Naquele momento, eu estava deitada no chão na grama fofa, olhando para essa bela paisagem. Hector acabou ficando comigo e estava deitado ao meu lado. Nós dois ficamos quietos para aproveitar o momento. Contudo, depois de um tempo acabei ficando um pouco desconfortável com todo aquele silêncio e me virei de lado para poder olhar melhor o seu rosto. Fiquei o observando e acabei percebendo que ele tinha um olhar pensativo enquanto olhava para cima. Ele parecia querer resolver algo complexo, pois, aquele sorriso descontraído não existia mais e restou apenas um olhar cheio de preocupação.
Fiquei curiosa querendo saber o que estava o deixando daquele jeito. No entanto, quando eu ia abrir a minha boca, ele se sentou de repente e acabou me assustando.
- O que foi Hector? - perguntei com dúvida enquanto eu me sentava também.
- Não é nada. - ele falou com um leve sorriso.
- Aconteceu algo? Você está estranho. - falei, pois, eu não estava convencida com as suas palavras. No entanto, ele acabou negando de novo.
- Eu só estava pensando na viagem que eu irei fazer, são negócios da alcateia.
- Verdade? - perguntei e o vi concordar com a cabeça. Tentei descobrir mais, mas infelizmente, nada adiantou. Me fazendo suspirar desanimada. - Entendo... Mas quando você vai viajar? - Mesmo eu esteja curiosa, acabei ficando quieta. Eu não queria perturbá-lo sobre isso, já que, ele não parecia estar confortável em dizer.
- Será hoje. Quando mais cedo melhor.
Com essa resposta ficamos em silêncio novamente. Eu queria poder fazer algo para mudar aquela cara amarrada, porem eu não sabia como. Entretida com esses pensamentos, acabei não percebendo quando ele se levantou, nem quando ele ficou ao meu lado. Apenas senti uma mão quente tocar o meu rosto.
- Não fique assim, Ana. - falou calmamente me fazendo o olhar diretamente em seus olhos. Ele se aproximou mais e deixou um leve beijo na minha testa. - Está tudo bem.
Olhei atentamente para ele pela última vez antes de fechar os meus olhos e suspirar pesadamente. A única coisa que eu realmente poderia fazer naquele momento, era deixar isso de lado. Pelo menos por agora.
- Você vai demorar muito tempo para voltar? - perguntei enquanto eu me levantava e voltava a encará-lo.
- Um pouco... - falou hesitando por um momento. -Talvez eu ficarei fora por alguns dias. Digamos que o caminho é bastante longo. - ele disse novamente com aquele modo misterioso.
Contudo, com a sua resposta me fez lembrar que em poucos dias, será o meu aniversário. Um aniversário que fazia muito tempo que eu não comemorava. Depois daquele dia, ao meu aniversário de treze anos quando foi a minha primeira transformação. Algo que eu jamais esquecerei. No entanto, o meu aniversário de 18 anos está chegando e vai ser a primeira vez que eu o comemorei fora do orfanato. Será a primeira vez que eu não estarei sozinha, pois haverá pessoas que realmente se importam comigo e gostam do jeito que eu sou. Contudo, apesar de ter todo esse amor, eu ainda não sei se serei capaz de ficar completamente feliz, porque ainda faltava alguém. Uma pessoa que sempre me fez sorrir verdadeiramente naquele orfanato. A minha irmãzinha Duda. Eu ainda tinha a esperança de encontrá-la, mesmo não sabendo onde e nem quando, eu sei que a encontrarei. Era isso o que o meu coração dizia.
- Ana? - com a voz do Hector acabou me tirando daqueles pensamentos nebulosos. Forçando um sorriso olhei na sua direção. No entanto, o seu olhar parecia facilmente ler todos os meus pensamentos mais profundos. Com esse olhar eu não pude deixar de sentir as minhas bochechas queimarem um pouco. - Está tudo bem?
- S-sim. - falei gaguejando e não tendo mais coragem de olhar nos seus olhos. Por um momento pensei em dizer sobre o meu aniversário, mas no final eu acabei desistindo dessa ideia, para não atrapalhar a sua viagem. Mesmo ele não me dizendo completamente do que se tratava, parecia ser algo muito importante para ele e não seria justo se eu estragasse isso. Também, o que poderia haver de tão especial no meu aniversário?
- Está tudo bem, eu só espero que você tenha uma boa viagem. - com um sorriso eu o abracei com força. Era a minha despedida. Mesmo que, lá no fundo, eu não quisesse que ele fosse embora.
- Quando tudo se resolver, eu voltarei o mais rápido possível. Por você. - falou enquanto fazia carinho no meu cabelo. Desse jeito foi impossível não começar sorrir feito uma boba.
Depois daquele momento ficamos mais um pouco juntos até que chegou o momento que ele teve que ir embora. Ele queria me acompanhar até a cabana, mas acabei decidindo ficar por mais tempo na cachoeira. Mesmo que ele discordasse em me deixar sozinha naquele lugar, acabou aceitando no final devido à minha insistência. Depois de me fazer prometer várias vezes de tomar todo o cuidado, se despediu com um beijo e se transformou no seu lobo, indo embora logo seguida.
Olhando na direção da onde ele sumiu, acabei tendo um pensamento estranho. Percebi que meus sentimentos por Hector mudara de forma silenciosa... Esta mudança me fez sentir pânico no começo, mas acabei me acostumando. Era um sentimento quente e confortável. Que em cada dia, vai crescendo e crescendo cada vez mais.
Após sair nessa bagunça de pensamentos me levantei no chão e comecei a voltar pelo mesmo caminho de antes. Árvores antigas bloqueavam a luz do sol como um guarda-chuva gigante. Apenas alguns pontos de luz solar pode ser visto na floresta. Pensando nisso, eu sabia que deveria apressar os meus passos, antes que aparecesse mais algum ômega. No entanto, eu acabei parando no meio da trilha. Após pensar mais algumas vezes no que eu ia fazer, decido a tomar um caminho diferente. Eu precisava ir para um lugar antes de voltar para casa.
Quando cheguei ao meu destino, fiquei em frente da porta sem saber o que eu realmente deveria fazer. Os meus pensamentos estavam tão bagunçadas que estava me deixando cada vez mais desesperada. No entanto, antes mesmo tomar a ação, a porta se abriu e um homem apareceu na minha vista. O seu rosto estava tão pálido como um fantasma e o seu cabelo estava todo bagunçado como estivesse acabado de levantar da cama, além disso, havia duas enormes olheiras em seu rosto que o deixava com uma expressão sombria e, ao mesmo tempo, lamentável.
- O-oi Jorge. - falei fracamente, e abri um leve sorriso na sua direção. O seu olhar abalado teve uma pitada de surpresa, aonde que acabou se transformando em felicidade.
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Minha Loba
WerewolfMinha Loba (Atualizada) Depois da sua primeira transformação, Ana nunca foi a mesma. E o motivo? Foi que as pessoas que ela mais amava a chamaram de MONSTRO. Apartir daquele dia teve que conviver com a dor e a solidão. Porém, tudo isso muda quando e...