De todos os perrengues que passei na vida, nada era tão desesperador como aquela sensação de estar ali, a mercê de um maluco sanguinário e seu aprendiz. Estávamos entregues a própria sorte, e o olhar de decepção era uma unanimidade...
— Joguem os celulares! — Ordenou Geraldo.
— Merda — Caio jogou o dele.
— Todos!
Sob a mira daquela arma, um a um, fomos jogando os aparelhos naquele gramado. E eu nem tive tempo de me despedir do meu irmão.
— Eu não quero morrer — murmurei abraçando meus joelhos.
— Filho, o que significa isso? — Perguntou o coronel.
— Não o chame de filho, você abriu mão do direito de ser pai. Eu tomei o seu lugar a muito tempo.
— Na minha vida, não — Caio se manifestou.
— Eu tentei te trazer para meu lado, mas você só faz o que quer, não me serviria. Teu irmão foi perfeito todo esse tempo — disse o homem, caminhando lentamente a nossa volta, passando a arma que fazia um som metálico em contado com aquelas barras de ferro. — Ele é corajoso, obediente e muito esperto, assim como o pai. Que sou eu, é claro.
— O que significa isso, Edu? — Insistiu o pai. — Eu te conheço filho, sei que não faria nada que fosse contra seus princípios.
— Ele é um homem de visão, não tinha nada e construiu um império acima de qualquer suspeita, não é tio?
— Sim, eu vim do lixão e cheguei ao topo — o homem sorriu satisfeito.
— Minha família te acolheu, Geraldo, tudo o que é hoje, foi...
— Se aquele velho, que você chamava de pai, tivesse aceitado passar tudo para meu nome, eu não precisaria tê-lo matado.
— Foi você! — O coronel bateu na grade com muita raiva.
— Mas o vô não caiu da escada? — Caio se juntou ao pai. — Ele caiu, foi um acidente, não foi?
— Ele queria dar uma volta no quintal, eu só ajudei a descer mais rápido — deu de ombros. — O velho já estava fazendo hora extra, bastou um susto, e puf, o coração não aguentou.
— Como pôde fazer isso? — O coronel passava a mão pela cabeça transtornado. — Se queria dinheiro, posses, eu teria te dado tudo, não precisava ter tirado a vida do meu pai!
— Era para, "eu", ser o preferido, mas o velhote só tinha olhos para o filhinho de merda dele. O pracinha perfeito, com sua vida exemplar — cuspiu no chão com desdenho. — Você viveu a vida que era minha, teve todas as oportunidades, a família, filhos, destaque. Era para ser eu! Eu!
— Se sair daqui, eu mato esse cara — murmurou Caio respirando acelerado. — Juro que mato.
— Mata coisa nenhuma, você é um capacho que se faz de valente — o homem cruzou os braços com a arma em punho. — A Patrícia tinha razão, é um imprestável.
— Aquela idiota me acusou de estupro — Caio esmurrou a grade a sua frente. — Eu sei que foi você quem tramou isso com ela.
— Até que foi divertido te ver todo cheio de pudores e te acolher como um pai preocupado com sua cria. Estava tão bêbado que nem compareceu, seu molenga.
— Se pensa que essa informação me faz sentir vergonha, está muito enganado. É um alívio saber que não toquei aquela víbora.
Caio cerrou os punhos, não consegui ver seu rosto, mas tenho certeza de que o ódio exalava pelo seu olhar naquele momento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pela Força do Destino - A Magia do Olhar
RomanceMinha vida mudou radicalmente nos últimos anos, e digo com propriedade que quando vivia no escuro as coisas pareciam ser bem mais fáceis. Já parou para pensar em como seria complicado fechar os olhos e tentar se movimentar em um local estranho e che...