Capítulo 23 Reencontro

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Kiese me fazia sentir bem, era carinhosa e muito paciente, acabou se tornando uma amiga. Arrisco a dizer, que quase uma mãe, o que me fez lembrar do amor que meu irmão tinha por sua profissão, e de seus relatos de aproximação com alguns pacientes que passavam por internações um pouco mais demoradas.

Em uma sessão com a psicóloga, fui orientada de que ao acordar de um coma, o cérebro precisa se reorganizar, e ter crises de depressão; euforia; pânico, até mesmo agressividade seriam normais. Principalmente no meu caso, onde meu subconsciente projetava, meus maiores medos vividos. Mas apesar do meu receio; ao contrário de minha saúde mental, a física estava bem. Sabe-se lá porque minha família não foi avisada de minha recuperação, que era algo que eu pedia diariamente. 

Ao todo foram em torno de vinte dias exaustivos de exames dos mais diversificados, fisioterapia, e muitos questionamentos. Minha mente ainda era confusa, mas tinha inúmeros pesadelos bizarros que me aterrorizavam, e se todo aquele tormento fosse uma lembrança, seria melhor continuar desmemoriada.

— Bom dia — disse o coronel, que me visitava sempre pela manhã.

— Bom dia — respondi, enquanto a fisioterapeuta me ajudava a movimentar minhas pernas.

— Vejo que está caminhando bem, isso é uma ótima notícia.

— Ela já consegue andar sozinha, teve uma recuperação bem rápida — disse a fisioterapeuta. — Já terminamos por hoje, eu volto amanhã ao fim da tarde.

— Quem dera poder ir para casa também — murmurei pensativa.

— Em breve, Ana — disse ela deixando o quarto.

— Em breve, sei... — protestei frustrada. — Vivo presa nesse quarto, até parece que a criminosa sou eu.

— São protocolos, mas realmente poderá ir para casa mais cedo do que pensa — explicou o coronel.

— E o que temos para hoje, senhor coronel? — Perguntei baixando a guarda.

— Talvez eu tenha uma surpresa.

— Que tipo de surpresa? — perguntei curiosa. — Seria aquele sorvete do fim de semana?

— Bom dia — disse uma voz masculina, diferente de todas as que ouvi nos últimos dias.

— Bom dia, senhor — respondi confusa. — Já vi que não é sorvete.

— Se o médico liberar, podemos providenciar — disse o estranho. — Talvez um milkshake de chocolate com menta, e cobertura de morango, que tal?

— Fez o dever de casa direitinho — afirmei com um sorriso espontâneo.

— Deve estar se perguntando quem é esse estranho que vos fala, e...

— Parei de perguntar quando percebi que só recebo visita de estranhos enigmáticos, mas se for mais uma sessão de perguntas, já adianto que não tenho nenhuma novidade.

— Eu disse que ela é bem direta — comentou o coronel.

— Como está se sentindo? — perguntou o estranho.

— Como se mais uma chuva de perguntas, que não tenho respostas, fosse cair sobre mim nesse exato momento — dei de ombros.

— No meu caso, eu te devo são respostas.

— Não entendi — respondi confusa.

— Digamos que minha visita esteja bastante atrasada, então, entenderei se me mandar embora.

— Ando meio surtada, mas ainda não cheguei ao ponto de expulsar pessoas desse quarto — comentei. — Até porque, são poucas as pessoas que falam a minha língua por aqui.

Pela Força do Destino  - A Magia do OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora