my sweet joy... always remember me

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-Eu nunca mais vi ela depois daquilo. -Leah falou limpando as lágrimas.

Ninguém deixou que ela visse o corpo de Helena e Elias chegou apenas quando o caixão já estava na capela pronto para ser velado.

Assim como ela, Carmem também não saiu um segundo do lado da filha e da neta.

-Eu a trouxe para esse mundo... Vou estar aqui quando ela deixá-lo também.

A fala da sogra ainda a fazia querer surtar toda vez que se lembrava.

-É isso que eu não entendo. -Alex falou se levantando e cruzando os braços. Leah não entendeu a expressão da amiga. -Em questão de horas a Helena piorou a ponto de não resistir e ter de ser enterrada com caixão fechado... Eu conversei com vários médicos, eles disseram que não faz sentido, fora o afastamento do Elias do caso e a insistência em tirá-la dali para levar até Milton Keynes... Tudo isso não é muito esquisito pra você?

-E qual seria a explicação Alex? A Helena teve mais uma hemorragia e morreu de madrugada. E eu não estava lá para segurar a mão dela... Ela morreu sozinha e pela quarta vez eu falhei com a pessoa que fez absolutamente tudo por mim... Inclusive morrer no meu lugar. Aquele tiro era meu... E o Elias não podia cuidar da própria filha, seria totalmente anti ético.-Leah falou também se levantando e indo até o quarto de Amy com um suspiro, passou tanto tempo focada em seu sofrimento que não queria parar para questionar as estranhezas que cercavam a morte da esposa, pois sabia que iria surtar se o fizesse. -Vou dormir... Amanhã eu volto a jogar... E preciso ao menos tentar dormir.

A jogadora estava desanimada.

Ia fazer sua volta depois de meses afastada dos campos.

Esperava que tudo estivesse diferente quando voltasse ao gramado mas jamais poderia imaginar que a pessoa que mais a ajudou no processo, não estivesse ali.

Aguardou tanto por aquilo, mas como iria conseguir novamente sabendo que jamais veria Helena na arquibancada de novo.

Lembrava-se da animação da esposa sempre que iria jogar, como ela lhe acordava com um café reforçado tomando cuidado para não ter nada que fugisse da dieta da jogadora.

De Amy cantando The Angel pela casa enquanto Helena separava sua roupa, uma camiseta com o número 6 e Mommy escrito atrás.

Eram memórias tão alegres que a fazia sorrir com uma grande dor no coração, por que naquele dia, acordou cedo e preparou o café de Amy, depois separou sua roupa e apesar de tentar estar animada, a filha também apresentava uma expressão saudosa no rosto.

Os jogos de Leah, antes tão aguardados naquela casa, agora tratavam-se de mais sucessivas lembranças de Helena e de como ela não estava ali, de como as duas queriam que ela estivesse.

A menina levantou-se de sua cadeira e deu um abraço apertado em Leah.

-A mamãe vai estar torcendo... E eu também. Vai dar tudo certo.

A jogadora limpou rapidamente as lágrimas que reinavam em escorrer.

-Eu sei meu amor, vou marcar um gol pra vocês duas. -Respondeu dando um beijo na bochecha da filha. -Agora termina seu café e vá se arrumar... Deixei sua roupa em cima da cama.

A ruivinha balançou a cabeça e terminou de comer suas panquecas.

Leah saiu de casa logo que Carmem e Amanda chegaram para ficar com Amy até chegar a hora delas se encaminharem para o estádio.

As duas também iriam no jogo e estavam ansiosas.

O único que não compareceria era Elias, segundo ele, tinha uma importante reunião e sua presença era imprescindível.

Toda a família ignorava o tratamento seco que o pai de Helena dava para a nora.

Leah não ligava, ela tinha certeza que, além de suas traições, ele a culpava pela morte da filha e a jogadora concordava com isso.

Ao chegar no Centro de Treinamento de onde partiria para o estádio com as colegas, respirou fundo e beijou a aliança de Helena pendurada em seu pescoço.

-Será por você meu amor... Eu te amo.

Falou e desceu do carro.

Sentia a atmosfera diferente, aquela expectativa pré-jogo, a sensação de voltar ao fazer o que nasceu para fazer.

Respirou fundo e tentou sorrir, Helena não iria gostar de vê-la tão triste em um dia que deveria ser tão feliz.

Ficou concentrada com as companheiras o dia todo e mais tarde, foi cochilando no ônibus até o local da partida.

Ao começar o aquecimento, olhou para onde sua família estava e sorriu ao ver Amy com a camiseta do Arsenal sorrindo para si.

Por um segundo conseguiu lembrar das várias vezes que viu aquela cena, mas com Helena completando a visão.

Segurando Amy no colo enquanto pulava após um gol.

Assustou-se ao sentir uma mão em seu ombro.

-Eu sei que está difícil Leah. Mas de alguma forma ela está aqui... A Helena sempre vai estar. -Katie e Vivianne olhavam pra ela com uma expressão entristecida no rosto.

Todos no time estavam felizes com a volta de Leah, mas imaginavam como ela estava sentindo-se e como a ausência de Helena pesaria para si.

-É bom estar de volta, mas eu não sou a mesma... -Disse triste.

-Você será ainda melhor Leah. Tenho certeza. -Beth chegou perto das três e abraçou a amiga. -Por você, pela Amy... E pela Helena.

Após terminar o aquecimento e a execução dos hinos dos clubes, o jogo começou tranquilo.

Os torcedores aplaudiram Leah e saudaram sua volta vibrando com o gol que fez na rede do Manchester United.

Quando comemorou, apontou para Amy e para o céu em uma clara homenagem a filha e a falecida esposa.

A adrenalina do campo, o grito da torcida, toda aquela atmosfera a fez sentir-se mais viva e ficou feliz por isso.

Jogou o primeiro tempo inteiro e não protestou como faria antigamente quando Jonas Eidevall pediu que ela visse o segundo tempo do banco.

No fim do jogo, voltou ao gramado para abraçar as companheiras de time e cumprimentar as adversárias.

Fez um sinal para a mãe que logo iria até ali, só precisava trocar de roupa e quando estava voltando aos túneis, olhou rapidamente para a arquibancada como se algo magneticamente atraísse sua visão para aquela direção levando um enorme susto.

Uma figura de casaco preto e cabelos alaranjados a olhava lá de cima e quando seus olhares se conectaram, sentiu o ar fugir dos pulmões a deixando de boca aberta.

Não acreditava em fantasmas, seres sobrenaturais e por sorte, Amy nunca apresentou medo disso.

Pelo contrário, quando Helena ainda estava viva, às três adoravam assistir filmes de terror e a menina gargalhava depois de cada susto que tomavam.

Mas naquele momento, acreditou estar tendo uma visão de outro mundo.

Ou tão cansada a ponto de imaginar coisas.

Fazia tanto tempo que não jogava, talvez não estivesse mais acostumada ao esforço, o que em si era ridículo, mas estava acreditando em quase qualquer coisa.

Por que com certeza, seus olhos estavam a enganando.

Mesmo com aquele tom ruivo e os fios mais longos, Leah podia jurar que a pessoa na arquibancada a olhando fixamente com os olhos arregalados, era Helena.

Mas não podia ser... Podia?

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