RED STORY

SENTIMENTO INAPROPRIADO

Como viajar à noite sempre era mais complicado, Marilia e Águia Voando tiveram que acampar em um local seguro. A moça ficou aflita com essa ideia, pois cada minuto que passava ao lado do rapaz a deixava mais confusa, mas como ela e Baylock estavam exaustos, teve que aceitar.

Por mais que tentasse, a moça não conseguia pegar no sono e resolveu sentar e esperar o dia amanhecer. Enquanto olhava a lua e tentava organizar os pensamentos, sentiu a presença de alguém ao seu lado e temendo que fosse algum malfeitor, já sacou sua arma e se virou bruscamente, mas era apenas Águia Voando, que levantou as mãos e sorriu:

‒ Calma, mocinha. Sou só eu.

Respirando aliviada, ela se levantou e disse:

‒ Você me assustou. Pensei que fosse algum vagabundo atrás da gente.

‒ Pelo jeito, você está pronta para tudo.

‒ Nem tanto. Ainda estou aprendendo. Há menos de 1 ano, eu e o Mike vivíamos em paz em nosso rancho em Blackwater, mas tudo mudou quando os O'Driscolls nos atacaram e fomos forçados a fugir para as montanhas. Foi aí que conhecemos a gangue e encontramos nosso pai.

‒ Essa é uma história e tanto. Você gosta dessa nova vida?

‒ É uma vida difícil, mas pelo menos temos uns aos outros. Somos uma grande família.

‒ E o seu noivo? Ele também é da gangue?

‒ Bem, ele é o filho do ferreiro da gangue, mas quando resolvi me tornar uma integrante oficial (participando de assaltos, tiroteios e perseguições), ele e o Mike seguiram meu exemplo.

‒ Você é uma garota inspiradora. Tem a aparência de uma flor delicada, mas é mais feroz que uma pantera. Gosto de mulheres assim.

Marilia ficou toda vermelha e sentiu um leve calafrio quando foi tocada no ombro. Assustada e envergonhada, ela se afastou e fingiu que estava com sono, indo para sua barraca. Seu coração estava disparado e o sangue fervendo, enquanto um enorme sentimento de culpa tomava conta de seu interior, pois achava que estivesse traindo Ricardo.

A moça estava tão desesperada, que pensou em fugir dali, mas não queria perturbar o sono de Baylock ou ofender Águia Voando, que tinha sido tão gentil com ela. Tudo que ela mais queria era que amanhecesse depressa, para poder voltar para casa, mas os minutos pareciam se arrastar, o que só aumentava sua agonia.

Quando o sol finalmente despontou no horizonte, um grande alívio invadiu o coração de Marilia, pois era hora de seguir viagem. Muito gentil, o índio se ofereceu para caçar algo para o café da manhã, mas ela disse que não era necessário, pois tinha pressa em voltar para casa.

Depois de desarmar seu acampamento improvisado, ambos partiram. Quando chegou a Shady Belle, a moça ficou muito feliz em reencontrar a gangue, que a parabenizou por sua coragem e quis saber tudo sobre sua missão em Valentine.

Abraçando a filha, Hosea estava muito aliviado por vê-la sã e salva e agradeceu a Águia Voando por tudo, mas ele disse:

‒ Foi sua filha quem salvou o dia. Ela é forte, corajosa, inteligente e fez muito por meu povo. Serei eternamente grato.

Apertando a mão do índio, Dutch disse:

‒ Sempre que você ou seu povo precisarem de alguma ajuda, podem contar com a gente.

‒ Muito obrigado, senhor.

‒ Pode me chamar só de Dutch.

Enquanto os dois conversavam, Marilia deu um jeitinho de escapar com Baylock. Ela ainda estava aflita e mal podia esperar que o rapaz fosse embora, para ver se o seu coração se acalmava.

Quando ele partiu com Nuvem Branca, a moça respirou aliviada e foi cuidar de seus afazeres. Por mais que tentasse se distrair ajudando na cozinha, ela não conseguia esquecer o olhar puro do índio, sua voz tranquila e o modo gentil como havia tocado em seu ombro. Esses simples pensamentos faziam seu corpo formigar e o sangue ferver de modo lascivo.

Ela estava tão nervosa, que acabou cortando o dedo enquanto picava legumes. Preocupado, Sr. Pearson a ajudou a estancar o sangramento, mas em seguida, ela disse apressadamente:

‒ Eu adoraria continuar ajudando o senhor, mas preciso ir. Desculpe.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Marilia saiu correndo em busca do Reverendo Swanson. Quando o encontrou, ela disse aflita:

‒ Graças a Deus que encontrei o senhor.

‒ O que aconteceu? Está tão pálida...

‒ Eu preciso me confessar. Por favor...

‒ Confessar? O que você fez?

Percebendo o seu desespero, ele não fez mais perguntas e a levou até seu quarto, trancou a porta e pediu que se sentasse. Mais calma, ela contou o que a afligia e o religioso quis saber:

‒ Em algum momento, você beijou ou foi para a cama com esse rapaz?

‒ Que horror! Não mesmo.

‒ Pois então, por que está tão preocupada?

‒ Porque não consigo parar de pensar nele. Eu estou noiva do Ricardo e não deveria ficar pensando em outros homens!

‒ Mas você ainda não casou. Ainda é uma mulher livre.

‒ Mas e se eu estiver me apaixonando pelo Águia Voando? Não posso amar dois homens ao mesmo tempo! É cruel, desprezível, impróprio...

‒ Fique calma. Vamos orar para Deus te ajudar.

Depois da oração, a jovem se sentiu mais leve e pôde voltar a sua rotina normal. Na hora do almoço, ela contou cada detalhe de sua aventura, sendo motivo de orgulho para o pai e todos que a amavam.