Eu pensei que a cota de confusões do dia já havia se esgotado, tive esperanças de sair ilesa dessa vez, mas pelo jeito a vida estava disposta a testar os meus limites, me jogando bem no meio de um tsunami furioso...
— Patrícia, eu não vi você chegar, já ia te ligar para a gente...
— Não, Carlos Eduardo, você não ia me ligar porque eu te liguei a tarde toda e simplesmente ignorou minhas ligações.
— Eu te liguei antes de sair e disse que conversaríamos hoje a noite, não disse? — respondeu ele. — E até onde sei, foi você quem desligou na minha cara.
— Eu desliguei, mas depois liguei de novo e não atendeu, sequer se deu ao luxo de me avisar aonde ia, e pela "tarde prazerosa" eu espero que pelo menos tenha escolhido outro motel!
Se minha voz tivesse saído, eu até que teria respondido, mas a deles dominou o tempo e espaço não dando chance para que eu sequer raciocinasse...
— Me respeita, Patrícia, se tivesse prestado atenção em mim hoje pela manhã, saberia onde eu estava. Se ao invés de me esculachar ao telefone tivesse conversado com educação, eu teria atendido a cada uma das ligações suas como sempre fiz, mas preferiu dar um show de grosserias porque uma única manhã deixei a merda do celular no silencioso.
— Se não tivesse que servir de babá dessa...
— Olha o que vai falar! — Eduardo a interrompeu.
— Abaixe o tom comigo! — exigiu ela aos berros.
Seu grito ecoou pelo ambiente me deixando muito desconfortável. É óbvio que aquilo se transformaria em uma briga feia e eu era a única em desvantagem ali, aliás, nunca presenciei nada parecido e agora não sabia o que fazer.
— Eu não preciso passar por isso — murmurei tentando deixar os dois sozinhos, mas a cada dois passos esbarrava em alguma coisa me sentindo extremamente perdida naquele ambiente estranho e cheio de obstáculos.
— Isso aí — ela bateu palmas enquanto me seguia. — Faça bastante drama, sua fura olho, já conseguiu acabar com meu namoro, está feliz agora!
— Tem certeza de que fui eu quem acabou com seu namoro?
Diante da falta de resposta, eu tentei sair, mas acabei me chocando contra o canto de uma parede e confesso que aquela situação me deixou ainda mais humilhada porque sequer conseguia sair dali com dignidade.
— Ana, espera, eu te ajudo — Eduardo veio ao meu socorro.
— Ajuda coisa nenhuma, você tem um assunto comigo, ela que se vire!
— Já chega, Patrícia! — agora foi a vez de Eduardo se exaltar.
— Você nunca gritou comigo, Edu, não estou te reconhecendo — seu tom de voz agora era baixo e sufocado, eu diria que beirando a uma crise de choro.
— Eu estou cansado dos teus surtos, deixe a garota em paz, ela não te fez nada! — protestou me acompanhando até o lado de fora.
— Olha para você, Edu, a garota não dá um passo sem que esteja grudado nela, eu não tenho sangue de barata!
— Como eu pude ficar tanto tempo com uma pessoa fria como você?
A pergunta do Eduardo saiu mais como um lamento do que qualquer outra coisa.
— Eu sinto muito, Edu — murmurei me soltando de seu braço e caminhando rumo a claridade, que provavelmente seria do poste de luz, sei lá, talvez na rua encontrasse ajuda para achar o caminho de casa.
— Ana, é sério — Eduardo segurou meu braço. — Te levo em casa e depois volto para resolver essa situação aqui, ou...
— Você não sai daqui com ela, Eduardo!
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Pela Força do Destino - A Magia do Olhar
RomanceMinha vida mudou radicalmente nos últimos anos, e digo com propriedade que quando vivia no escuro as coisas pareciam ser bem mais fáceis. Já parou para pensar em como seria complicado fechar os olhos e tentar se movimentar em um local estranho e che...