Retornar a universidade foi um grande desafio. Apesar de ter mudado, e não ser mais mais a garota frágil que passou por ali, a ideia de estar no local aonde fui hostilizada devido ao preconceito; e, posteriormente, sequestrada, me causava um certo medo, misturado com insegurança...
— Está pronta? — Perguntou Michael me olhando preocupado.
— Não, mas também não irei desistir — sorri insegura. — É uma pena que tenha ficado para trás, preferia continuar com a mesma turma.
— O importante, é que está aqui e poderá concluir o que começou.
— Eu sei — suspirei contrariada observando aquele edifício de arquitetura antiga, pintado em tons de cinza, que com aquelas grades altas, se destacava ocupando totalmente aquele quarteirão. Na verdade, eu diria que vários.
Passamos pela calçada que dividia o gramado, onde havia vários bancos, e jardins discretos de ambos os lados. Durante todo o trajeto, fomos observados por olhares, que iam de curiosos, a espantados, e ao atravessar a grande porta de vidro trabalhado; observei que por dentro o prédio parecia ser, no mínimo, dez vezes maior.
— Estranho saber que andei por aqui sem enxergar, isso é imenso — comentei espantada.
— Está escrevendo um novo capítulo de sua história, então deixe o passado aonde deve ficar — respondeu Michael, quando íamos rumo a sala do coordenador, que pediu que primeiramente passássemos por lá. Ele bem que tentou disfarçar sua preocupação, mas não foi muito bem nessa tarefa.
"Será que me reconhecem?" — Refleti desconfortável com tantos olhares voltados para mim.
Entramos em uma sala que se assemelhava aos filmes antigos que o coronel assistia, e foi impossível não sentir saudades. Uma escrivaninha de cor escura, ficava bem no meio do cômodo com duas cadeiras estofadas a sua frente, aonde nos sentamos, e ao fundo, pude avistar uma parede de armários cheio de livros que pareciam dividir o ambiente em duas partes, enquanto sons de máquina de datilografia ecoavam pelo local.
— Quem ainda usa máquina de datilografia? — Murmurei voltando meu olhar para um sofá entalhado modelo colonial com estofamento de couro preto, e uma mesinha de canto com algumas revistas impecavelmente arrumadas. Acho que aquele lugar parou no tempo.
— Seja bem-vinda de volta — disse um senhor de estatura pequena de cabeça branca. — Sou Miguel, o novo coordenador.
— Muito prazer — respondi apertando sua mão.
— Então, como conversei anteriormente com seu irmão, até que domine a escrita, a senhorita precisará frequentar a sala especial. Os professores estão cientes, e irão preparar o material de acordo com suas necessidades — explicou. — Essa foi a solução que encontramos para não prejudicá-la.
— Ela ainda está em processo de recuperação, me preocupo com gatilhos, se puderem auxiliar em relação a isso. Temo que as meninas voltem a incomodá-la — Michael interveio.
— Compreendo, mas acredito que não teremos mais problemas em relação a isso. E se tiver, tomaremos providências.
— Bem, então, acho que é isso — disse Michael se levantando.
— Estamos a disposição para o que precisar, e, boa sorte em seu retorno.
— Vou precisar — murmurei apertando sua mão antes de sairmos daquela sala que cheirava a papéis antigos.
Se fosse esperar eu ser alfabetizada devidamente, demoraria um certo tempo, e eu conseguia usar o programa perfeitamente, então, o melhor caminho para não me atrasar muito foi esse.
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Pela Força do Destino - A Magia do Olhar
RomantikMinha vida mudou radicalmente nos últimos anos, e digo com propriedade que quando vivia no escuro as coisas pareciam ser bem mais fáceis. Já parou para pensar em como seria complicado fechar os olhos e tentar se movimentar em um local estranho e che...