Capítulo 17 Saia Justa

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Era uma tarde quente, minha cabeça doía, o corpo estava pesado, todo mês era a mesma coisa no período pré-menstrual. Ao menos dessa vez só fiquei emotiva, normalmente os sintomas da tensão pré-menstrual vinham com tudo. Estava sozinha, tomei um medicamento para enxaqueca e desabei no sofá onde permaneci vegetando até adormecer. 

Quando dei por conta, já havia escurecido o suficiente para não enxergar sequer a sombra da janela, que sempre me indicava se era dia ou noite. A dor havia passado, mas a sensação era te ter sido atropelada por uma carreta desgovernada. Me levantei preguiçosa e ainda aérea, fui em direção ao banheiro, precisava de um banho para despertar e desejei muito que aquela água que escorria pelo meu corpo, levasse consigo toda aquela energia ruim que me cercava.

— Ana, sua cabeça dura, cadê a toalha? — me repreendi ao perceber o resultado da minha distração.

O armário ficava no corredor dos quartos, e como estava sozinha, tive que atravessar o corredor, nua, e encharcada, porque além de cega, agora também era esquecida.

"Agora vê se toma cuidado porque com esse aguaceiro no chão, uma queda viria em péssima hora", fiz uma nota mental para minha própria segurança.

Eu ri ao imaginar a cena de meu corpinho, nu, espatifado no chão feito uma lagartixa desengonçada, tendo que ser socorrida pela equipe do SAMU. Não teria uma maneira pior de enterrar minha dignidade na lama, mas meus pensamentos foram interrompidos por uma escuridão que denunciou que as luzes haviam sido apagadas, e se ver apenas vultos era ruim; não ver nada, era muito pior.

"Será que acabou a energia?", pensei caminhando lentamente até o meu destino.

Dei mais uns passos e parei abruptamente ao ouvir o barulho de vidro se quebrando, o que deu a entender que alguém estava entrando na casa sem ser convidado. Tanto o portão como portas e janelas, sempre ficavam trancados, não confiava em deixar aberto estando sozinha, havia sido orientada sobre assaltos e tinha muito medo de ser contemplada com uma visita surpresa de alguma "vítima da sociedade".

Meu coração acelerou, não conseguiria ser rápida o suficiente para chegar no quarto a tempo de pegar o celular para pedir ajuda. E mesmo que conseguisse, o Michael estava longe demais, e os rapazes talvez também não conseguissem vir tão rápido. Pensei em gritar, mas meus vizinhos não eram do tipo de se envolveriam, talvez chamassem a polícia, sei lá, mas até que chegassem também já seria tarde. 

Me esconder talvez? Mas onde? Não consegui pensar em praticamente nada, estava apavorada demais e foi tudo muito rápido, me senti perdida e muito assustada ao ponto de paralisar no meio do corredor escuro.

— Por favor, não me encontre — murmurei sentindo as lágrimas molharem meu rosto ao ouvir mais barulhos vindo da sala.

Traçar uma rota de fuga não era uma opção, além de não enxergar, estava lenta e nervosa, com certeza sairia esbarrando em tudo, o que seria muito ruim. O medo me dominava, respirava descompassadamente encostada à parede enquanto fazia uma oração em pensamento, até que para meu total desespero, fui pega por uma mão forte que me segurou e tapou minha boca me impedindo de pedir socorro.

— Não grite, por favor — sussurrou em meu ouvido, tão baixo que eu mal entendia.

Eu estava apavorada, e aquela situação que já era estranha, ficou ainda mais quando fui puxada para dentro do armário, onde me vi prensada contra o fundo em um espaço tão apertado que mal cabia uma pessoa enquanto a porta se fechava.

— O que está acontecendo? — perguntei, tendo minha boca bloqueada outra vez.

Fiquei desconfortável com aquela situação, mas sabia que se aquele cara grande e forte que me prensava ao ponto de meu rosto se esfregar em seu peito quisesse me fazer alguma coisa; não seria ali naquele lugar em que para um entrar o outro teria que sair.

Pela Força do Destino  - A Magia do OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora