Capítulo 25 Clima de despedidas

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Era chegado o grande dia, e uma mistura de medo e incerteza rondava meus pensamentos. Meu pai e irmão estavam indo embora, o quarto onde foi minha casa por tantos dias, logo estaria ocupado por outra pessoa, e agora aquele clima de despedidas pairando no ar me deixava ainda mais depressiva.

— Precisa de ajuda? — perguntou Kiese, se aproximando quando eu terminava de guardar minhas coisas.

— Por que as despedidas machucam tanto?

— Acredito que seja porque ninguém quer se separar das pessoas que lhe fazem bem — respondeu se sentando ao meu lado.

— Você me faz bem — sorri contemplando seu rosto sereno. — Gosto do seu nome, é diferente.

— Meu pai escolheu, significa, alegria.

— Eu já te disse que você é linda?

— Você que é linda, Ana — Kiese sorriu timidamente.

— É serio, eu ficava tentando imaginar como minha âncora seria fisicamente. Agora eu sei que é uma pérola negra.

— Isso te incomoda?

— Não! — balancei a cabeça com um sorriso surpreso pela sua pergunta. — Se pudesse escolher uma mãe..., queria que ela fosse igual a você.

— São momentos assim que me fazem acreditar que a humanidade ainda tem jeito — respondeu com lágrimas nos olhos, enquanto me abraçava apertado.

— Eu te amo, Kiese, o mundo deveria ter mais pessoas como você. Promete que não vai se esquecer de mim?

— Os momentos que passei contigo foram muito especiais. Mesmo que eu quisesse, jamais me esqueceria.

— Meu irmão uma vez tentou me explicar como seriam os anjos, mas eu nunca consegui de fato entender. Agora olho para você e sei como eles são.

— Sabe, Ana, as crianças nãos nascem preconceituosas, tampouco possuem maldade no coração. A vida as torna assim, as pessoas, e isso é muito triste. Você não podia ver o mundo, mas enxergava bem mais do que muita gente. Não distinguia raça, nem cor, beleza, ou qualquer outra coisa, enxergava as pessoas pela sua essência, e isso é maravilhoso. Torço muito para que não se perca pelo caminho, nem permita que as influências externas mudem quem você é, porque o mundo lá fora, é cruel e faz isso com as pessoas.

— Sentirei sua falta, mãe, Kiese.

Eu realmente me apeguei a Kiese, e nossa despedida foi mais difícil do que eu pensava. Ela voltaria para Angola aonde iniciaria outra missão, e aquele rosto marcante de uma negra linda muito vaidosa com suas roupas coloridas e um sorriso sincero; nunca sairia de minha mente. Nem aquele abraço de mãe que me trazia segurança, afinal, ela foi a minha âncora naquele mar agitado. 

Se tivesse que descrever aquele momento, eu diria que é de desespero, sensação de vazio, abandono. A despedida dói, é muito difícil ver aqueles que amamos partindo, e ali naquele aeroporto lotado, eu chorei abraçada ao meu irmão implorando para que logo viesse me buscar. Eu sei que se pudesse me levaria consigo, o seu choro ao me abraçar minutos antes de passar pelo corredor de embarque, me dizia que sofria tanto quanto eu.

— Eu te amo, meu irmão, eu te amo! — falei aos prantos sendo amparada por meu pai quando o avião do Michael decolou.

— Logo estarão juntos novamente, filha — dizia ele me apertando em seu abraço.

— Ele está indo para o outro lado do mundo sem mim — falei entre soluços. — Eu não quero ficar sozinha.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto olhava para o céu vendo aquele pontinho branco se afastando, e levando consigo o meu ponto de equilíbrio. Como eu queria ter ido com ele, como desejei acordar daquele pesadelo e saber que nada havia mudado. Que mal eu fiz para merecer isso?

Pela Força do Destino  - A Magia do OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora