Capítulo 13 Desencontros

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O deficiente visual consegue memorizar o ambiente a fim de se locomover no espaço em que vive, mas uma única mudança, por menor que seja, pode se tornar um obstáculo. Em minha casa já estava costumada a transitar sem esbarrar nas coisas com frequência, já tínhamos nossa rotina de organização programada exatamente para que não encontrasse tantos obstáculos, mas ali era completamente diferente, visto que não conhecia a disposição dos móveis, cômodos ou paredes e ainda sequer conseguia firmar o pé no chão.

— Edu? — O eco de minha própria voz sem resposta confirmou que estava sozinha.

Caminhei alguns passos com muita dificuldade e para meu total desespero, desequilibrei e bati em alguma coisa que se espatifou no chão fazendo um barulho alto o suficiente para me assustar...

— Ah, não, Ana, o que você quebrou? — Me questionei sentindo o coração acelerar enquanto me abaixava para verificar o estrago que fiz.

— Cuidado Ana, vai se...

Caio tentou me avisar, mas como sou um desastre ecológico, fiz o favor de cortar a mão no caco de um objeto que havia acabado de destruir.

— Mas que droga, eu não deveria ter saído da cama hoje.

— Deixe-me ver esse corte — disse ele segurando a minha mão. — Talvez precise de pontos, eu vou te levar...

— Não precisa — puxei minha mão rapidamente. — Eu não quero voltar ao hospital, lavo com água e sabão e...

— Se não limpar e fazer um curativo adequado corre o risco de infeccionar, mas é claro que sabe disso, não é?

— Não me leve ao hospital, por favor, eu te peço, meu irmão vai ficar preocupado.

— Mas é teimosa!

Para minha surpresa, em um movimento rápido ele me pegou nos braços e saiu carregando...

— O que está fazendo?

— Te levando para longe dessa bagunça, tem cacos por todos os lados e precisamos cuidar desse corte sem fazer outros.

— Não queria dar mais trabalho do que já dei, mas sou um desastre — murmurei envergonhada.

— Acidentes acontecem — disse ele me acomodando no sofá. — Pegue a minha camisa e pressione firme contra o ferimento, precisamos estancar o sangue.

— Obrigado.

— Não saia daí, vou buscar os materiais de curativo — ele posicionou sua mão contra a minha. — Pressione firme assim, eu já volto.

Enquanto o Caio foi pegar os materiais de curativo, eu tentava entender a razão pelo qual minha vida estava tão tumultuada. Meus dias sempre foram tranquilos e previsíveis, mas foi só botar os pés na capital, e tudo mudou radicalmente me deixando completamente perdida.

— Como está o sangramento? — Perguntou ao retornar.

— Não sei, eu olho e não vejo nada — dei de ombros com um sorriso. — Será que é o fim da linha?

— Ana, fica quietinha — Caio segurou minha mão e retirou a camiseta que usava para comprimir o ferimento.

Ele estava concentrado em sua tarefa, e eu em controlar minhas expressões de dor para que não se preocupasse...

— O que eu quebrei?

— Um vaso francês da minha mãe — respondeu enquanto limpava o ferimento para fazer um curativo.

— Misericórdia Caio, me desculpe! — Pedi envergonhada. — Vou falar com meu irmão, e a gente...

— Relaxa Ana, era um vaso qualquer, não tem importância — declarou me dando um beijo na testa. — Pronto, agora você tem duas patinhas machucadas e apenas seis vidas, gatinha, então se cuida.

Pela Força do Destino  - A Magia do OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora