Safe Place II - Marina

• Por que essa discussão mesmo?

Depois de ler aquela notícia tinha estragado completamente o meu almoço o resto da tarde, Maya percebeu e logo decidimos ir pra casa. No caminho eu tinha a cabeça encostada no vidro do carro tentando não pensar em nada até que uma mini discussão chamou minha atenção.

— Nunca mais vocês me deixaram dormir na casa do tio Jack — Lucca reclamava

— Você escolheu dormir na casa do tio Andrea no final de semana Lucca — Maya falou — No próximo se o Jack estiver de folga você pode ir pra lá

— Porque só no final de semana? A semana tem 05 dias e o final só tem dois. Não faz sentido

— O sentido é o nosso combinado, de você só dormir fora de casa nos finais de semana

— Mas às vezes eu durmo fora dia se semana, quando vocês mandam

— Aí é diferente — ela falou — Quando realmente tem uma necessidade que nenhuma de nós vai estar em casa a noite

— Pra mim não tem diferença — ele falou e eu notei ela balançar a perna e respirar fundo num sinal que estava ficando sem paciência

— Lucca, por que essa discussão mesmo? — perguntei — Nós temos poucos combinados, e eles são claros e bem conversados é você concordou com todos! Se você quiser rever eles a toda a lista de privilégios que a gente tem, podemos falar agora

— Não precisa mamãe, tá tudo bem — ele disse voltando a prestar atenção no tablet

Maya sussurrou um obrigada pra mim com um sorriso fraco, assim que chegamos em casa Lucca subiu direto pro quarto e Maya colocou Martina no carrinho que estava na sala e se jogou no sofá

— Vem cá — ela bateu a mão na perna dela e eu fui até lá me aconchegando no seu colo — Cheirosa — ela falou

— Minha cabeça tá doendo tanto — falei enquanto ela beijava meu nariz

— Quer subir e tomar um banho? Eu levo um cházinho pra você

— Preciso dar o remédio pra Martina — falei

— Pode ir — ela falou — Eu resolvo tudo aqui

— Eu te amo demais — falei dando um beijo leve nela e levantando do seu colo

Subi pro quarto e gemi vendo a cama bagunçada, e cheia de coisas da Martina no chão ao redor. Mas esse era um problema pra Carina pós banho, entrei no banheiro e liguei o chuveiro pra esquentar enquanto eu tirava a roupa.

Entrei sentindo a água quente deslizar pelo meu corpo tentando relaxar e esquecer esse problema, mas minha mente se encheu de memórias.

Flashback on'

O camarim do teatro em Milão estava tranquilo, era a nossa terceira premiere e mesmo com tudo que estava acontecendo na minha vida eu me sentia realizada pelo menos na parte profissional, estava perdida em pensamentos até que um ruído na porta quebrou o silêncio. Estranhei, pois ninguém costumava entrar sem bater. Levantei pra verificar, meu coração acelerou ao me deparar com um dos meus maiores pesadelos ali, diante de mim.

— O que você quer aqui? Você não pode simplesmente entrar assim! — protestei, tentando manter a compostura enquanto encarava Giuliano.

— Este teatro é meu. Posso ficar onde quiser — Giuliano entrou sem cerimônia, seu olhar ainda me causava arrepios.

— Sai daqui, Giuliano. Você não tem o direito de entrar sem permissão —  implorei, sentindo a raiva pulsar dentro de mim.

Ele ignorou meu pedido, se aproximando  de mim com um sorriso sarcástico, eu dei passos atrás sentindo o medo tomar conta até sentir minhas costas baterem contra a parede.

— Ah, mas que linda você está grávida — ele  comentou apoiando a mão na parede me prendendo ali e desrespeitando ainda mais meus limites.

— Isso não é da sua conta. Sai! — gritei, tentando controlar o tremor em minha voz.

— Tudo que você tem, todo o seu sucesso, é graças a mim. Você precisa entender que nunca vai se livrar de mim — ele afirmou, sua voz carregada de ameaça.

Com um último olhar de desdém, Giuliano saiu do camarim, me deixando sozinha e abalada. Senti como se estivesse encurralada, com o peso de suas palavras me esmagando. Lentamente, desabei no sofá, as lágrimas queimando minhas bochechas enquanto o medo e a incerteza tomavam conta de mim.

Flashback off'

As lágrimas queimavam meus olhos novamente com essa lembrança, eu tentei focar na imagem do sorriso da Maya, da Martina e do Lucca e espantar esses pensamentos. Desliguei o chuveiro e me enrolei no roupão voltando para o quarto.