• No Começo e no Fim

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Os três estampidos ecoaram, como o trovão que prenuncia uma tempestade. O corpo de Emmet, até então seguro em seu abraço, foi abruptamente lançado para trás. Maya sentiu o impacto dos tiros, mas por um momento, o tempo parecia congelar. O abraço se desfez, e o que era um instante de ternura se tornou um pesadelo cruel. Emmet começou a cair, como se estivesse deslizando para longe de sua realidade. O coração de Maya pulsava descontroladamente, seu peito apertado por uma angústia indescritível.

Os sons ao redor se tornaram distantes, ela olhou para Emmet, seus olhos refletindo um misto de incredulidade e horror. Cada segundo parecia se esticar até o limite, como se estivesse presa em um pesadelo do qual não podia acordar.
A rua ao redor tornou-se uma visão borrada, e as vozes das pessoas, antes indistintas, se tornaram murmúrios distantes. O cheiro metálico de sangue enchia o ar. Maya, paralisada, viu seu irmão cair mais e mais, a cada centímetro uma agonia prolongada.

O mundo ao seu redor desabava enquanto Emmet continuava a cair, a sirene distante de uma ambulância começou a ecoar como uma trilha sonora mórbida, maya finalmente se moveu, suas pernas vacilantes tentando alcançar Emmet, mas cada passo parecia uma luta contra uma força invisível, seus dedos, antes aquecidos pelo abraço fraterno, agora tremiam incontrolavelmente.

Uma multidão já estava formada ao redor quando a ambulância parou, mas Maya não conseguia visualizar nenhum rosto que estava ali. Ouvia uma voz distante chamar pelo seu nome e alguém tentar tirar o irmão dos seus braços fazendo ela se apertar mais ao corpo dele.

— Bishop, Bishop — a voz masculina chamou de novo a sua atenção — Capitã Bishop!!

Maya conhecia aquele rosto de algum lugar mas no momento ela não podia assimilar nada, um outro paramédico se aproximou dela pedindo permissão para examiná-la.

— Foram três tiros, sem saída de bala eu estou bem, esse sangue é dele — foi a única coisa que ela conseguiu dizer.

Logo ela estava dentro da ambulância, segurando firme a mão de Emmet, ela ainda não tinha coragem de olhar para o rosto do irmão, seu coração batia tão descompensadamente que o único desejo era sair correndo dali. As portas da ambulância saíram revelando médicos que olhavam pra ela em completo choque.

— Maya! Maya, olha pra mim o que aconteceu?? — uma médica dizia segurando o rosto dela.

— TRAUMA DOIS — ela ouviu outro médico gritar em plenos pulmões.

Ela ainda não tinha soltado a mão de Emmet e seguia todos os movimentos que faziam com a maca dele, novamente uma mão feminina tentou afastar ela da maca.

— Maya, deixa a gente cuidar dele, nós vamos cuidar dele

Ela segurava tão firme com uma mão no ferro da maca, e a outra na mão quente do irmão que nada seria capaz de tirar ela dali. Naquela sala tinha muitos médicos, muitas pessoas que falavam sem parar e ela não conseguia entender, olhava para as finas linhas e números do monitor que começaram a se alterar quando ela viu os grandes olhos azuis de Emmet se abrindo.

— Maya — ele falou fraco tossindo, Maya conseguia ver mais sangue nos seus lábios, tudo ao redor parecia ter sangue.

— Eu estou aqui — ela disse num fio de voz.

— Fala para o Travis, que eu amo ele — emmet dizia com um esforço sobre humano — Amo a mãe bishop, e amo mãe Dixon.

— Você vai dizer dizer isso pra eles — ela beijou a mão do irmão.

— Obrigada por estar na minha vida irmãzinha — ele sorriu e uma lágrima solitária escorreu pelo rosto dele — No começo e no fim.

Os olhos dele se fecharam e monitor começou a apitar e Maya sentiu mãos fortes passarem pelos seus braços e seu corpo ser arrancado dali.

— NÃO, NÃO NÃO EU TENHO QUE FICAR COM ELE — ela gritava com o resto de força que sobrava dentro dela.

— Ele vai subir pra cirurgia agora, ele vai ser bem cuidado — a voz masculina falava no seu ouvido.

Ela viu uma enfermeira se aproximar com uma injeção em mãos e ela se debateu tentando fugir.

— Por favor não, por favor por favor — ela implorava chorando copiosamente.

— Pode deixar, eu vou acalmar ela — a voz masculina disse novamente e ela olhou pra cima vendo duas íris azuis a encararem com ternura.

Poucas horas de distância dali Carina brindava com a equipe, o clima era leve com muitos sorrisos e abraços. Ela alcançou o celular no bolso e viu que a bateria estava descarregada e logo pediu a assessora para encontrar um lugar onde ela pudesse carregar o aparelho, um garçom entregou um copo d'água para ela no mesmo momento que um arrepio passou pelo seu corpo e seu peito de apertou em angústia fazendo o copo ir da sua mão ao chão.


Safe Place II - Marina Onde histórias criam vida. Descubra agora