• Você é tão covarde

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Eu entrava em lugares em chamas, saltava de prédios, descia montanhas, mas nada no mundo poderia me preparar para esse momento. O lugar estava tomado pelo silêncio perturbador, e o som dos nossos passos ecoava no ar, acompanhado pelo meu coração batendo acelerado. Meu corpo estava tenso, e minha mente fervilhava com o desespero pra encontrar minha filha.

Nos abaixamos para observar a casa por uma fresta.

— Pelo tamanho e a quantidade de janelas, não deve ter mais que três cômodos — observei olhando para o segurança, Tommy

— Tem esses dois homens aqui do lado de fora, pela quantidade de carros não deve ter mais de quatro pessoas lá dentro — ele disse me olhando e eu engoli seco.

Ficamos ali, naquela tocaia, por longos minutos, até que ouvimos o som das sirenes se aproximando, e eu olhei pra ele em pavor.

— Droga, droga droga! — ele xingou — Eu disse pra eles virem sem sirene, isso vai acabar com o fator surpresa.

O som das sirenes se tornava cada vez mais alto, indicando a chegada de vários carros de polícia. Um terceiro homem saiu da casa e trocou algumas palavras com os outros dois, que também estavam armados.

Um instinto selvagem tomou conta de mim naquele momento. Os seguranças olhavam de um lado para o outro, indecisos sobre o que fazer a seguir. O terreno estava favorável a distância até a parte de trás da casa não era grande, e eu poderia chegar lá sem eles verem  se fosse rápida o suficiente, mas não era atoa que eu fui campeã olímpica. Sem pensar duas vezes, me levantei e corri em disparada em direção à parte de trás da casa, deixando Tommy para trás.

Minha respiração era sufocante enquanto eu me movia rapidamente, encostada na parede da casa, com a arma firmemente segura em minha mão trêmula. Uma grande janela aberta surgiu à minha frente, e eu me inclinei devagar para olhar para dentro. O quarto parecia vazio à primeira vista, exceto por um colchão no chão... Onde Martina estava deitada.

Pulei para dentro do quarto indo diretamente até o colchão no chão vendo a minha bebê com os seus olhos azuis olhando para o teto num total silêncio. Me aproximei dela lentamente, tomando cuidado para não a assustar e peguei ela no colo, sentindo seu calor e sua respiração suave contra meu peito. Uma onda de alívio e gratidão me inundou ao constatar que ela estava bem.

— Graças a Deus você está bem, meu amor. mamãe está aqui, perdoa sua mamãe por favor — abracei ela com força.

Martina permanecia quieta, olhando para mim com curiosidade infantil, como se compreendesse a gravidade da situação. Antes que pudesse aproveitar por completo aquele momento de reencontro, fui abruptamente interrompida pela entrada súbita de Giuliano no quarto, uma arma apontada diretamente para mim.

—  Ah, então aqui está você. Eu sabia que teria coragem de aparecer. Coisa que sua esposa, Carina, não teve. — ele disse com um sorriso irônico.

—  Não fale dela, você não tem esse direito. — falei apontando a arma pra ele também..

— Você é corajosa, Maya, mas apontar uma arma é uma coisa, puxar o gatilho é outra. Você não tem isso em você. — ele disse olhando nos meus olhos.

—  Você não entende, eu sou mãe e farei qualquer coisa para proteger minha filha, pra proteger a minha família.

— Então atira — ele falou — Eu estou aqui na sua frente, mas lembre-se, Maya, você terá que viver com isso pelo resto da sua vida.

Apertei Martina contra meu peito, sentindo uma mistura de medo e determinação. Eu não podia permitir que ele a machucasse.

— Você precisa se render, Giuliano, a casa está cercada, não tem saída para você.

—  Eu não passarei o resto dos meus dias na prisão, só saio daqui morto — ele falou e eu pude sentir que ele também estava com medo.

— Você é tão covarde — falei olhando pra ele com raiva — Eu tenho nojo de você.

— A Carina não costumava ter nojo de mim, ela inclusive gemia meu nome sem parar

Eu quis vomitar ao ouvi ele falar aquilo, eu meu dedo foi diretamente para o gatilho, eu estava tão firme.

— Você não tem mais balas — eu falei percebendo o suor escorrendo pela testa dele — Por isso você está tão nervoso.

— Você não sabe o que fala — ele disse.

— Eu sei exatamente — disse dando um passo na direção dele vendo ele engolir seco — Você tá tentando ganhar tempo aqui comigo, você perdeu tudo! Se quisesse atirar já tinha atirado.

— Não se aproxima de mim — ele falou andando para trás encostando na parede.

— Ou o que? — falei chegando bem perto.

— Me matar não vai adiantar nada Maya — ele praticamente cuspiu — A sua esposa que você tanto amava vai continuar suja e arruinada, ainda vai ter pesadelos de todas as vezes que ela me pedia pra parar e eu não ouvia.

A mãozinha da Martina no meu peito me trouxe a realidade segundos antes de eu apertar o gatilho,  Giuliano mantinha os olhos fechados esperando o impacto, o que não mudou após eu bater com a traseira da arma na sua testa. Ele desmaiou instantaneamente, e eu senti minhas pernas falharem e encostei na parede escorregando devagar apertando Martina contra mim.

Nem o barulho da polícia invadindo o lugar conseguiu me tirar daquele estupor, eu senti mais firmes nos meus ombros e levantei a cabeça dando de cara com o chefe da segurança, ele me levantou e tentou pegar a Martina do meu colo, mas eu apertei mais ela contra mim e ele apenas me segurou me levando até a saída.

Eles falavam comigo e eu não conseguia ouvir, não podia focar em nada a única coisa que me tirou dali foi o grito da Carina e em seguida seus braços ao meu redor.

— Obrigada meu Deus, obrigada, obrigada — ela chorava de soluçar — Ela tá bem? Você tá bem? Vocês estão machucadas??

Ela tentou tirar Martina do meu colo mas eu não podia deixar.

— Eu não consigo — sussurrei — Não consigo soltar ela, mas ela tá bem! Eu salvei a nossa filha, a nossa filha tá bem

— Você salvou a nossa família meu amor — ela chorava ainda me abraçando novamente.

Safe Place II - Marina Onde histórias criam vida. Descubra agora