Capítulo 25 - Ohm

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Sinto a sua energia se aproximando e olho para o céu, o Nanon desce devagar e coloca o Dew no chão.
- Podemos fazer de novo?
- Não, vai para o quarto estudar.
O Dew olha pra mim chateado.
- Não posso fazer nada, é ele quem tem asas.
Ele faz o mesmo bico que o Nanon faz quando fica chateado e vai para dentro, eu abraço o Nanon e beijo perto do seu ouvido.
- Que tal você me levar lá para cima agora, Anjo?
Ele olha dentro da cabana e suspira, ele finge que não se preocupa, mas não gosta de deixar o Dew sozinho, está ficando cada vez mais apegado ao garoto.
- Vamos esperar um pouco, ter certeza que ele não vai sair do quarto.
Eu suspiro e concordo, então eu me lembro.
- Eu sei que vocês não precisam comer, só comem quando estão com vontade, mas eu preciso comer e a comida acabou, Anjo.
Ele fecha os olhos e passa a mão nos cabelos.
- Por favor, fica dentro da cabana até eu voltar.
Eu concordo e beijo ele, quando ele da um passo para trás eu o seguro, tiro a minha blusa de lã e entrego para ele que olha para o peito nu e acena. Ele sempre esquece de se vestir, na maior parte do tempo não faz diferença, mas eu tenho sempre que lembrar quando ele tem que sair.
Eu aproveito quando ele sai e vou conferir o Dew, entro no quarto e sento na cama.
- Ohm, sabia que você pode conversar com o seu anjo da guarda?
- Sabe que o Nanon é o meu anjo da guarda, não sabe?
- Todo mundo sabe! - ele revira os olhos e senta.- Eu estou falando de conversar a distância, se você rezar ele vai ouvir.
- E os outros anjos?
- Você tem que começar com querido anjo da guarda ou algo assim, qualquer coisa que indique que é para o seu anjo.
Eu sorrio e junto as mãos, ele sorri também e acena, eu fecho os olhos e penso por um momento.
- Querido anjo da guarda, não esquece de trazer bebidas.
O Dew começa a dar risada.
- Se alguém além dele ouvisse isso ficaria revoltado!
- Você ouviu e achou divertido.
- Eu sou diferente.
Ele continua rindo, volta a olhar para as coisas que o Nanon escreveu e fica sério depois de alguns segundos.
- Deve ser difícil ser anjo da guarda.
- Porque, anjinho?
- A lei diz que um anjo da guarda tem que proteger e dar conselhos sobre caminhos a serem seguidos.
- Dar conselhos?
- É, sabe como dizem que os demônios sussurram para as pessoas pecarem?
- Sei.
- É igual, só que os anjos falam coisas boas.
- Entendi. Porque você acha que é difícil?
- Porque outra lei diz que um anjo da guarda não pode opor-se ao livre arbítrio. Isso é confuso, como pode aconselhar sem se opor ao livre arbítrio?
- Um conselho é apenas uma sugestão, ainda cabe a pessoa escolher o caminho que vai seguir, por exemplo, um anjo da guarda pode aconselhar um marido a não cometer adultério, mas ele pode escolher pecar mesmo assim.
Nós ficamos olhando para o Nanon enquanto ele explica para o Dew sobre isso, ele sempre fala de um jeito que fique fácil do Dew entender, sempre dando exemplos.
- Entendeu?
- Entendi.
- Ótimo, continua estudando. Ohm, venha comer.
- Você trouxe bebida?
- Trouxe. Porque você fez aquilo?
- O Dew estava falando sobre a linha direta que eu tenho com você.
Ele olha sério para o Dew que abaixa a cabeça e finge que está lendo.
- Tem um motivo para eu não ter te contado isso, muitas regras estão sendo quebradas no céu ultimamente, não dá para garantir que não vão usar as orações para tentar nos encontrar.
- Entendi, então sem linha direta para nós. Dew quer comer?
Ele senta animado e olha para o Nanon, que suspira e acena. O Dew se arrasta para fora da cama, eu levanto e vamos com o Nanon para a cozinha.
Depois que comemos o Nanon manda o Dew estudar novamente, eu o abraço ainda na cozinha e beijo o seu pescoço.
- Vamos voar agora?
Ele olha para a porta e acena, vamos para fora em silêncio, ele me pega nos braços, voa uns cem metros longe da cabana e tiramos a nossa roupa, isso não é muito confortável de fazer aqui na Irlanda, mas o sexo compensa. Ele me pega novamente, voa até acima das nuvens e vira ficando embaixo, me deixando deitado encima dele.
- Como você quer fazer, Anjo?
- Você escolhe!
Eu sorrio e beijo ele enquanto prendo as minhas pernas na sua cintura.

Voltamos e o Dew sai correndo do quarto.
- Porque vocês ficam sumindo? Eu tenho medo de ficar sozinho!
Ele mais uma vez faz aquela cara chateada e eu me abaixo.
- Vem aqui!
Ele corre e me abraça, acho que se o Dew pudesse chorar ele seria a criança mais chorona do mundo.
- Nós já conversamos sobre isso, Anjinho, nós saímos, mas estamos sempre por perto, nada vai acontecer.
- Porque eu não posso ir junto?
- É coisa de adulto.
- Eu não sou uma criança, Ohm.
- Então não haja como uma!
Nós dois olhamos para o Nanon que parece irritado.
- Já decorou todas as leis do céu?
- É muita coisa...
- Então você não devia estar aqui, vai de uma vez antes que eu te deixe em um torre bem alta para os anjos te encontrarem.
- Você é mau!
- Sou mesmo! Vai de uma vez.
Eu coloco o Dew no chão, ele olha com a mesma cara irritada que o Nanon está fazendo e entra correndo no quarto.
- Se vocês não fossem anjos eu poderia jurar que ele é o seu filho.
Eu dou risada e ele me olha sério.
- Como?
- Fala sério, Nanon, o menino é uma miniatura sua!
Ele me olha sem entender, eu suspiro e pego o meu celular, procuro uma foto que tiramos em Madagascar e mostro pra ele.
- Vai dizer que você nunca notou a semelhança?
Ele olha para a foto surpreso e nega.
- E eu nem estava falando da aparência, ele tem todas as suas manias, expressões, humor, personalidade... Ele é uma miniatura sua.
Ele fica olhando intrigado para a foto por um tempo e de repente desaparece.

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