Capítulo 2 - Nanon

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Eu fico andando pela sala minúscula que o Mark tem na faculdade, enquanto tento entender o que aconteceu ontem. Eu saí de lá, mas algo parecia estar me chamando, quanto mais eu me afastava, mais parecia que algo estava me puxando de volta, mesmo quando cheguei em casa ainda queria voltar para ele.
- Tem que ter alguma coisa Mark, qualquer coisa.
- Nanon, você sabe que muitos documentos considerados hereges foram destruídos pela igreja no decorrer dos anos, então a maioria das coisas que conseguimos para estudar são fragmentos do que sobrou ou poemas abertos a interpretação.
- E na igreja, não consegui nada?
- Conversei com um abade, ele ficou de ver se descobre alguma coisa, eu disse que era para a minha tese. Já pensou em perguntar para os outros anjos?
- E colocar um alvo nele? Nem pensar, se alguém vai ter aquele coração, serei eu.
- Ok, me conta o que aconteceu, até agora você só ficou andando para lá e para cá fazendo perguntas sem sentido.
Eu passo a mão pelos cabelos e penso no que aconteceu.
- Ele me beijou.
- Como é que é?
Ele levanta e fica me olhando espantado.
- Sim, ele me beijou e foi estranho, eu senti que estava voando.
- Quer dizer que ficou excitado ou algo assim?
- Não, voando mesmo, como quando eu tinha asas. A minha mente ficou nublada.
- Como se tivesse em uma viagem de ácido?
- Não tenho ideia, mas eu não conseguia pensar direito, mesmo tentando muito.
- Ok e depois?
Eu paro e olho para ele.
- Ele tocou a minha cicatriz.
- Você deixou? Achei que doesse como se você tivesse tendo as asas arrancadas de novo.
- Eu já falei que não conseguia pensar direito e não foi assim com ele, eu não senti dor.
- Então...?
Eu volto a andar.
- Eu senti o que ele estava sentindo e pensei o que ele estava pensando.
- Do mesmo jeito que você lê mentes?
- Não, quando eu escuto vocês é como um rádio, eu escuto mesmo, mas ele foi diferente, é como se os pensamentos fossem meus.
- E o que ele estava pensando?
- Coisas sobre sexo.
- Ele queria comer você?
Eu paro e olho para ele.
- Tem certeza que você queria ser um padre?
- Não me julgue, você é um anjo que andou beijando alguém que quer matar. Ok, ele queria transar e depois.
- Quando eu percebi o que estava acontecendo eu saí de lá.
- Você fugiu?
- Não! Sim... Mais ou menos.
- E o anjo que te deu a dica sobre ele?
- É um serafim, não tenho como entrar em contato, ele estava em uma missão e só me disse que ficou sabendo de um nefilim na região que era baterista em uma banda, o que foi muito vago, então tive que ir a várias apresentações até achar ele.
- Isso é estranho.
- Falando em estranho, você descobriu sobre Nefilins com a idade dele?
- Nenhum nos últimos três mil anos, normalmente eles são descobertos quando crianças.
- E sobre a lenda, não encontrou mais nada?
- Não. Escuta Nanon, eu não tenho muita certeza sobre essa história, como matar alguém pode te ajudar a ir para o céu?
- O coração vai ser a chave, então a morte não é importante.
- E o que você vai fazer?
- Eu não sei, mas vou ficar de olho nele até descobrir.
Eu vou até a porta, então olho para ele.
- Se descobrir alguma coisa me liga, se não aparecer nada eu mato ele e tento a sorte.

Chego no bar e ainda está vazio, apenas algumas pessoas espalhadas. O palco também está vazio, peço uma cerveja e fico esperando, estou ansioso não sei porque.
Alguém coloca um copo de cerveja na minha frente e se senta.
- Boa noite anjo!
Eu olho para ele e fico feliz, o que é um mau sinal. Penso no que fazer, se eu me aproximar é mais fácil de descobrir mais sobre ele.
- Nanon, meu nome é Nanon.
- Prefiro anjo, você tem uma aura pura como a de um anjo, mas muito prazer Nanon, Ohm.
Ele estende a mão e eu não tenho certeza se quero tocar nele. Aperto a sua mão e aquela energia se espalha pelo meu corpo. Ele se aproxima e pergunta no meu ouvido.
- Você também sente isso, não sente?
Fecho os olhos e mais uma vez sinto que estou flutuando, adoro essa sensação.
- Vamos sair daqui Nanon?
Ainda segurando a minha mão ele começa a me puxar.
- Me desculpe, mas eu não ...
- Não se preocupe, eu não vou fazer nada do que você não queira, só vamos sair daqui.
Ele me puxa mais uma vez e eu decido ir junto. Vamos para a porta e eu estranho.
- Você não vai tocar?
- Hoje é quinta, dia de karaokê.
- O que você estava fazendo aqui?
- Procurando por você.
Ele sorri, faz um sinal para o segurança e saímos. Chegamos em um carro, ele destrava e abre a porta e espera, eu fico parado do lado de fora sem saber o que fazer, eu sei que é melhor ir embora, mas não consigo.
- Vamos lá anjo.
Eu olho para ele, mas ainda assim não me movo. Ele fecha a porta, vem na minha direção, passa a mão de novo pela cintura e me beija, eu nem se quer tento resistir, eu quero voar, eu acho que no fim foi só por isso que eu vim aqui, por isso eu estava ansioso, por isso eu queria voltar para ele ontem, era isso que estava me puxando, o desejo de voar.
Ele se afasta e abre a porta de novo, me olha e pergunta.
- O que você quer anjo?
- Eu não sei.
- Você sabe o que quer, só tem que ter coragem.
Ele faz um sinal com a cabeça para o carro, eu desisto e entro. Ele dirige por uns dez minutos então entra em um prédio, estaciona e sai do carro, eu tento não pensar muito e saio também. Ele segura a minha mão e aquela energia toma conta de mim. Vamos para o elevador e então para o seu apartamento. Quando entramos ele se aproxima e me encosta na porta.
- O que você quer anjo?
Eu o olho e tenho certeza que não deveria ter vindo aqui, não quando sei que vou matar ele, mas eu quero sentir de novo, por isso estou aqui. Eu me aproximo, beijo ele e começo a voar. Ele começa a passar a mão pelo meu corpo enquanto me beija, quando se afasta eu tenho dificuldade para clarear a mente. Ele fica me olhando entao pergunta.
- Você está em algum relacionamento Nanon?
- Não.
- É hetero?
Eu penso sobre isso, mas anjos não são assim.
- Não.
- O que você quer anjo?
- Eu não sei.
- Você sabe o que quer anjo, tenha coragem.
Ele estende a mão e espera, eu seguro ela e ele começa a andar, abre a porta e entramos no seu quarto. Olho em volta e é um quarto de um homem jovem e solteiro, coisas aleatórias espalhadas, a maioria sobre música, algumas peças de roupas aqui e ali, mesmo assim o quarto é organizado.
Ele se aproxima e começa a me beijar enquanto tira a minha roupa. Ele se afasta e começa a tirar a própria roupa e eu observo, ele com certeza é um dos seres mais perfeitos que Deus criou.
Ele volta a me beijar, mas dessa vez ele está mais ansioso, o seu beijo e mais urgente, o seu toque mais firme. Ele passa as mãos pelas minhas costas e vai subindo, quando toca na minha cicatriz eu sinto, ele está tentando ir com calma, mas ele só quer estar dentro de mim, eu só quero estar dentro dele, quero foder e ouvir ele gritar, ele está excitado, eu estou excitado.
- O que você quer anjo?
- Eu quero te foder!
Ele se afasta e vai para a cama, pega uma camisinha na mesa ao lado e coloca na barriga, fica me olhando e espera. Depois de um tempo ele me olha assustado.
- Você já fez isso antes anjo?
- Não.
- Nunca?
- Nunca.
- Nem com homem ou com mulher?
Eu nego. Ele coloca a camisinha na mesa de novo, se cobre com um lençol e estende a mão.
- Vem aqui comigo, não precisamos fazer isso.
Eu me aproximo e sento ao lado dele, fico olhando para alguém que eu vou matar, mas por algum motivo não consigo me afastar.
- O que você quer anjo?
- Eu quero voar...
- O que isso quer dizer?
- Posso te beijar?
Ele sorri e eu me abaixo e o beijo.

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