• Pânico

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Ao entregar Scout à garota da creche, deixei um beijo em sua bochecha, tentando esconder a agonia que começava a se instalar em mim. Cada passo para longe do lugar foi um passo mais profundo em um abismo de medo e incerteza. Meus sentidos estavam aguçados, como se estivesse em alerta máximo, mas não havia escape para a ansiedade que crescia dentro de mim.

"Uma filha... um bebê recém-nascido," repeti para mim mesma, como se tentasse convencer meu cérebro da realidade. A responsabilidade pulsava em cada batida do meu coração, enquanto o pensamento de que agora eu era a responsável por uma vida tão frágil e dependente me atingia como uma onda avassaladora.

O corredor da creche parecia se alongar infinitamente enquanto eu lutava contra uma vertigem crescente. Minhas mãos tremiam incontrolavelmente, e a sensação de suor frio nas palmas aumentava a cada passo. A realidade do que estava por vir me atingiu como uma tonelada de tijolos.

"Cuidar, manter viva, ensinar a viver..." os pensamentos rodopiavam em minha mente como uma tempestade. Cada palavra era acompanhada por uma onda de apreensão. A simples ideia de ser responsável por uma vida pequena e vulnerável me deixava apavorada.

Meus passos vacilaram, e a ansiedade atingia níveis quase insuportáveis. Pensei em vomitar ali mesmo, como se pudesse expulsar parte dessa insegurança e medo. Meu Deus, como eu enfrentaria isso? A realidade da maternidade pesava sobre mim como uma nuvem negra, e a incerteza do futuro me envolvia como uma névoa sufocante.

— Maya? — ouvi a voz da Callie atrás de mim e esfreguei o rosto antes de virar para ela — Tá tudo bem?

— Oi Callie, tá sim — menti enquanto torcia os dedos.

— Claro que não está, você tá tremendo — ela me olhou preocupada — Vem cá.

Eu apenas segui ela sem questionar, qualquer lugar que me tirasse de dentro da minha cabeça era melhor. Entramos numa sala repleta de gesso, faixas e imagens de ossos ela foi até o filtro pegar um copo d'água enquanto eu me sentava no chão perdendo toda a força das minhas pernas.

— Eu não estou preparada para ser mãe — confessei sentindo meu peito apertar.

— Ninguém nunca está — ela deu um sorriso fraco se aproximando de mim.

— É diferente — falei esfregando o pescoço buscando ar — Eu não nasci pra ser mãe, eu não vou saber fazer isso, eu vou ser péssima, minha família sempre foi péssima.

Minhas mãos tremiam ser parar, o ar faltava e eu queria correr dali.

— Maya Calma — ela segurou minhas mãos — Você tá tendo um ataque de pânico, calma respira e inspira devagar

Eu segui o que ela falou e comecei a respirar fundo, tentando controlar a avalanche de pensamentos apavorantes. Callie permaneceu ao meu lado, segurando minhas mãos com firmeza.

— Maya, escuta — Callie começou, olhando nos meus olhos com empatia — Quando eu soube que seria mãe, eu também tive medo. A ansiedade quase me engoliu, mas eu decidi que não repetiria os erros dos meus pais. Eu escolhi ser a melhor mãe que eu pudesse ser.

Engoli em seco, absorvendo suas palavras.

— Eu me recusei a carregar o peso dos erros deles nas minhas costas, e você também não precisa fazer isso. Você tem o poder de criar uma experiência diferente para sua filha.

Suas palavras penetraram, um feixe de luz em meio à escuridão dos meus receios.

— Eu sei que a sua família teve problemas, mas isso não define quem você é ou quem você será como mãe. Você tem a oportunidade de construir um novo caminho.

Uma lágrima escapou dos meus olhos, uma mistura de medo e esperança.

— Eu não quero ser como eles. Não quero que minha filha sinta o que eu senti. — minha voz saiu em sussurros, carregada de determinação.

Callie apertou minhas mãos, transmitindo apoio.

— Então não seja. Você pode ser a mãe que ela precisa. Não deixe que o medo te impeça de abraçar esse amor, Maya. Você é mais forte do que imagina.

Inspirei profundamente, sentindo a firmeza das palavras de Callie penetrar em mim. O peso começou a diminuir, e a sala repleta de gesso se tornou um refúgio de confiança.

— Eu posso fazer isso, não é? — perguntei, buscando certezas nos olhos dela.

Callie sorriu.

— Com certeza, Maya. Você será incrível, você tem uma esposa incrível e estaremos aqui para apoiar vocês, sempre.

Ela logo foi bipada no seu paiger mas me deixou ali por mais uns minutos pra me acalmar. Olhei o meu celular sorrindo vendo a reação dos meus amigos com a foto da Martina, e pensar nela já me deu saudades. Resolvi voltar para o quarto decidida a ficar com a minha filha e com a minha esposa.

Muitas coisas aconteceram nesse tempo, mas eu estava disposta a passar uma borracha em tudo e recomeçar com a minha família

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Muitas coisas aconteceram nesse tempo, mas eu estava disposta a passar uma borracha em tudo e recomeçar com a minha família.


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