liguei para o número que estava no cartão que recebi do pai de Guilherme.
– Senhor Appolinario falando.
– Oi senhor Appolinario, é Douglas, o rapaz do hospital.
– Ah Douglas... - sua voz saiu falha e parecia entristecida. – Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa com minha nora e meu neto?
– Não, ela e o bebê estão bem. Estão descansando. Liguei para saber do Guilherme.
Houve uma pausa do outro lado da ligação, consegui ouvir uma voz abafada e logo um grito.
– NÃÃOOOOO! NÃÃOO PODE SER!!
– Senhor?
Tentei chamá-lo mas foi em vão, o tu-tu-tu começou a ecoar na ligação. Olhei para a tela do celular, a chamada havia sido desligada, senti meu coração acelerado, porra o que foi aquilo? Tentei retornar, uma, duas, três, quatro vezes e sei lá mais quantas, não obtive sucesso.
– Merda!
Dei um chute na parede, passei a mão pelo meu cabelo e apoiei um dos braços sobre a mesma, abaixando meu rosto e fechando os olhos com força, sem saber o que fazer ou o que estava acontecendo, aquele grito, era de uma mulher.
– Douglas?
Me virei assim que ouvi meu nome, encontrando com Aline e Bruno. Ela correu em minha direção.
– O que faz aqui? Maitê? Está tudo bem?
– Sim ela está bem. Ela e o bebê estão bem. - Analisei os dois que me olhavam com uma expressão preocupada. – Sabem alguma coisa do Guilherme?
Eles se entreolharam confusos.
– Não, aconteceu alguma coisa com ele? - Bruno questionou receoso.
Olhei para cima pedindo forças pro cara lá de cima, deixei um suspiro pesado sair dos meus pulmões e voltei a encara-los, expliquei que havia encontrando o pai dele aqui, do tal acidente e até então da ligação.
– Ai meu Deus!
Aline levou a mão até a boca e seus olhos já encheram de lágrimas, Bruno a abraçou, seus olhos se arregalaram.
– Que hospital ele está?
– Eu não sei Bruno, na hora não questionei o pai dele.
O clima ficou pesado, Bruno tentou ligar para senhor Fernando e até para o número de Guilherme, mas sem sucesso também. O desespero tomava conta de todos nós agora sem ter notícias do nosso amigo e quando Maitê acordar, o que dizer a ela?
Fui até a recepção perguntar por dona Lurdes, segundo a moça ela passava bem e tanto ela, quanto a filha, precisariam ainda ficar em observação por vinte e quatro horas, como estou de acompanhante de Maitê, poderia ficar para acompanhá-la.
Aproveitei que Aline e Bruno estavam ali e fui para casa tomar um banho e pegar algumas coisas que eu precisaria para passar a noite no hospital. Durante o banho, meus pensamentos era no Guilherme, pedi ao senhor lá de cima, que o protegesse, que não deixasse nada acontecer com ele, minha amiga precisa desse cara aqui, bom, dizem que notícias ruins chegam cedo não é? Se até agora não chegou nada, acredito que tudo irá ficar bem.
Voltei para o hospital, Aline e Bruno continuavam na sala de espera, nenhum dos dois ainda haviam conseguido contato com a família do Guilherme, a situação só piorava. João apareceu desesperado e quando soube do acidente do nosso amigo, saiu correndo dizendo que iria rodear todos os hospitais possível para achá-lo.
– Douglas o que irá dizer para Maitê?
– Ela já sabe do acidente Line. Minha preocupação é como ela vai reagir ao saber que não temos nenhuma notícias ainda dele.
Aline soltou um suspiro pesado, se aproximou de mim e me abraçou, seus olhos já estavam vermelhos por provavelmente ter chorado.
– Vamos pensar positivo, Gui esta bem, ele vai ficar bem!
Olhei para Bruno que me deu um aceno de cabeça, mas seu olhar não negava a preocupação que continha. Por fim, voltei para o quarto, Maitê não foi liberada para visita então eles não poderiam entrar mas prometemos uns para os outros, que quando tivesse qualquer fosse informações, que nos comunicássemos.
Não foi nada fácil, a primeira coisa que Maitê me perguntou ao acordar, lógico que foi de notícias do Gui, então tive que inventar a desculpa que meu celular havia descarregado, recém eu fui para casa pegar umas coisas e o carregador, que inclusive meu celular estava agora carregando.
– Liga para o pai do Gui agora então Dodô.
– Princesa aqui não funciona área.
– Então vai lá fora.
Me aproximei dela, levei minha mão para entrelaçar na sua, olhei dentro dos seus olhos.
– Eu vou tentar está bem? Mas não vou deixar você sozinha agora. Precisa comer e sua comida está esfriando, vamos, quer que eu faça aviãozinho?
Em meio a todo esse caôs, consegui arrancar uma risada dela, até tentei brincar com ela, fazendo um aviãozinho. Consegui distraí-la por um tempo, mas a mesma me fez prometer que quando ela pegasse no sono, eu fosse pra rua tentar fazer a ligação e que a acordasse para dar notícias dele.~~
GUILHERME– Papai vemmm!
– Te peguei!!
– Ahhhh!
As risadas ecoavam como músicas para o meu ouvido, parecia cena de um sonho! Maitê e uma menininha que me chamava de pai, brincavam em um campo. Enquanto ela fazia cócegas a menina gargalhava, meu coração batia acelerado, o sorriso em meu rosto era o maior do mundo! Fiquei sentado admirando as duas.
– Peguei você papai!
Ela se jogou em meus braços, que sentimento avassalador! Fiz cócegas enquanto ela pedia para parar e gargalhava. Maitê se aproximou e se sentou ao meu lado ofegante. A menina se levantou e em seguida abraçou nós dois.
– Vocês são os melhores papais do mundo!
Sorri e as envolvi com força em meu abraço, Maitê sussurrou em meu ouvido:
– Amo você!
Antes mesmo que eu pudesse responder, senti um vazio, tudo ficou escuro e não enxergava nada além de preto. Me senti agoniado, forcei abrir os olhos mas parece que havia algo me impedindo. Comecei a me debater, não demorou para eu sentir algo como se fosse um choque em meu corpo, uma, duas e três vezes....(...)
Meus olhos estavam pesado, pisquei algumas vezes podendo enxergar uma luz branca, minha cabeça parecia que ia explodir, o som do aparelho controlando os batimentos cardíacos ecoavam.
– ...
Tentei falar mais foi em vão, parece que simplesmente as palavras sumiram e eu não sabia mais pronunciar nada. Minha visão aos poucos foi ficando clara, enxergando o monitor monitorando os batimentos, desviei o olhar encontrando com um soro, acompanhando a mangueira que dava direto em meu braço. Me observei, estava vestindo um daqueles avental de hospital, eu estava num hospital?
– Maitê?
Pronunciei seu nome com dificuldade, um homem de jaleco branco, cabelos grisalhos, um rosto desconhecido para mim, apareceu na minha frente.
– Está me ouvido rapaz?
Uma luz forte atingiu meus olhos, me fazendo fechar imediatamente, senti seus dedos abrindo os mesmos, era uma lanterna, ele estava verificando as minhas pupilas.
– Amor, que susto você me deu!
Senti um braço me envolvendo em um abraço apertado, aquele cheiro, não era Maitê! Abri novamente os olhos, com o braço livre, a afastei.
– Bianca o que faz aqui?
– Amor sou eu... sua noiva. – Ela sorriu e acariciou meu rosto.
– Nós não somos...
– Doutor pode nos deixar a sós por favor?
Ela me interrompeu e se virou para o médico. Ele saiu sem questionar, assim que a porta se fechou, Bianca se voltou a me encarar, abrindo um sorriso doentio.
– O que está fazendo aqui?
– Está delirando meu amor? Sou eu, sua noiva!
Franzi minha testa, eu não estou ficando louco!
– Não somos noivos há um tempo Bianca. Onde está Maitê?
Ela revirou os olhos, fez careta e se virou, caminhando até sua bolsa e mexendo na mesma.
– Maitê! Maitê! Maitê! Que saco, parece que só existe essa garota agora!
Ela pega algo e volta para perto de mim, sua mão atrás das suas costas.
– Sabe amor, eu queria que você ficasse comigo por bem mas já que não tenho escolha...
Em um movimento rápido, ela trás seu braço e sinto algo espetando na minha pele, desvio o olhar e percebo uma seringa, enquanto ela aperta e arde no local.
– Bianca...
– Shhh... meu amor, vai ficar tudo bem. Prometo que iremos ser muito felizes juntos, você nem irá se lembrar que um dia, aquelazinha existiu. Sempre foi eu sua noiva e para sempre será nós dois.
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Uma parte de mim
RomanceMaitê Dias, uma garota humilde que cresceu sem a presença de um pai, sua única família é sua mãe que dá a sua vida por ela, e seu melhor amigo que a protege de tudo e de todos como um irmão, até entrar na universidade e conhecer um cara que irá vira...