Capítulo 42 Meu primeiro natal

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Era véspera de natal e o coronel nos convidou para cear em sua casa. Aquela era a primeira vez que faziam algo do tipo desde que a matriarca da família se foi, e a minha primeira depois da cirurgia. Eduardo estava muito animado, providenciou enfeites diversos para decorar o ambiente, e confesso que foi uma experiência única. 

Eu nunca havia ajudado a montar uma árvore, cheguei a tocar, mas a percepção que tinha, era muito diferente. Aqueles enfeites tão delicados, laços coloridos, papai Noel, renas e presentes de pelúcia, coisas que até então eram apenas enfeites para mim, agora já tinham um sentido diferente. O festão, as bolinhas, até mesmo a sensação de colocar a estrela no topo da árvore, tudo era muito novo, e me fez ficar realmente emocionada.

— Que carinha é essa? — Perguntou Edu se sentando ao meu lado ao pé da escada.

— Eu estava pensando em tudo o que a vida me privou — meus olhos automaticamente lacrimejaram. — Meus natais foram especiais, mas não tinha cor. Você consegue imaginar um natal sem brilho? Esse clima, eu imagino como deve ser mágico para uma criança, e eu nunca tive isso. Essa sensação de nostalgia nunca foi tão intensa.

— Na verdade, eu pensei em tudo isso — Eduardo me entregou uma caixa. — Toda essa decoração, eu queria te proporcionar esse momento.

— O que é isso? — Perguntei abrindo aquela caixa.

— É o presépio da minha avó, a mãe do meu pai. Essa é a mais profunda representação do passado em minha vida — os olhos de Eduardo brilharam intensamente quando um sorriso fofo botou em seu rosto. — Saudade de quando eu tinha uma família unida.

Quando retirei as folhas de seda que cobriam as peças, me deparei com imagens delicadas que me fizeram voltar ao passado, quando minha avó dizia que tinha que montar o presépio da igreja. Na época eu ia junto só para poder brincar com as crianças, aquilo nunca fez sentido para mim. Eu nem sabia o que de fato era um presépio, minha mente criou algo completamente diferente apesar das explicações que tive. 

Estranho não é mesmo? Mas essa era a minha realidade, eu tinha o meu próprio mundo, e agora sabia que ele era limitado demais em comparação ao que via agora.

— Me ajuda a montar? — Perguntou-me enquanto eu acariciava aquelas peças tão delicadas com o pensamento longe.

— Claro — sorri me levantando.

Caio e Suelen colocavam uns bonecos de neve em um canto da casa com várias luzinhas quando o coronel chegou com o Frederico, que havia tomado banho para a ocasião. O filhote, que já não era mais tão pequeno, estava com uma bandana vermelha no pescoço e o pelo escovado, já chegou pegando as pelúcias que Suelen colocou em baixo da árvore e fazendo a maior bagunça.

— Frederico! — Suelen veio correndo. — Mas olha, que abusado!

— Não briga com meu bebê — Eduardo pegou o cachorro no colo.

— Educa teu filho — Suelen fez uma careta engraçada para o Edu que a entregou o enfeite de pelúcia todo babado.

— A não velho, vai chorar! — Caio abraçou o pai.

— É tão bom ver minha família se entendendo — disse o coronel limpando o rosto com a mão. — Ela poderia estar aqui agora. Ana amava essa época, que saudade.

— Estava pensando nela também — Edu se juntou a aquele abraço.

Sorri com lágrimas nos olhos, sabia o quão significante estava sendo aquele momento, tão simples, mas carregado de amor, como o abraço entre pai e filhos, que até pouco tempo, mal se falavam.

— Ok, enquanto vocês se arrumam, eu vou cuidar das coisas na cozinha — disse o coronel se recompondo.

— Eu e a Ana, podemos ajudar com isso — Suelen se manifestou, e concordei.

Pela Força do Destino  - A Magia do OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora