Aquele ser humano misterioso nos olhava atentamente com uma expressão sombria. E como desde que acordei naquele universo confuso, eu havia topado com várias pessoas com aquelas características; já não sabia se deveria fingir demência, ou pular pela janela gritando desesperadamente por socorro.
— Atrapalho alguma coisa, coronel? — perguntou o rapaz em um tom extremamente ríspido.
— Não é nada disso que está pensando, eu...
— Frase clichê essa, não é mesmo? Só que não pensei nada, eu vi! — respondeu saindo do quarto, e pela expressão preocupada do coronel quando correu atrás dele; aquele flagrante renderia muita dor de cabeça.
Demorei alguns segundos para me situar, e custei a acreditar que aquele rapaz estava pensando haver algo entre mim e um senhor, que tinha idade suficiente para ser meu pai. Entendo que o fato de termos sido pegos naquela situação, possa ter passado uma impressão equivocada, mas, ainda assim, senti-me extremamente ofendida com aquela acusação. Eles deixaram o quarto visivelmente, alterados, e a discussão continuou no andar de baixo me deixando sem saber o que fazer, visto que Marie e o Marido não estavam em casa, e só voltariam pela manhã.
— Filho entenda, eu não poderia falar nada, você conhece as regras, tive que seguir o protocolo, e...
— Então é essa a sua explicação, pai, é isso que tem a me dizer depois de meses morrendo um pouco a cada dia?
A voz dos dois ecoava pela casa me deixando ainda mais perdida. Tudo o que eu não queria era causar uma briga em família, ainda mais por um mal-entendido, então juntei as forças que me restavam e desci as escadas rumo ao olho do furacão.
— Eu sei que está magoado filho, mas tente entender!
— Entender? Não seja patético, eu implorei por notícias e você disse que não sabia de nada, o tio Gera disse que não sabia. Não passou pela cabeça de vocês o estrago que causaria se um de nós chegasse aqui e se deparasse com ela assim, sem aviso prévio! Para o inferno com seus protocolos, foram meses acreditando que não voltaria porque só diziam que o coma era irreversível!
Agora, eu já estava no último degrau da escada e pude vê-los discutindo na sala. Se fosse explicar o que senti, não conseguiria, porque me apeguei muito ao coronel, e presenciar aquele ataque de fúria vinda de seu próprio filho, me causou uma tristeza intensa, misturada com o sentimento de culpa.
— Assim que você se acalmar, conversaremos.
— Assim que eu me acalmar? Que tipo de monstro é você, coronel? Foi por isso que não quis que soubéssemos?
— Não é nada disso, filho, entenda!
— O tio sabia que estavam juntos aqui, por isso tentou dificultar minha viagem. Ele ficou me incentivando a fazer as pazes contigo, mas quando disse que vinha, desconversou. É óbvio que toda aquela cena era para preparar o caminho.
— Não, filho, ele realmente tentou ajudar, mas está nervoso demais para entender.
— Entender o quê? — o jovem balançou a cabeça com um sorriso sarcástico. — Que deprimente, ela poderia ser sua filha, mas com certeza o senhor se aproveitou pelo fato de a moça não enxergar para descobrir isso!
— Filho, olhe o que está dizendo, está sendo injusto!
— Injusto? Depende do que você considera injusto, porque, a meu ver, não tem nada de justo em arriscar a vida por uma pessoa, e vê-la sendo tirada de você. Acreditar que ela jamais voltaria, e depois de tanto tempo pegar a mesma na cama com seu próprio pai!
— Chega! — gritei ganhando a atenção de ambos.
— Ana, ele está nervoso, mas vai entender, que...
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Pela Força do Destino - A Magia do Olhar
RomantizmMinha vida mudou radicalmente nos últimos anos, e digo com propriedade que quando vivia no escuro as coisas pareciam ser bem mais fáceis. Já parou para pensar em como seria complicado fechar os olhos e tentar se movimentar em um local estranho e che...