Capítulo 28 - Nanon

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O Ohm hesita e olha para mim nervoso, mas eu não me mexo, ele dá um passo para o lado, depois outro, então para e fica reto.
- Eu não posso fazer isso, Anjo!
O Dew relaxa também e olha pra mim.
- Não posso lutar com você, pai?
- Não, eu já falei, você tem que aprender a lutar sem armas e o Ohm tem que aprender a usar a adaga já que ele não quer se desfazer dela, o melhor jeito é vocês lutando um contra o outro.
- Mas o papai não faz direito.
- Ele vai fazer, agora de novo, como eu ensinei, você é rápido e pequeno, use essas duas coisas a seu favor.
Ele acena e coloca as duas mãos abertas na frente do corpo.
- Ohm, escolhe, é isso ou devolver a adaga para a bruxa.
- Quando eu vou poder conhecer a bruxa?
- Foco Dew!
Ele se assusta e olha para o Ohm, eu me perco a paciência e grito.
- Dew, ataca!
Ele corre gritando e levantando muita areia, não é intencional é apenas a velocidade e a areia do deserto do Saara que é muito fina, logo uma tempestade de areia se forma, isso vai dificultar para o Ohm ver, então treinar com uma adaga falsa foi bom, assim não corremos riscos de acontecer algum acidente.
Quando está próximo o Dew levanta as mãos e empurra o Ohm, que é jogado vários metros para trás e cai rolando. Esse foi mais um dos motivos para eu escolher esse lugar.
O Dew volta a correr, salta caindo sobre o Ohm, grita e levanta a mão pronto para dar um soco, mas congela.
- Dew!
Ele dá o soco, mas deu tempo suficiente para o Ohm se recuperar, ele desvia e o Dew tenta outro, então o Ohm segura as suas mãos e empurra.
- Ohm, isso não é brincadeira e você tem que parar de ver ele como criança, luta agora!
Ele empurra o Dew para longe dessa vez,  que consegue cair abaixado, mas mantendo o equilíbrio, então eu desisto, vou até o Dew seguro ele e jogo encima do Ohm, me transporto para a frente deles e dou um soco controlado, mas como peguei eles de surpresa foram parar longe. Espero eles levantarem e faço de novo, na terceira vez eles entendem e começam a lutar comigo, percebo que o Ohm tenta não me machucar então foco nele que acaba tendo que atacar ao invés de se defender. Depois de um tempo os dois começaram a atacar ao mesmo tempo e vão se adaptando rápido, mesmo quando eu me transporto eles conseguem responder rápido.
Passamos um total de três horas no deserto lutando, mesmo aqui não é seguro ficar por muito tempo.
Quando paro o treinamento  uma proteção igual a que eles tem na vila que impede anjos e demônios de nos rastrearem até aqui, foi por isso que eles conseguiram se esconder por tanto tempo.  A nossa casa é um pouco afastada das outras, mesmo assim os moradores foram muito receptivos. A vila é pequena e fica na beira da montanha, é quase um pedaço do mundo intocado pelo homem, a paisagem é linda, principalmente os campos de chás.
Eu ensinei o Ohm o idioma local, levou alguns meses, mas hoje em dia ele consegue se comunicar razoavelmente bem. Todos os anjos já são criados com o conhecimento de todas as línguas, então o Dew não precisou disso. Ele fez amizade com as o crianças locais, como já estava acostumado a ficar com crianças no céu, para ele é a mesma coisa.
Eu sento ao lado deles e espero eles estarem bem para levantar, o Dew se recupera primeiro, levanta e sorri.
- Pai, posso brincar?
- Primeiro vai tomar banho, as pessoas vão falar se te verem todo sujo e cheio de areia.
- Me leva pra casa?
Ele abre os braços e faz uma cara fofa, eu nego e aponto.
- Estamos há dez metros da casa, vai andando.
Ele abaixa o braço e suspira.
- Você é mau!
- Sou sim, agora vai.
Ele começa a andar e o Ohm me puxa, eu deito ao seu lado e limpo uma mancha de suor que se misturou com a areia.
- Você é bom lutando.
- Eu fui treinado para ser um guerreiro, fazia parte da linha de frente do exército do céu, eu te contei uma vez.
- É verdade.
Ele fica em silêncio me olhando, então se vira e toca o meu rosto.
- Eu não quero que isso mude, Anjo...
- Isso?
- É, eu, você, o Dew, a nossa família, a nossa casa... Eu quero isso para sempre.
- Porque você está dizendo isso?
- O que você vai fazer quando o treinamento do Dew terminar?
- Você quer saber se eu vou mandar ele embora? - Ele acena preocupado. - Ohm, ele é nosso filho, porque eu mandaria ele embora?
É visível o espanto e alegria no seu rosto, é a primeira vez em oito meses que estamos aqui que eu admito que o Dew é o nosso filho, mas é isso que ele é, não deixa de ser estranho e confuso, mas estranhos e confusos é o que nós três somos.
O Dew sai correndo da casa e pula sobre nós, mas antes que consiga se aproximar eu abro a mão e paro ele que fica flutuando, trago ele para perto e coloco no chão.
- Nós estamos sujos, vai brincar e não fica longe, cuidado com as outras crianças.
Ele concorda, para de andar e olha para nós.
- Pai, compra sorvete?
- Compro, mais tarde eu vou buscar para você.
- Pode ser aquele de Veneza?
- Tudo bem, eu vou até Veneza.
Ele sorri e sai correndo, o Ohm me beija, mas começa a cuspir.
- É melhor tomar um banho, você está cheio de areia.
Eu concordo e seguro a sua mão, ajudo a levantar e caminhamos pela casa, quando entramos no banheiro ele tira a minha roupa com pressa, nós nos lavamos rápido, assim que eu lavo o meu cabelo pela terceira vez tirando toda a areia dele o Ohm me vira como se não aguentasse mais esperar. Ele me segura e mete com força, geme e então vai entrando e saindo devagar, acelera aos poucos, sempre gemendo pra mim. De repente ele para e me deita no chão, deita sobre mim e olha nos meus olhos.
- Eu te amo, Nanon!
- Eu também te amo, Ohm!
Ele me beija mais uma vez e fazemos amor.

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