Capítulo 04 O fruto proibido

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Conviver com uma presença masculina já era minha rotina, então me senti bem a vontade, apesar de a situação ser completamente diferente daquela ao qual estava habituada. O anfitrião não mediu esforços para me agradar, e por mais que soubesse que estar ali poderia significar problemas futuros, não pensei muito nas consequências, já estava em sua casa e agora era aguardar o resultado...

— Eu não consigo fazer muita coisa, mas posso te ajudar — comentei enquanto ele separava os ingredientes para o almoço.

— Me faça companhia, é só disso que eu preciso.

— É sério, posso ajudar, é só me orientar.

— Mas que visita teimosa — disse ele puxando a cadeira para que eu me sentasse. — Eu só quero a sua companhia, se comporte, mocinha.

— Já vi que se não obedecer, estarei encrencada — eu ri.

— Mais ou menos — concordou divertido.

O deficiente visual consegue desenvolver algumas atividades básicas, tanto na organização da casa, como na limpeza. Basta criar uma rotina organizada de modo que não ofereça risco de se ferir ou causar acidentes domésticos. 

Desde que minha avó se foi, tive que aprender a desenvolver algumas atividades sozinha, e isso de certa forma foi bom para ocupar a minha cabeça. Michael e eu criamos uma rotina organizada que facilitou bastante, só não mexia com fogo, porque aí já era muito arriscado.

— Então você é formado em direito — perguntei surpresa enquanto conversávamos.

— Atualmente faço mestrado em direito penal, mas por que o espanto?

— Você disse que estava de férias, eu não imaginava que fosse advogado.

— Eu não exerço, esse não era meu foco — afirmou. — Mas me conta seus planos para o futuro.

— Eu não fico pensando nisso — respondi desanimada. — Sou uma pessoa limitada, logo se cansará de minha companhia.

— Você não é limitada, e jamais deixe que te tratem como se fosse — afirmou. — E sobre me cansar de sua companhia, é pouco provável por que ela me traz a sensação de paz que a muito tempo não tinha.

— Levando em consideração o furacão que se formou em sua vida por minha causa; seu conceito de paz é meio diferente.

— O furacão da minha vida se formou bem antes de você chegar, e quando me conhecer a fundo, verá que tenho batalhas bem maiores do que brigas bobas de namorados, mas não queria falar sobre isso agora.

— Tudo bem, eu entendo.

Apesar de ter despertado minha curiosidade, não estendemos o assunto, sei que quando se sentisse à vontade conversaríamos e eu poderia entender que tipo de batalhas aquele ser humano incrível estava enfrentando e o que poderia fazer para ajudá-lo, se é que estava o meu alcance...

— hum, que cheiro maravilhoso — comentei salivando.

— Não é que eu queira me aparecer, mas aprendi muito cedo a cozinhar e adoro brincar com os ingredientes.

"Com todas essas habilidades, seria muito útil lá em casa" — diziam as vozes da minha cabeça.

— Agora eu queria ter o poder de ler pensamentos — comentou ele se afastando.

— Se ler meus pensamentos vai conhecer meus segredos mais obscuros, aí terei que te matar — Eu ri descontraída.

— Então teria que ser muito rápida porque tenho uma habilidade muito grande com algemas.

Pela Força do Destino  - A Magia do OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora