O barulho de um bipe agudo ecoou por meus ouvidos, enquanto vozes distantes se misturavam em minha mente, que parecia estar em uma realidade paralela. Era como se estivesse em um sono profundo e tentasse lutar contra isso, mas, simplesmente não conseguia.
Meu maior pesadelo havia se realizado; eu estava presa em meu próprio corpo, e agora sabia como minha finada avó se sentiu durante todo aquele tempo em que permaneceu naquela cama...
— Não esquece de mim, tá?
A voz do meu irmão ecoou pela minha mente quando meus olhos se abriram causando um ardor que me fez fechar imediatamente. Uma luz estranha se afastava aos poucos, até que por fim; aquela mistura de sons foi ficando mais nítida me fazendo entender que estava em um, hospital?
"Michael" — chamei seu nome em pensamento enquanto tentava me mover.
A sensação era muito estranha, não conseguia comandar meus próprios movimentos, tampouco o raciocínio. O barulho de aparelhos apitando a minha volta, misturado com gritos, e estalos que sequer conseguia distinguir, se eram reais, ou coisa da minha cabeça, me deixou desconfortável.
Abri os olhos outra vez com bastante dificuldade, e apesar do vulto das luzes clareando o ambiente; não soube identificar se era noite ou dia. Não fazia ideia de por quanto tempo eu dormi, e nem como cheguei ali, era tudo muito confuso, braços e pernas já não estavam tão dormentes, mas ainda assim, era como se estivessem parcialmente paralisados.
— Michael! — Chamei enquanto tentava me levantar, e na afobação, acabei caindo da cama levando comigo alguns objetos enquanto aquela máquina fazia um barulho irritante.
Uma movimentação intensa se formou a minha volta enquanto aquele zumbido alto me impedia de entender o que diziam naquele idioma confuso, e acelerado. A situação em si já era assustadora, e o fato de não poder enxergar para entender o que havia acontecido, me deixou ainda pior.
— Ana, se acalme, por favor! — Pediu uma voz feminina que parecia ser de uma senhora de meia idade. Ela falava comigo em português, mas ao mesmo tempo respondia aquelas pessoas em outra língua me deixando ainda mais assustada.
— Aonde estou, quem é você? — Eu me debatia como se estivesse em perigo, e o curioso, é que nem sabia do que me protegia.
— Por favor, se acalme. Está tudo bem, não está sozinha — a voz daquela estranha ecoava pelos meus ouvidos, indo e vindo, enquanto me acolhia em seu abraço ainda naquele chão gelado aonde me encolhia.
— Por que não consigo andar, eu sinto minhas pernas, mas não consegui andar! O que fizeram comigo?
— Vai ficar tudo bem — ela sussurrava me embalando.
— Cadê meu irmão, eu quero ir para casa, por favor, me deixe ir para casa! — Pedi entre soluços enquanto sentia meu coração acelerado.
Aquela crise durou alguns minutos. Não sei explicar, me senti perdida e amedrontada como se estivesse fugindo de alguma coisa, ou alguém, sei lá, mas aquela boa alma conseguiu me acalmar com um abraço firme, que me lembrou muito o colo de minha avó.
Ela não precisou fazer nada além de ficar ali me acolhendo calada, e por fim, finalmente conseguiu me colocar de volta na cama enquanto uma voz masculina, que falava algo que eu não entendia, parecia lhe passar orientações.
Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas aquelas pessoas mexendo em mim, e falando coisas incompreensíveis, me deixava ainda mais desconfortável. Nunca desejei tanto enxergar como agora.
— Está mais calma? — Perguntou a mulher estranha quando finalmente me deixaram quieta.
— Você tem netos? — Foi a primeira coisa que perguntei.
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Pela Força do Destino - A Magia do Olhar
RomanceMinha vida mudou radicalmente nos últimos anos, e digo com propriedade que quando vivia no escuro as coisas pareciam ser bem mais fáceis. Já parou para pensar em como seria complicado fechar os olhos e tentar se movimentar em um local estranho e che...