LUCCA
Eu não cresci em uma família feliz, cheia de harmonia. Até meus oito anos, cresci com meus pais juntos, eles se brigavam muito e eu detestava ver os dois gritando um com o outro, a separação veio para trazer um pouco de paz de certa forma.
Passava muito mais tempo com minha mãe, do que com meu pai mas ele nunca deixou de estar presente na minha vida, sempre fez tudo por mim. Sou um rapaz de família, vivo por eles e faço qualquer coisa pelos dois.
Aos meus dezessetes anos, quando minha mãe ficou doente, implorei para que meu pai voltasse para casa, eu sabia que ainda o que ela sentia por ele, estava presente dentro do seu coração, a peguei várias vezes nesses anos todos, olhando para as fotos deles juntos e chorando no silêncio da noite, tentei por diversas vezes, fazer com que ele voltasse para nós mas a única coisa que ouvia era: "Meu filho, eu e sua mãe não existe mais nós, é complicado, um dia você irá entender".
Foram dois anos difíceis, dolorosos e maldosos, não desejo para ninguém passar por essa maldita doença. Foi tudo tão rápido, as coisas aconteceram em um piscar de olhos, mudamos de cidade, apesar de meus pais não viverem como um casal, meu pai estava tentando fazer de tudo para ajudá-la, sei que é por minha causa que ele estava fazendo isso.
O estado da minha mãe se agravou com uma pneumonia, ela ficou quarenta e cinco dias internada, meu pai estava inquieto, dizia poucas palavras, ele não era o mesmo homem desde que havíamos chego nessa cidade. E o pior veio acontecer, o falecimento da minha mãe.
Me senti perdido, um inútil por não poder ter feito nada para salvá-la, minha vontade era de parar com tudo, o que eu vou fazer agora sem ela? Mas eu não podia parar, ela me fez prometer nos seus últimos dias de vidas, que eu continuaria correndo atrás dos meus sonhos, me formaria e me tornaria em um excelente profissional.
Fiz umas amizades legais na universidade, pessoas que estão me ajudando a passar pelo processo de luto, principalmente a garota grávida, Maitê, que recentemente havia perdido sua casa e seu noivo, que barra! Passei a admirar por ter forças em continuar.
Meu pai andou umas noites fora de casa, o que nunca havia acontecido, a não ser seus dias que trabalhou de plantão, mas se fosse isso ele me avisaria. Eram quase uma hora da manhã, quando recebi a ligação de um número estranho, tentei recusar duas vezes mas na terceira, resolvi atender.
– Alô?
– Filho? Me desculpe pela hora, te acordei?
– Pai aonde você está?
Um silêncio reinou na linha por uns minutos, apenas sua respiração era o que eu escutava.
– Pai?
– Olha eu... eu posso te explicar mas não tenho muito tempo agora. Lucca nunca se esqueça que eu te amo? Ouviu? Nunca! Nunca duvide disso.
– Pai o que está acontecendo?
– Eu estou na delegacia e não sei quando volto para casa.
– O que o senhor aprontou?
– Me perdoe meu filho. Eu te amo!
E essas foram suas últimas palavras, ele desligou na minha cara, sem esperar por uma resposta.(...)
Agora nesse exato momento, estou parado em frente a uma janela enorme, assistindo e ouvindo tudo o que meu pai dizia para Maitê, incrédulo com o que estava escutando, como ele teve a coragem de fazer isso? Ele traiu a minha mãe? Ela sabia disso? Ela nem está mais aqui para poder se defender!!!
Comecei a bater naquele vidro com força, tamanha era a raiva que crescia dentro de mim, sem pensar duas vezes, invadi aquele espaço voando para cima dele, ouvindo um dos policiais.
– GAROTO NÃO!
– Que porra é essa que você está dizendo?
O sacudi, seus olhos se arregalaram, suas mãos se levantaram em rendição. Fui puxado a força por dois polícias, minha cabeça estava prestes a explodir, sua voz ecoava na minha cabeça"Eu passei malditos dezoitos anos me culpando por ter deixado para trás, uma filha."
– Cara você ficou maluco? - Encarei Douglas que me olhava preocupado.
– Me soltem!
– Não faça nenhuma besteira garoto.
Os policiais me soltaram e corri, saindo daquele lugar que estava me sufocando. Ao sair da delegacia, pude finalmente respirar, olhei para cima e as lágrimas invadiram com força meu rosto, como ele teve coragem de esconder isso por tantos anos? Eu nunca imaginei que meu pai fosse capaz disso, e como ele explica a morte falsa do tal rapaz?
Aproveitei que um táxi havia parado para deixar alguém em frente à delegacia e o peguei, pedindo para que me levasse para um bar, era o único lugar que eu poderia tirar todo esse sentimento que estava me consumindo e desabafar com um barmen qualquer.
Meu celular tocou por várias e várias vezes, perdi as contas de quantos copos de whiskys eu já havia tomado, o barmen deveria já estar cansado de me ouvir pela cara que estava fazendo e o sermão que estava me dando, dizendo que não iria mais me servir nenhuma dose, que eu já estava embriagado demais e isso não eram horas para eu estar bebendo.
– Me da esse celular aqui garoto.
Ele retirou da minha mão assim que eu ia mais uma vez, recusar a chamada.
– Ele está no bar Lusian... O garoto está muito mal... ok...
– Porque você disse aonde eu estava? - Perguntei atropelando as palavras. – Você não deveria ter feito isso.
– Estou salvando a sua vida, vai me agradecer por isso.
Ele me entregou o celular e deu as costas, indo atender um cara. Bebi o último copo no qual ele havia me servido, abaixei a minha cabeça, encostando no balcão e fechei meus olhos, eu preciso ir embora antes que a pessoa no qual ele me entregou, apareça.
Levantei a cabeça e senti tudo girar, me apoiei no mesmo para me levantar, fiquei de em pé e ao dar o primeiro passo, atropelei meus próprios pés e cai, me esbarrando ao banco ao lado.
– Ei garoto. - O barmen rapidamente estava ao meu lado me segurando. – Você está sem condições de andar, eu avisei.
– ...
Apenas resmunguei, ele passou meu braço por cima do seu ombro, pedindo ajuda para um dos seus colegas e me carregaram, só senti me jogando em um lugar macio, parecia ser um sofá.
– Fique quieto aí, a sua garota já está vindo te buscar.
Sem forças para questionar, fechei meus olhos para ver se aquela tontura e dor de cabeça passava.
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Uma parte de mim
RomanceMaitê Dias, uma garota humilde que cresceu sem a presença de um pai, sua única família é sua mãe que dá a sua vida por ela, e seu melhor amigo que a protege de tudo e de todos como um irmão, até entrar na universidade e conhecer um cara que irá vira...