Eu ainda estava em choque devido à confusão de antes, e o olhar daquele homem sobre mim, só fez complicar meu estado emocional.
— Tem cacos de vidro na cozinha, e sangue na sua boca — observou, o tio. — Não vai me dizer que vocês dois brigaram?
— Eu disse que esse negócio de não contar a verdade, daria merda. — Caio reclamou balançando a cabeça negativamente, me ajudando a levantar.
— São irmãos, cara, até quando vão viver assim?
— Não fui eu quem criou esse monstro — o loiro bufou irritado.
— Ela está bem? — perguntou o homem voltando sua atenção para mim, que o olhava desconfiada.
— Caiu na piscina, e se afogou — respondeu Caio me envolvendo com uma toalha.
— Está sentindo alguma coisa, Ana? — perguntou o estranho. — Não é melhor levá-la na emergência?
— Eu te conheço — afirmei quando finalmente consegui dizer alguma coisa.
— Pouco provável, nunca nos encontramos — disse ele, verificando alguma coisa em seu celular antes de guardar novamente no bolso.
— Sim, eu te conheço — estreitei os olhos ao me lembrar da maneira fria como ele a olhava. O curioso é que agora me ofertava um olhar sereno acompanhado de um semblante calmo.
Os cabelos negros com vários fios grisalhos agora pareciam mais curtos, a barba, antes comprida, agora estava aparada, mas ainda assim o reconheci. Ele tinha pele em um tom amarronzado, com traços indianos e uma mancha clara de vitiligo no meio da testa que sumia cabelo adentro, que não sei porque cargas d'água me chamou a atenção no dia em que o vi.
— Você estava com a Patrícia.
Caio nos olhou desconfiado...
— Quando foi isso, Ana?
— No trânsito — comentei. — Ela estava chorando, eu te falei.
— Ah, sim, ela apareceu no meu apartamento no dia em que cheguei. Queria que eu convencesse o teu irmão a aceitá-la de volta — disse o homem para o Caio. — Estava transtornada, coloquei no carro e levei embora.
— E como ela soube que estava na cidade? — Caio perguntou.
— Eu não sei, o porteiro disse que ela tem ido lá constantemente a minha procura. A moça precisa de tratamento, aquilo não é normal — disse o tio pegando uns cacos pelo chão.
— Todos precisamos — observou Caio.
— Ela é sempre desconfiada assim? — perguntou o homem com um sorriso.
— Só está um pouco assustada — disse o Caio. — Esse é o meu tio Geraldo.
— O famoso tio Gera — afirmei com um sorriso fraco.
— Ajudei praticamente a criar esses rapazes, são como filhos para mim — explicou, passando o braço pelo ombro do Caio enquanto entrávamos na casa.
Dentro de mim, a desconfiança e a incerteza se faziam presentes. O tio demonstrava um carinho muito grande pelo Caio, e, pelo visto, era recíproco, mas havia algo que me deixava incomodada e não sabia identificar o que poderia ser. Reconheço que seus conselhos foram ótimos, notei uma certa preocupação em manter a harmonia e a paz entre os irmãos, mas ainda assim, não me inspirava confiança.
— Acho melhor a moça tomar um banho, essa roupa molhada pode fazer mal — disse ele me olhando preocupado.
— No meu quarto, segunda porta a direita — explicou o Caio. — Tem toalha limpa, pode pegar o que precisar.
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Pela Força do Destino - A Magia do Olhar
RomansaMinha vida mudou radicalmente nos últimos anos, e digo com propriedade que quando vivia no escuro as coisas pareciam ser bem mais fáceis. Já parou para pensar em como seria complicado fechar os olhos e tentar se movimentar em um local estranho e che...