Capítulo 21 O resgate

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Eu estava no limite de minhas forças, só queria fugir da realidade, sei lá, dormir e acordar quando tudo já tivesse passado, não tinha psicológico para enfrentar tantas coisas ruins ao mesmo tempo, e quando pensei que já tinha acontecido de tudo; ainda tinha uma última visita inesperada para me surpreender aquela noite, mais precisamente no meio da madrugada...

— Quem está aí? — perguntei quando a porta do quarto se abriu lentamente me assustando.

— Ana, sou a Estela, sei que o Nil te falou sobre mim. Por favor precisamos da sua ajuda — sussurrou apressada.

— Mas como vou ajudar se estou presa nesse lugar? — Perguntei confusa.

— Esse lugar é um inferno, coisas horríveis acontecem todos os dias, por favor, precisa fazer isso parar.

A mulher estava transtornada e eu mais perdida do que nunca...

— Eu não sei o que fazer — murmurei ficando nervosa.

— Tenho que ser rápida, então preste muita atenção. O Nil me contou que conhece os filhos do coronel Arlindo Pontes, eu preciso muito dar um recado a ele, e se você conseguir fugir...

— Mas, como eu fugiria?

— Eu não sei Ana, só sinto que você pode ser a chave para esse inferno acabar. Não me tire as esperanças.

— Não me jogue uma responsabilidade dessas sobre os ombros, eu sou tão prisioneira quanto a senhora, não conseguiria viver com essa culpa se algo desse errado — murmurei insegura.

— Eu não tenho mais a quem recorrer — ela dizia com a voz embargada.

— Todos precisamos de um milagre agora.

Eu sequer sabia o que dizer a aquela mulher desesperada...

— Eu estou aqui a dez anos, não pude ver meu filho crescer, o meu marido... eu tinha uma uma vida feliz, um cachorro que fazia festa quando chegava do trabalho. Meu filho só tinha três anos quando me trouxeram para esse inferno; três anos Ana, ele sequer deve se lembrar de mim agora.

— Eu sinto muito, mas...

— Eu passei por muita coisa aqui, só não enlouqueci porque tenho o Nil, mas está cada vez mais difícil. Dez anos presa nesse lugar aonde só existe dor e sofrimento, eles são muito perigosos. Aquele homem é obcecado pelo coronel, quer destruí-lo a todo custo e não vai parar até conseguir.

Eu não conseguia mais responder, ela foi desabafando e minha única reação era abraçar meus joelhos enquanto me encolhia no canto daquela cama...

— Você não tem ideia do que acontece dessa porta para fora, não sabe quantas meninas passaram por aqui em todos esses anos. Elas também tinham família, um sonho que foi destruído.

— Eu sei — falei em lágrimas.

— Se você visse o rostinho delas...

— Por favor, dona Estela, eu não...

— Me desculpe se te assustei, eu só quero que isso acabe e você é uma luz que se acendeu depois de tanto tempo nessa escuridão. Eu não acho que sua passagem por aqui seja em vão.

Como não chorar diante de uma situação dessas? Foi isso que eu fiz; abraçada a ela eu chorei sem fazer ideia de como ajudar. É óbvio que ela estava completamente perturbada, mas como eu saberia o que era realidade ou fantasia de sua cabeça quando sequer tinha certeza se não era loucura da minha?

— O que eu digo a ele quando sair? Se eu sair.

Perguntei sem ter a mínima ideia do que estava fazendo...

Pela Força do Destino  - A Magia do OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora