A DOR DE DUTCH

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Depois que o acampamento já estava organizado, todos se dirigiram a uma bela campina, onde o corpo de Molly foi sepultado sob uma árvore. Enquanto o reverendo fazia uma breve pregação, as lágrimas rolavam pelo rosto de Dutch, pois somado a dor da perda havia o sentimento de culpa por tudo que acontecera.

Terminado o funeral, todos voltaram para o acampamento, onde tentaram cuidar de seus afazeres normais. Um terrível silêncio reinava no local e até os cavalos estavam abalados, mesmo Molly não tendo sido a pessoa mais simpática da gangue. Eles estavam tristes por seu viúvo, que permanecia sentado de cabeça baixa em um banco sob uma árvore.

Com pena do dono, Conde se aproximou para lhe oferecer seu carinho, mas de nada adiantou e resolveu se afastar. Foi então que Hosea apareceu e o cavalo o abordou preocupado:

‒ Já tentei de tudo para alegrá-lo, mas não tive sucesso...

‒ Ele está com o coração partido. Isso dói muito e pode levar um bom tempo para curar.

‒ Por favor, fala com ele. Não aguento ver meu amigo desse jeito...

‒ Fique tranquilo, rapaz. Foi por isso que vim aqui.

Sentando ao lado do amigo, Hosea não sabia o que dizer para confortá-lo, até que Dutch falou com tristeza:

‒ A culpa é toda minha...

‒ Como assim?

‒ Se eu não tivesse provocado o Leviticus Cornwall, não teríamos sofrido o ataque de ontem e a Molly... ainda estaria viva. Sou o culpado por todas as nossas tragédias e acho que a perda de minha esposa foi um castigo divino ou um aviso para eu desfazer essa gangue.

‒ O quê? Não pode estar falando sério.

‒ Não posso mais arriscar a vida de nenhum de vocês.... Sou eu que tenho que pagar por meus erros e ninguém mais.

‒ Mas, Dutch!

‒ Não tem outro jeito, meu amigo...

Hosea ainda quis tentar tirar essa ideia de sua cabeça, mas ao ver que ele estava aos prantos outra vez, resolveu lhe dar um tempo a sós consigo mesmo. Susan observava toda a cena à distância e quis oferecer um ombro amigo ao holandês, mas com medo de dizer a coisa errada, resolveu ficar quieta.

Nesse momento, Jack passava pelo local e ao ver Dutch naquele estado, resolveu se aproximar e tocando em seu ombro esquerdo, falou:

‒ Não chora, tio. Agora a tia Molly está morando com Deus e não vai querer que o senhor fique triste desse jeito.

Ouvindo isso, o homem ergueu a cabeça e o abraçou emocionado, pois suas palavras haviam tocado seu coração. Sabendo de sua ideia de desfazer a gangue, Marilia também foi falar com ele e ficou comovida com essa cena, que ainda durou mais alguns segundos.

Quando o garoto sentou ao lado do "tio adotivo", a moça se aproximou e sentou à direita do holandês. Engolindo em seco, ela quis saber:

‒ Meu pai me disse que o senhor quer desfazer a gangue. Isso é verdade?

‒ Sim, minha filha. É o melhor para todos.

Jack ficou chocado ao ouvir isso, mas como não podia se meter em conversa de adultos, teve que ficar calado. Olhando nos olhos de Dutch, Marilia disse aflita:

‒ O senhor não pode fazer isso. Ao criar a gangue e resgatar tantos necessitados e desamparados, acabou formando uma família. Nós amamos e protegemos uns aos outros nas situações mais difíceis e foi por isso que conseguimos sobreviver ao ataque de ontem. Sei que está triste com a perda da Molly, mas saiba que estamos aqui para te ajudar.

Segurando suas mãos, a moça prosseguiu:

‒ Sei que ainda sou novata no grupo, mas já amo todos aqui e não posso perdê-los. O senhor acolheu a mim e ao meu irmão quando mais precisamos e nunca vou me esquecer disso. Posso sentir que ama a todos nós como filhos e tem medo que a gente se machuque, mas deve acreditar que se estivermos juntos, tudo vai dar certo. Não desista da nossa família, paizinho. Por favor...

‒ Falou bonito, tia. ‒ Jack a parabenizou.

Tirando um lenço do bolso do colete, Dutch enxugou suas lágrimas e sorrindo, abraçou e beijou os dois, dizendo:

‒ Vocês têm razão, meus filhos. Não posso deixar que a tristeza e o medo me façam desistir de minha família querida.

Na hora do almoço, o homem pediu um minuto de atenção a todos:

‒ Pessoal, graças ao Jack e a Marilia, entendi que não posso deixar a dor da perda me consumir e que não somos apenas uma gangue, mas uma grande família. Cada um de vocês é meu irmão, meu filho ou meu sobrinho e como chefe de família, devo zelar pela segurança e o bem-estar de todos, portanto, precisamos nos mudar outra vez, pois Valentine não é mais segura para nós.

‒ E para onde vamos agora? ‒ Karen perguntou.

‒ Para Rhodes. Então, arrumem suas coisas e se preparem, pois partiremos ao amanhecer, mas nesse momento, vamos apenas apreciar esse momento em família e agradecer por estarmos todos aqui.

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