Ao chegar na delegacia, passamos pela recepção onde uns policiais conversavam distraídos no balcão, e ao avistarem o Caio, se colocaram em posição, chamaram de senhor, e bateram continência, o que achei curioso, porque ao menos dois ali, eram bem mais velhos do que ele.
— Eu era tenente da polícia militar, entrei para a federal a pouco tempo, então, alguns ex-colegas de trabalho ainda batem continência — explicou diante do meu olhar surpreso.
Sua postura naquele ambiente foi muito profissional, e confesso que me surpreendi, porque aquela versão era bem diferente da debochada e atrevida que eu conhecia.
— Que coisa fofa, todo cheio de pose — sussurrei. — Nem parece que andava igual a uma puérpera ainda a pouco.
— Carinho para aliviar a dor ela não faz — respondeu com um sorriso discreto enquanto caminhávamos pelo corredor. — E continue andando, tem nada para ver aqui não.
— Vá se lascar — falei ganhando a atenção de um policial que passava por nós. — Nem olhei para isso aí.
Eu estava rindo e brincando, mas dentro de mim existia uma confusão muito grande de sentimentos. O local já não me incomodava mais, um trauma a menos para me preocupar, mas a ideia de estar ali depois de ter agredido uma pessoa, mesmo que a situação me fosse favorável, ainda era assustadora.
Fomos recepcionados pelo delegado de plantão em uma sala pequena com três mesas de trabalho, que naquele horário estavam vazias. O homem era alto, forte, cabelos e barba escuros e semblante muito sério. Sua presença só não me intimidou mais porque o Caio estava comigo...
— Eu falei com seu pai hoje à tarde — comentou o delegado apontando para duas cadeiras a sua frente. — Ele disse que está de viagem marcada para o Brasil, até combinamos uma pescaria.
— Diz que vem, mas só acredito quando desembarcar em solo brasileiro, porque toda vez, aparece um compromisso de última hora — afirmou Caio movimentando um peso de papel sobre a mesa, visivelmente calmo, ao contrário de mim, que estava quase surtando ao seu lado.
— Seu pai precisa é de arrumar uma companheira, e sossegar — comentou o delegado, e enquanto os dois conversavam serenamente; as vozes da minha cabeça discutiam entre si, tirando completamente a minha capacidade de concentração.
— Será que vão demorar? — Perguntei inquieta.
— Acredito que não — Caio respondeu tranquilo, como se estivéssemos em um local qualquer, fazendo nada em especial, o que me causou uma certa irritação, uma vez que não sabia o que viria a seguir.
— Delegado — a voz do policial ao lado da porta me chamou a atenção. Ele não se referia ao Dr. Renato, e sim, ao Eduardo que se aproximava ao lado de Patrícia.
— Boa noite — Eduardo apertou a mão do delegado, e se posicionou ao lado da mesa de braços cruzados.
Caio cedeu a cadeira ao meu lado para Patrícia, e não pude deixar de notar os arranhões, e o hematoma embaixo de seus olhos verdes, que agora estavam vermelhos de chorar...
— A situação aqui é bem séria — o delegado balançou a cabeça negativamente ao ler o papel que o policial o entregou. — Tem advogado?
— A aborígene quebra meu nariz, e eu é que preciso de um advogado? — Patrícia revirou os olhos falando abafado com aquele curativo tapando uma boa parte de seu rosto.
— Já está encrencada demais, eu não brincaria com a sorte — Eduardo respondeu mantendo uma postura rígida.
— Me sinto coagida — a garota me olhou com desdenho. — Eu quero prestar queixa contra ela, por ter me agredido e quebrado meu nariz, isso é uma delegacia, ou o quê?
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Pela Força do Destino - A Magia do Olhar
RomanceMinha vida mudou radicalmente nos últimos anos, e digo com propriedade que quando vivia no escuro as coisas pareciam ser bem mais fáceis. Já parou para pensar em como seria complicado fechar os olhos e tentar se movimentar em um local estranho e che...