Capítulo 19

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Abri os meus olhos com dificuldade, mas logo tive que os fechar novamente por causa da forte claridade. Espero mais um pouco, até que os abro lentamente até me acostumar. A primeira coisa que eu vejo, é o teto do meu quarto. No início eu fiquei parada naquela cama bastante confusa, até que várias lembranças começaram a me preencher. A lembrança de eu ter matado aqueles homens não me agradou nem um pouco, mas o que mais me assustava era que eu não sentia nenhum um pouco de culpa

Eu fiquei assustada porque as vozes das Madres ecoaram dentro da minha cabeça, com frases aonde dizia que eu era um monstro que poderia facilmente matar as pessoas ao meu redor. Eu queria ignorar essas vozes então busquei outras lembranças que indicava como voltei para a cabana. Entretanto, a minha ultima lembrança foi da cachoeira. Sei que havia uma pessoa e que ele me ajudou chegar até aqui. Mas quem?

Saio dos meus pensamentos quando ouço a porta sendo aberta. Tento me levantar, mas somente consegui suspirar em dor por causa do meu ombro. Assim, voltei a me deitar lentamente e respirando com dificuldade. Só me movi quando percebi que era a dona Sueli que entrou e sentou na beirada da cama, enquanto segurava uma bandeja. Olhei para o seu rosto e vi que tinha um sorriso carinhoso.

- Como você está? - ela perguntou ainda sorrindo, mas com um olhar preocupado.

- Parece que eu fui esmagado por um caminhão... - murmurei, estranhando um pouco a minha voz que estava mais rouca que o normal.

- Não se preocupe, isso é normal. - disse suspirando.

- Por quê? - pergunto confusa.

- Você dormiu por dois dias! - falou enquanto acariciava os meus cabelos, parecendo triste. Olhei para ela em choque e sem saber o que falar. Eu sempre tive uma ótima recuperação e nunca fiquei tanto tempo desacordada. - Mas podia ser bem pior... - continuou

- Como assim? - perguntei estranhando o seu olhar.

- O tiro que você levou, havia um veneno na bala que era capaz de matar lobisomens em minutos, no caso de não conseguir buscar o antídoto a tempo. - falou com a voz um pouco baixa e me olhou com curiosidade. - Mas o grande mistério é como você conseguiu sobreviver?

- E-eu não sei, dona Sueli. Talvez poderia ser um engano, um outro veneno... - falei confusa, mas ela negou com a cabeça.

- Não Ana, eu também sou uma curandeira e tenho certeza que a bala tinha esse veneno! - afirmou.

- Mas como? - a minha cabeça parecia que ia explodir com tanta confusão. Eu nem sabia que existia um veneno assim.

- Eu não sei. Mas você pode me ajudar a descobrir. - falou e eu a olhei sem entender.

- Como? - pergunto quase em um sussurro.

- Me fale sobre o que aconteceu naquela floresta... - falou tranquila, mas automaticamente eu desviei do seu olhar com a consciência pesada e com o coração acelerado.

Naquele momento, eu estava com muito medo que a dona Sueli me evitasse, depois de descobrir que eu matei outras pessoas. Pessoas que eu nem sabia quem eram. Fiquei preocupada pensando no caso ela me julgar e não acreditar nas minhas palavras. Será que ela me entenderá? As sombras das Madres ainda me perturbavam. Eu estava com medo de arriscar e contar a verdade, mas também eu não conseguiria mentir para ela. Como posso mentir para a pessoa que cuidou tão bem de mim e com tanto carinho? Eu não sei mais o que fazer...

Entretanto, o meu coração em conflito apenas se acalmou um pouco quando senti a sua mão apertar a minha.

 - Calma. - falou gentilmente quando percebeu o meu desespero. - Deve ter sido difícil para você, não é querida? Você não precisa se esforçar em me contar se não estiver confortável. Quando você se sentir melhor, você sabe aonde me encontrar, tudo bem? - perguntou e eu concordei com a cabeça com os meus olhos lacrimejados. - Bom, eu trouxe uma sopa para você, mas não sei se ainda está quente. - falou mudando de assunto e me mostrando a bandeja em seu colo. Com um pouco de esforço eu consegui me sentar, enquanto a dona Sueli colocava a bandeja no meu colo.

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