Capítulo 22

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Quando eu entrei naquela floresta, eu corri como se aquilo fosse a minha salvação. Os galhos secos das árvores rasgavam a minha pele e a minha roupa, quando eu corria sem prestar atenção ao meu arredor. Porém, eu não me importava, eu somente tinha que chegar naquela cachoeira. Por um momento as algumas memórias da minha infância passaram pela a minha mente sem que eu permitisse, fazendo com que eu desviasse a minha atenção. Com isso eu acabei escorregando na lama quando eu fui desviar de uma árvore que pareceu do nada na minha frente e cai de barriga no chão, quase de cara. Permaneci assim por pouco tempo, me levanto devagar e fiquei de joelhos, um pouco curvada apoiando as mãos no chão e de cabeça baixa. Todas essas lembranças me machucam, fisicamente e mentalmente e eu fico sem saber o que fazer. Apenas senti que as lágrimas saindo dos meus olhos e molhando todo o meu rosto.

Eu tinha pensado que aqui finalmente seria era o meu lugar e que eu era igual a todos, mas desde o primeiro dia havia sinais que isso não era verdade. Eu lembrava muito bem daqueles olhares assustados, medrosos dos alunos e das pessoas que eu matei. Então, como pode ser o meu lugar, se eles me olhavam como uma aberração, depois quando viram a minha loba. Mas por incrível que pareça, eu não tenho rancor da Malu ou raiva, porque simplesmente ela foi a única que sempre esteve do meu lado, me protegendo.

Entretanto, quando achei que coisas não poderiam piorar, o silêncio da floresta foi quebrada quando um forte trovão balançou a terra, me fazendo estremecer. Logo depois veio a chuva, que aos poucos misturaram com as minhas lágrimas. Olhei para cima vendo aquele céu nublado enquanto algumas gotas caiam em meu rosto. Com isso acabei me lembrando de um acontecimento com um tempo igual a esse. Após as Madres do orfanato em me julgar todos os dias dizendo que eu era um demônio, eu não aguentava mais e consegui fugi pela primeira vez, escapando daquela prisão/porão. Eu tinha permanecido naquele lugar por um mês inteiro, que pareceu anos. Todas as noites eu chorava me culpando e odiando a mim mesma por eu ser assim. Após da minha fuga pelo a porta do fundo, eu consegui chegar até a floresta novamente.

A minha loba queria fugir de lá, mas eu era covarde e tinha esperanças que as Madres me aceitariam de volta. Assim, desisti da ideia de fugir e cheguei até em um lago misterioso. Me aproximei e a fiquei observando o reflexo da minha loba na água. Eu não lembro mais como eu me sentia naquele momento, mas estava chovendo bastante igual agora. Infelizmente, eu tive que voltar para o orfanato então acabei dando um último olhar para aquele lago e fiz um pedido: Que alguém me amasse do jeito que eu sou.

Tem gente que diz, que o tempo cura as feridas em nosso coração, mas eu não me curei nenhum pouco e com essa dor tenho o medo da rejeição. Naquelas lembranças, acabei me lembrando como eu costumava ser quando eu era uma garotinha livre e alegre. Antes que o meu pequeno mundo feliz fosse destruído e transformasse em uma vida de solidão. No fundo, eu sabia que eu deveria mudar e parar de aprofundar ainda mais nesse sentimento. Parar de ficar presa ao passado, porque eu não poderia reparar o que já foi feito. Somente tenho enfrentar tudo de cabeça erguida, para que o futuro melhore também. Com esse pensamento me levantei e sequei as lágrimas no meu rosto. Também percebi que a chuva já tinha parado e eu estava completamente encharcada. A minha roupa estava marrom por causa da lama, mas não era algo para eu ficar preocupada. Apenas, comecei a estranhar quando a minha loba começou a ficar inquieta. Parecia que o motivo era a cachoeira. Vamos! A voz da Malu ecoou em meus pensamentos e mesmo não entendendo muito bem o motivo, eu comecei a correr novamente.

Eu passei correndo desviando das árvores que entravam na minha frente. Eu não sabia o caminho exato do lugar, apenas comecei a seguir os meus instinto. Paro no meio na floresta e fecho os meus olhos para eu concentrar nos sons ao meu redor. Como previsto, consegui ouvir a água caindo da cachoeira. O som vinha mais para o lado direto e foi naquela direção que eu comecei a correr. Os galhos voltaram a me machucar, mas eu não parei, somente comecei a correr mais rápido. Um suspiro de alivio saiu da minha boca, quando finalmente eu a encontrei. Os meus olhos brilharam com a beleza do lugar. A água era cristalina, que dava para enxergar os peixinhos ao fundo, mas o que me impressionou mais, foi o arco-íris que vinha da cascada. Me aproximo e coloco a minha mão na água. Me surpreendi quando senti que mesmo depois daquela chuva a água não estava gelada, mas morna. Comecei a retirar a minha roupa cheio de lama e fiquei só de roupa íntima.

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